Barroco Pernambucano (2)

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Foto: Leo Caldas – Azulejos da Igreja de Santo Antônio, Recife/PE

Até a chegada dos holandeses, destacava-se a arquitetura colonial portuguesa, repleta de igrejas. Os portugueses se identificaram com Olinda, por lembrar a elevação de Lisboa. Opostamente, os holandeses gostaram da “terra-baixa” e menosprezaram as construções feitas pelos portugueses.

Os holandeses lançaram a seguinte fórmula para perpetuar as diferenças estilísticas na arquitetura: não permitiram que os moradores de Olinda desmontassem suas casas para aproveitar o material em novas construções em Recife. Assim, quem fosse pego desmontando ou roubando uma telha ou tijolo sem a devida permissão era punido.

Por motivos econômicos, durante o governo holandês, Olinda não progrediu. Impossibilitada de concorrer com a cidade de Recife, ficou estagnada até quase o final do séc. XIX. Em decorrência disso, na década de 60 do séc. XIX, em Olinda ainda existiam muitos espaços urbanos sem construções.

Mesmo após a retomada dos portugueses, enquanto Recife usufruía das mudanças revolucionárias feitas pelos holandeses na malha viária, nas construções civis e no surgimento de pontes, Olinda sofria ainda as consequências do incêndio de 1630. Até mesmo o clero se mantinha fiel ao patriarcado rural dispersado pelas casas-grandes e nunca mais voltara a fixar-se em Olinda como antes. Com relação a esse despovoamento, um governador da capitania escreveu, em 1708: “Não há mais que ventos e conventos”.

Para entendermos melhor o motivo pelo qual levou Recife a ter mais igrejas do que Olinda, é preciso ponderar que além do marasmo político e econômico, os religiosos também contribuíram para decadência de Olinda. Frades foram atraídos pelo povoado burguês e pelo dinheiro que possuíam. Recebiam paramentos mais ricos e alfaias mais luxuosas para suas igrejas.

Um exemplo significativo foi o deslocamento gradual dos carmelitas para Recife, em 1667. No entanto, em 1672, a Câmara acusou-os de procederem desse modo “só a fim de arruinarem e despovoarem o convento” de Olinda, que era o mais antigo e suntuoso. O Conselho Ultramarino chegou a manter o embargo da câmara, proibindo que o novo convento dos carmelitas em Recife fosse construído antes de restaurado e reutilizado o da vila (Olinda).

Devemos considerar o protestantismo dos holandeses – o qual os denota a contundente iconoclastia. Por esse motivo, a permanência dos holandeses não propiciou a estética religiosa católica do Barroco; ao contrário, foram responsáveis por saques e abates das igrejas.

Segundo o historiador da arte, Germain Bazin, a maior florescência monumental no Brasil é do séc. XVIII. Para ele, “A vastidão do território, o isolamento das províncias, separadas por distâncias enormes, favorecem o desenvolvimento das Escolas regionais. Uma das mais originais é a de Pernambuco: mais original talvez, do que a da Bahia, que obedeceu com bastante docilidade às solicitações da Metrópole. Com o seu satélite, Olinda e a província próxima da Paraíba, Recife apresenta um conjunto de importância capital para a compreensão da arte brasileira dessa época tão afortunada”.

São Pedro dos Clérigos é uma igreja emblemática do barroco pernambucano. Está dentro do perfil arquitetural dessa região, isto é, as dimensões grandiloquentes. Trata-se de um edifício monumental e primoroso. De acordo com Bazin não há equivalente em Portugal, o que comprova que o Brasil era “já bastante emancipado para tornar-se um campo de experiências novas e originais”.

O Nordeste no séc. XVIII foi profícuo em experimentar as possibilidades estruturais-espaciais da arquitetura franciscana. Formulavam-se plantas e formas sem correlação com as de Portugal.

É na segunda metade do século XVIII que Recife revela uma tendência à exuberância barroca. Os ares de magnitude são verificáveis nos frontões colossais seguindo formas sinuosas, acima de frontispícios, dispostos entre torres altas arrematadas por altos pináculos. Para Bazin, igrejas emblemáticas desse período são a do Carmo (1767) e a de Santo Antônio (construída entre 1753-1756). Essa última, segundo ele, “apesar de mais simples, é uma das expressões mais típicas desta grande eloquência barroca, própria ao Recife e que a arte de Portugal não apresenta com a mesma intensidade”.

*Publicado no Jornal do Commercio em 27 de maio de 2003.

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