Pablo Picasso

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Pablo Picasso – O Beijo, 1969

Era um desejo do pintor Pablo Picasso que Málaga (Espanha), sua cidade natal, abrigasse um museu com sua obra. E recentemente (no dia 27 de outubro), após 30 anos de sua morte (em 1973), inaugurou-se o Museu Picasso de Málaga. A importância de tal espaço reflete-se na solenidade de sua inauguração, com a presença do rei da Espanha Juan Carlos. Trata-se de um museu feito com o carinho e toque familiar. O acervo foi formado a partir de doações do neto do artista, Bernard, e da nora Christine Ruiz-Picasso. A coleção permanente conta com cerca de 204 trabalhos (desenhos, esculturas e pinturas). Há também uma mostra temporária com 43 peças.O museu tem como sede um edifício do século XVI, chamado Palácio de Buenavista, onde moravam os Condes de Buenavista.

Com relação aos museus, Picasso os refutava porque “acrescentamos aos quadros dos museus todas nossa estupidez, enganos e pobreza de espírito, no lugar de tratar de procurar a vida interior que existira nos homens que os pintaram”. No entanto, longe dos contemporâneos museus-espetáculos, o Museu Picasso é distinto. Sua concepção representa a antítese disso. Pois, foi proposto de maneira mais intimista, desde a exposição de obras doadas pelos parentes do artista (estima-se que seja uma coleção no valor de US$ 206 milhões) até a estrutura do museu. Esta trabalhada para seguir o princípio de simplicidade de Picasso em expor seus trabalhos artísticos.

Assim, o Palácio de Buenavista passou pelo projeto do arquiteto americano Richard Gluckman. Nas edificações do palácio foi descoberto um sítio arqueológico (data do século VI antes de Cristo) que fora conservado e pode ser apreciado juntamente com as 12 salas projetadas. Nesses espaços, a intimidade se faz de novo presente pela construção da curadoria que alinhava os espaços com um fio temático e artístico – nem sempre facilmente contemplado nos grandes museus –, pois nos revela o aspecto mais pessoal, familiar, da produção de Picasso. Assim como as obras marcantes da trajetória do artista, porém raramente compartilhas com o público.

A partir desta perspectiva familiar, o museu elaborou a apresentação do acervo através de um percurso singular. Nas primeiras duas salas, destacam-se retratos de amigos (até da adolescência), e de familiares. Entre eles, há aquelas obras que quase nunca foram expostas, como Paul con juguete (1923); além de retratos da fase azul. De forma que se apresentam em cadeia os períodos cubista, clássico, surrealista, da fase sombria da guerra civil espanhola e das temáticas sensuais. Já as últimas salas compreendem a profusão das cores de um Picasso já completamente absorto em sua maestria.

Por tudo isso, e sobretudo, por ser um museu que permite o olhar sob um acervo herdado de um dos maiores mestres da pintura, o Museu Picasso de Málaga – juntamente com os de Barcelona e de Paris – amplia a possibilidade do público em contemplar mais uma parte do legado extraordinário deixado por este artista. Em Málaga, próximo ao Museu, se encontra a Fundação Picasso, na casa onde o artista nasceu. Portanto, Málaga possui mais um motivo para visitá-la. É um indiscutível grande destino para quem prima pela experiência artística. Ou para aqueles que apreciam entorpecidas emoções estéticas. Afinal, dizia Picasso: “não quero que meus quadros produzam outra coisa que não seja emoções”.

*Publicado no Jornal do Commercio em 21 de novembro de 2003.

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