Renato Rocha Miranda

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[ QUEM ] Renato Rocha Miranda.

[ ONDE ] Rio de Janeiro, 36 anos. 

[ PORQUE ] Renato deixou para trás a profissão de engenheiro civil e se tornou fotógrafo. Ao invés de construir prédios, está “construindo” belas fotos e uma carreira sólida. Renato é um dos fotógrafos da Rede Globo que, sempre a postos, está lá para registrar o still de novelas, minisséries e tudo que a Rede Globo necessite para divulgação com a imprensa. Porém, o desafio diário é captar algo diferente dentro desse “ambiente pronto”: objeto e luz. Mas, mesmo com pouco tempo de profissão, este ex-engenheiro se destaca em um tipo de fotografia que poderia ficar na mesmice. A foto da menininha Carolina Oliveira da minissérie “Mad Maria” é um bom exemplo (ver abaixo).

“Fotógrafo profissional há oito anos, atualmente trabalhando para a Rede Globo de Televisão como fotógrafo still das produções da empresa. Desde 2001 venho fotografando tudo o que a Globo produz, mas alguns programas merecem destaque: No Limite 3, Big Brother 1, 2, 3, 4, Mad Maria, Hoje é dia de Maria 2, A Pedra do Reino. Solteiro e com uma filha linda, considerada a melhor foto que eu já fiz, curiosamente que sem luz alguma…”

Flickr: http://www.flickr.com/photos/800asas

Abaixo, algumas fotos e a entrevista.

 

Atriz Carolina Oliveira | Gravações de “Hoje é dia de Maria” | 2005 

Gravações da minissérie “Mad Maria” | 2004

 

Ator Ailton Graça | Retrato para divulgação do personagem “Barão” da novela “Sete Pecados” | 2007 

 

Atriz Mayana Neiva | Gravações de “A Pedra do Reino” | 2006 

Ator Tarcício Meira |Gravações da novela “Duas Caras” | 2007

Como fotógrafo de still de TV, a idéia é de um fotógrafo meio “engessado”. As suas fotografias mostram o contrário. Qual o caminho para uma produção original dentro desse universo?

A percepção não está errada, é “engessado” mesmo. Não tenho todo o tempo disponível para fotografar, dependo de brechas curtíssimas entre as gravações e há a necessidade de divulgar as imagens em todo tipo de veículo, não tenho como fazer uma foto mais “livre” porque isso dificulta a divulgação, tenho que pensar nas sombras, na impressão do papel de jornal e nos diversos veículos que atendemos. O “gesso” vem da necessidade de fazer, em uma seqüência de cliques, um tipo de foto que encaixe nas mais diferenciadas linhas editorias dos jornais e revistas, isso limita um pouco a criatividade, mas com o tempo você consegue perceber quando uma situação vai render mais do que o esperado e aí “larga o dedo” e aproveita para clicar para um cliente especial: o próprio fotógrafo. É um trabalho de garimpeiro, eu constantemente tenho que me lembrar que não estou fotografando para mim, mas para diversos veículos e devo respeitar a forma com que encaram a fotografia. Claro que depois de sete anos na mesma empresa as pessoas te olham de forma diferente e passam a ter mais confiança no seu trabalho, a abordagem fica mais fácil. 

Você tem feito muitos projetos especiais na Rede Globo. “Hoje é dia de Maria”, “A Pedra do Reino” e “Mad Maria”. A instigação é a mesma com gravações menores, do dia-a-dia e dentro do estúdio?
 
Sim, é um trabalho sempre instigante. Por mais que haja uma rotina básica no ritmo das gravações, sempre há um detalhe interessante, uma luz diferente, algo inusitado acontecendo. Na verdade trabalho em um mundo bem perto do ideal para qualquer fotógrafo: milhares de refletores, cenários montados, maquiagem, figurino e gente bonita por toda a parte, é difícil não se deixar levar por esse universo, sempre dá para extrair algo bonito. Nossa maior reclamação é a falta de tempo para aproveitar o máximo dessas situações, quando posso me dedicar a apenas um projeto, tudo fica mais fácil, dá para se programar com calma e curtir as possibilidades. 
 
Você ficou algumas semanas em Taperoá (sertão da Paraíba) na produção de “A Pedra do Reino”. Como foi esse “mergulho” dentro do universo de Ariano Suassuna e do próprio diretor Luiz Fernando Carvalho?
Foi impressionante. Passei três meses em Taperoá acompanhando os ensaios e as filmagens. Pude ver cada personagem nascendo, quando saia do galpão de ensaio eu estava dentro das páginas da “Pedra do Reino” e com o próprio autor ao meu lado, explicando algumas passagens do romance e características de cada personagem. Isso me deu uma percepção diferente da que teria se estivesse em casa, no Rio de Janeiro, lendo o livro. O diretor Luiz Fernando me pediu que ficasse ao seu lado, sempre respeitando a iluminação e o eixo da câmera. Foi o único pedido que me fez. Era um processo silencioso, mas tudo o que a câmera filmava eu podia fotografar e através das imagens ia entendendo o que ele queria. 
Posso te afirmar que essa experiência de três meses no Cariri Paraibano foi mais importante do que qualquer outra na minha vida de fotógrafo. Aprendi muito e deixei alguns fantasmas meus enterrados por lá. Cheguei inseguro, sem saber se iria dar conta do recado, quando percebi, não queria mais voltar. Taperoá estará sempre na minha mente…

Como é a rotina fotografando um grande projeto como esse? A edição é uma etapa difícil?  

Foi difícil porque não havia feito nada parecido até então, não tinha a menor idéia de qual “rosto” o projeto teria e sabia de antemão que um livro de fotos era esperado. De certa forma, isso foi uma motivação a mais, “vamos ver onde isso vai dar…” O grande trunfo estava no tempo que dispunha. Diariamente o diretor Luis Fernando via as fotos e corrigia qualquer desvio de rota. Essa orientação constante me deixou mais preciso na hora dos cliques e me poupou tempo para as imagens que eu fazia fora do projeto. Muitas vezes eu tinha que fotografar além do que estava sendo feito, já que sempre me pediam imagens para ilustrar matérias sobre a cidade, sua gente e a natureza do local. Basicamente, eu acordava e ia dormir fotografando tudo, a câmera não descansou um minuto.

A edição é uma etapa dolorosa para mim. Eu sou apaixonado pelo que faço e acho difícil descartar uma imagem, são como filhas pequenas que precisam de sua atenção constante. Na “Pedra do Reino” o número de imagens editadas passou dos 30 mil, eu iria enlouquecer se tivesse que escolher apenas algumas, deixei que outras pessoas fizessem as edições, com o distanciamento que eu não tinha.

O seu Flickr mostra uma acuidade no tratamento com a luz (principalmente, nos retratos). Muita luz ambiente, natural… Isso vem da rotina na TV?

Não, isso vem da minha insegurança. Eu me considero um fotógrafo novato, tenho apenas oito anos de profissão e sei que tenho um longo caminho pela frente. As fotos que faço são divulgadas em todo tipo de publicação, elas são meu cartão de visita, me esforço para que percebam que, pelo menos, há paixão no que eu faço. Não posso estar ao lado de quem vê as imagens explicando as dificuldades e intenções de cada clique. Lógico que aproveito a iluminação dos cenários e sempre conto com a ajuda dos iluminadores, mas o ritmo é muito rápido, muitas vezes eles não podem parar e me ajudar na iluminação da foto, então tento fazer o máximo possível com o pouco que carrego. A única coisa que posso controlar no meu trabalho é a luz, então, me concentro nela.

Obrigado pela “acuidade”, para um ex-engenheiro, é um senhor elogio!

A sua história antes de virar fotógrafo é bem peculiar. Como aconteceu a fotografia na sua vida? Trocar de profissão é só buscar felicidade e realização ou exige coragem?

Eu acho que buscar a felicidade exige coragem. Conheço muitos infelizes que vivem confortavelmente, cercados por uma pretensa segurança. Meu maior medo quando ainda pensava em trocar de área era envelhecer e não ter mais tempo para aproveitar a profissão. Como engenheiro eu trabalhava menos, ganhava mais, mas era infinitamente mais infeliz do que agora, como fotógrafo. Basta uma única foto boa e meu dia já está ganho, essa sensação é impossível de quantificar e só quem sente isso sabe o quanto é importante.

Eu passei a gostar de fotografia ainda pequeno, graças a uma enciclopédia da Time-Life que ganhei de presente do meu pai. Nem imaginava que a profissão de fotógrafo existia, mas sabia que iria gostar de estar nos locais retratos naqueles fascículos. Na adolescência eu comprei uma câmera e usava a automação como uma muleta, quando alguma coisa boa aparecia, eu não sabia explicar muito menos repetir.

Tinha me decidido pela engenharia pelas razões óbvias: grana e melhores possibilidades de emprego, mas me esqueci (ou não sabia) que só quem tem paixão pelo seu ofício tem maiores chances de se destacar no mercado de trabalho. Eu achava um saco o trabalho que fazia nas obras e pensei que na Engenharia eu teria chances de aprender a “ver diferente”, a enxergar além do óbvio, como os grandes nomes que eu admirava: Galileu, Newton, Einstein. Na faculdade essa vontade era sufocada e passei a comprar revistas e tentar entender mais um pouco sobre fotografia. Nessa época um livro fez uma diferença tremenda: “Sobre a Brevidade da Vida”, de Sêneca. Foi uma tijolada na minha cabeça, fiquei meio perturbado durante um tempo com o que estava escrito e logo depois decidi me inscrever em um curso básico de foto. Fiz vários e no último deles eu participei de uma expedição fotográfica na Índia e no Nepal. Se me faltavam razões para mudar de emprego, lá eu encontrei todas e ainda pude ver uma fotografia menos romântica, de ter que trabalhar a situação para conseguir uma boa foto.

O curioso é que em Taperoá pude perceber o quanto de engenheiro ainda há dentro de mim, por isso dei o nome de Geometria Visual ao grupo de fotos no Flickr. Eu olhava e sempre enxergava formas geométricas, tentava separar o que via e entender como cada coisa no quadro influenciava outra. No início, eu renegava esse passado de engenheiro, hoje entendo que ele pode fazer muito por mim, mas não me arrependo nem por um segundo de ter feito a troca, aconselho a todos (risos).

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