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Fotos: Jork Weisman | Reprodução autorizada – páginas da revista Yo Donna

O efeito Annie Leibovitz

Toni Pires – Madri

Como já comentei neste espaço, a exposição mais esperada e mais comentada do PHE09 é a de Annie Leibovitz: “Vida de una fotografa 1990-2005” ou no original “A photographer’s Life”. Que abre no dia 18 de junho na sala Alcalá.

Bom, é uma mega produção, organizada pela Comunidade de Madrid, produzida pelo Museu do Brooklyn e com curadoria de Charlotta Kotik. Organizadores, fotógrafos e imprensa falam quase que diariamente sobre a exposição. Eu queria escrever sobre o assunto, mas achava que tudo já havia sido contado, que ela é a fotografa mais influente do nosso tempo, que ela revolucionou o conceito de retrato na mídia, que sua carreira disparou depois de ter fotografado John Lennon e Yoko Ono, horas antes do rapaz ser assassinado. Bem… Tudo isso me parecia muito estranho comentar ainda mais utilizando um espaço como o Olha, vê, que é “frequentado” pela “nata” da fotografia brasileira, que consequentemente já está careca de saber destas coisas.

Pois bem, passei mais de uma semana tentando conversar com o repórter Nicanor Cardeñosa e o fotógrafo Jork Weisman, ambos do jornal El Mundo de Madri. Ambos fizeram um trabalho primoroso em uma entrevista exclusiva para a revista dominical do jornal, a Yo Dona. A entrevista é ótima, a edição de fotos de Annie é muito inteligente e as fotos de Jork são instigantes. Annie começa a falar e diz que ao “quando vejo minhas fotos me sinto exposta, desnuda” e ainda tem a coragem de dizer que não sabe se faria novamente.

Nicanor tem uma maneira toda especial e elegante de chegar aos pontos mais delicados, “tengo una pregunta que no es fácil. Se han publicado informaciones sobre su problemas financeiros…”. Annie responde com firmeza, mas ao mesmo tempo com ternura, conta Nicanor em um rápido almoço que tivemos. Ela respira fundo e diz: “Prefiro não comentar esse tema…Tudo vai indo bem….digo apenas que confiei demais em pessoas, hoje eu cuido de tudo….”

Quando convidei Nicanor para um almoço disse que estava cobrindo o evento para um blog do Brasil, ele se interessou pela idéia de um blog ter alguém credenciado para uma cobertura deste porte, e embora adiantando que tinha pouco tempo, aceitou o convite. Ao me encontrar em uma mesa do restaurante escolhido por nós, soltou… “achei que fosse mais novo… afinal blog é coisa de garotos… e logo acrescentou, garotos inteligentes”. Rimos muito e logo eu disparei… “blog é coisa de gente inteligente e antenada com seu tempo, com vontade de informar, de contar, de participar e dividir, sem ter que passar pelo crivo do comercial…”. Ótimo, parece que nos entendemos bem logo de cara, foi gentil e alguns minutos depois de navegar pelo blog que eu estava apresentado, deu os parabéns ao Alexandre Belém, o mentor e administrador do blog Olha, vê. Desejou que em breve se firme também como “ponto comercial” e que as informações compartilhadas lhe sirvam de “sustento econômico”. Disse que esta etapa no Brasil ainda estava sendo construída, que os “grandes” blogs ainda estavam atrelados a grandes veículos de comunicação e passamos alguns minutos a discorrer sobre o assunto.

Pois bem… Voltamos a entrevista de Annie, ele disse que sempre acompanhou o trabalho dela e que leu bastante antes de ir para a entrevista, agora foi a minha vez de lhe dar os parabéns, repórter que se prepara para entrevista merece “palmas”… rsrsrsrs. Na visão do repórter, Annie também é uma escritora, apenas escolheu a luz para narrar suas crônicas, e em um comentário de Leibovitz, o faz ter certeza disso. “O corpo completo deste trabalho é o mais importante, que qualquer foto. Tenho claro que nunca vou deixar de tentar fazer uma crônica honesta do tempo que estou vivendo”.

Também deveria participar do almoço, o fotografo Jork Weisman, no entanto recebemos uma ligação e ao falar comigo me diz, “olha, desculpe, não sou Annie, mas também sou exigente com meu trabalho e estou em uma seção de fotos que não consegui arrancar do meu personagem o que eu quero, vou ficar mais tempo em busca desta alma”,  e solta uma forte risada. Digo apenas que gostaria então de saber como foi fotografar uma lenda da fotografia? Silêncio do outro lado da linha… Uma respiração mais forte e uma resposta clara…

“Sabe quando somos adolescentes e acreditamos saber de tudo, mas quando temos que encarar nosso pai para uma conversa séria, todas as certezas correm por terra? Pois bem… estava feliz e ansioso com o encontro, mas preferiria que ela não me visse fotografar, me sentiria melhor. Foi ai que arrisquei… ‘você, por favor poderia fechar os olhos’, ela fez um pequeno comentário e continuou a me olhar, achei que não fui convincente o bastante, mas resolvi esperar um melhor momento para insistir, quando de repente, vejo pelo meu visor uma jovem senhora de passagem com os olhos “cerrados” a mexer nos cabelos e sorrindo com sua alma para minha lente.”

“Foi um presente, e depois ainda veio o comentário dela, “poderia ficar assim por horas”. Sei que sempre tiro o que quero dos meus personagens, mas não acreditava que seria com tamanha suavidade que roubaria um pouco da alma de Leibovitz, apenas pensei “quero que este olhos continuem abertos por muito tempo, assim poderei ver um pouco mais do mundo através de seu olhar”. Comentou Jork.

Pediu desculpas e foi desligando o telefone, tinha mais uma alma para roubar. Logo em seguida o almoço também terminou, o repórter tinha mais um estudo antes de outra entrevista. Nos abraçamos, mais uma vez deu os parabéns pelo iniciativa da cobertura e saímos sorridentes. Ah… estava esquecendo… “podemos usar as fotos, vocês me mandam o arquivo em alta?” “Perdon… mas foi uma exclusiva… [um sorriso maroto e a resposta definitiva], meu editor disse que você pode reproduzir as fotos da revista, mas não podemos dar os arquivos. Afinal um blog é um veículo de comunicação, ou seja, nosso concorrente….” e despede-se mais uma vez.

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