Podia fotografar pensamento

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Fotos: Alexandre Belém

Recentemente, li os livros Ligeiramente fora de foco (Cosac Naify, 2010) e Um Diário Russo (Cosac Naify, 2010). Os dois, delícia de leitura.

Capa fotografava bem e escrevia melhor ainda. Da primeira página até a última linha é num fôlego só.

Ligeiramente fora de foco é uma autobiografia que traz um recorte bem importante da vida de Capa: a Segunda Guerra. Todos os detalhes desses poucos e intensos anos são contados em detalhes que você pode anotar quantos drinques Capa tomou. O mais legal é saber da sua modéstia, como não se achava uma estrela e, em nenhum momento do livro, ele se vangloria ou enaltece o seu feito como fotógrafo. Também, achei curioso a sua insegurança com o trabalho. Na realidade, ele era bem crítico e pé no chão. A firula vinha na hora de falar das noitadas, dos drinks, da boa vida.

No final do livro, numa breve apresentação sobre Capa, uma frase de John Steinbeck publicada após a morte do fotógrafo já abre as portas para o próximo livro: “Ele podia ter amigos mais próximos, mas nenhum que o amasse mais do que eu. Ele tinha prazer em parecer displicente, descuidado com seu trabalho. Ele não era. Suas fotografias não são acidentais. A emoção que existe nelas não vinha do acaso. Ele podia fotografar movimento, alegria, desilusão. Podia fotografar pensamento. Ele captava um mundo, e era o mundo de Capa”.

Ernest Hemingway, que Capa considerava um pai, internado por causa de um acidente de carro. Ele tinha saído de uma cachaça no apartamento de Capa

Um Diário Russo é maravilhoso e Steinbeck tem um texto ótimo e envolvente. O livro é um diário-reportagem da viagem pela União Soviética em 1947 feita com Capa. Jornalismo de primeira.

As passagens que ele retrata a personalidade de Capa e suas características são ótimas. Reforça o que tinha achado no livro Ligeiramente…: sua insegurança e cacoetes de todo fotógrafo. Acho que Um Diário Russo mostra mais Capa na ativa, no dia a dia, do que o próprio Ligeiramente… Falo do cara mais real, sem a aura da Guerra, etc e tal.

Na página 204, tem uma parte engraçada: Uma queixa justificada. Nela, o livro vira um depoimento de Capa sobre Steinbeck (que passa todo o livro pontuando as manias do amigo). Ela começa assi:m “Não estou nada satisfeito”.

Absurdamente maravilhoso e uma ótima opção para os dias de Carnaval. Claro… Para que não curte a folia.

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