Paisagem que fenece

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Fotos: Garapa

Paisagem que fenece

Por Georgia Quintas

A cidade e seus ícones permeiam a paisagem através de tempos e transformações. O que antes era símbolo de prosperidade e expansão urbana se transforma em puro concreto, declínio, vestígio imponente, marcos decadentes, à mercê do esquecimento e do desaparecimento. Na região central de São Paulo, os edifícios São Vito e Mercúrio sumiram. Contudo, ainda estão vivos.

Em Morar, o Coletivo Garapa introduz a paisagem da memória desses monumentos abatidos. O registro estabelecido aqui é do campo processual de compreensão sobre o ser das pessoas em seus espaços, assim como sobre a urgência do deslocamento, de uma ruptura forçada e dolorosa com suas moradias. As imagens neste trabalho são como gavetas de um grande inventário no qual a pesquisa vem da convivência, da alteridade, da observação dinâmica de famílias e indivíduos que por ali passaram.

Nesse trabalho, o reverso é a premissa. Muito menos pela estética do que pela sua história e significado. Partículas de coisas são mais do que índices, viram preciosidades. Objetos pessoais passam do seu estado mundano a relíquias históricas em belos e mágicos daguerreótipos. Os retratos recolocam protagonistas numa agora árida narrativa. E a paisagem, em toda sua fragilidade, fenece com resistência etérea. Para o olhar, fica a procura; para  a memória, prevalece a tentativa de achar esse não-lugar, na verdade, o lugar da lembrança.

Na hibridez dos suportes, na conduta poética de aproximação e pela vivência nessas duas edificações, predomina não só a retórica imaginária desses lugares mas sobretudo o fluxo de sentido que as pessoas carregam consigo.

* Texto de apresentação do projeto Morar do Coletivo Garapa na exposição “O Espaço que Guardamos em Nós”, no MIS/SP entre 11/11 ~ 11/12/2011. Exposição coletiva de Pedro David e o Coletivo Garapa com curadoria de Isabel Amado.

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