Ver torna-se experiência

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Fotos: Ricardo Labastier

Ver torna-se experiência

 Por Georgia Quintas

No escuro, adensamos imagens dissolutas. Damos formas ao que nunca possuiu, esgarçamos possibilidades à mercê de encontrarmos um novo território; certa espacialidade que não determina certezas, mas que assegura imagens, rascunhos de sensações. Através dela, a escuridão, vemos mais pelo que perdemos em sua latência insinuada do que pelo que apreendemos em seus lapsos de luz. Nem sempre a definição na imagem vista revela o discurso mais claro. Tatear, balouçar pela forma. Deslocar-se pelo escuro permite trançar certo erotismo com volumes marcados pela cor.

O ato íntimo de entregar-se às imagens é suficientemente profundo assim como vermos a escuridão. O peso da imagem transitiva – aquela que nos faz passar por uma estrada sem fim – também sopra o ar denso da procura, do olhar de quem viu mais alguma coisa nas pessoas, em vidas desfiadas… À penumbra destas imagens, sentimos o lembrar de coisas imaginadas em cenas que não pertencem ao mundo tátil. Ao nascer da porosidade de um sentir no limbo da noite: ver torna-se experiência. Pela manhã, resta a dúvida do que foi, do que valeu a pena.

* Texto publicado na revista S/N edição 18 com tema “Estrada” com ensaio do fotógrafo Ricardo Labastier.

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