Um sincero deslumbramento

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Depoimento da curadora Rosely Nakagawa sobre o seu convívio com o fotógrafo Carlos Moreira. Aqui, perfil de Moreira escrito por Moracy Oliveira.

carlos-moreira-rosely-nakagawaFoto: Moracy Oliveira – Carlos Moreira e Rosely Nakagawa, dezembro de 2013

Falar do Carlos Moreira é falar do meu fascínio pela vida e pela fotografia.

Foi uma imagem dele que vi pela primeira vez, numa exposição na FAU/USP, a primeira experiência concreta de proximidade com uma imagem de um grande mestre.

Soube pela primeira vez que cinzas, pretos e brancos, com profundidade e composição impecáveis, fazem a essência da imagem.

A leveza da composição com o gesto do fotografado, a paisagem equilibrada, em perfeita harmonia, uma lição de emoção e sentido.

Foi o que me motivou a pensar um dia em conhecê-lo pessoalmente. Mas com que argumento? Uma simples estudante de arquitetura, procurando um professor da ECA para dizer que havia gostado das suas fotografias? Eu era tímida e jovem demais para fazer isso.

Quando em 1979 eu comecei a trabalhar na Galeria Fotoptica, pensei: Agora eu posso!

Fui, temendo ser apresentada a uma pessoa formal, numa relação apenas acadêmica.

Ao chegar, o clima do laboratório da ECA era de muita fraternidade entre alunos e professor. Um alívio, mistura de relaxamento e felicidade, me deixou à vontade para falar dos meus planos de exposição.

Foi assim que começamos o que chamo de, mais do que uma amizade, uma relação permeada pela fotografia, complementada por muitas conversas acerca de arte, reflexões aleatórias e especialmente da vida.

Depois de 35 anos, posso dizer que o Carlos é mais do um amigo, é uma referência e uma das pessoas mais generosas que conheci.

São inesquecíveis as tardes na Rua Bela Cintra editando fotografias que iam para a exposição, ou vendo um livro juntos, conversando bobagens, tomando um café.

Ainda a melhores momentos foram durante a experiência de sair para fotografar pelo centro, na praça da Sé ou em Santos perto do Porto, atravessando com a balsa até o Guarujá, ou subindo o Monteserrat.

Seu desprendimento me fez entender como ele se relaciona com o mundo. Com sua eterna alegria e descobertas, sua investigação incansável, inquietação e questionamentos.

Calma, tudo vai dar certo! Ouvi repetidas vezes em diversas situações. Ou ainda, diante de um trabalho simples: Que maravilha! Um sincero deslumbramento que surpreende sempre.

Ele consegue ver o melhor de tudo e em tudo. Isso faz do Carlos o jovem de 70 anos mais inteligente e brilhante que conheço.

 Rosely Nakagawa.

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