O tempo em camadas

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Fotos: Chico Barros

Fotógrafo: Eustáquio Neves

Curadoria: Georgia Quintas

Local: Capibaribe Centro da Imagem, Recife, fevereiro de 2016.

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O tempo em camadas

Georgia Quintas

Não há lugar determinado para se traçar a forma, tampouco há a firmeza de um chão batido para fincar ideias, questões profundas que regam as imagens. A inquietude da expressão artística é conduzida pela vastidão do experimento, do exercício em descobrir a construção da poesia da imagem. Coloquemos que a fotografia é o suporte, mas o processo que se extrai dela e as camadas infinitas que a adensam, não trata-se só de fato, realidade inventada, conspirada, fabulada, imaginada, rarefeita ou destemida. A imagem que se apresenta pela fotografia suscita o gesto vagaroso em criá-la, no sussurro quase seco quase molhado da aquarela, da máquina de escrever, do rabisco sutil a dizer um tanto de coisas, a sugerir um bocado de sentido.

A exposição O tempo em camadas revela a potência inerente ao trabalho do artista Eustáquio Neves, um dos mais relevantes da fotografia contemporânea. Sua trajetória sempre foi dedicada à pesquisa sobre as técnicas do fotossensível, às experimentações pela imagem fotográfica analógica. Através das filigranas que extrai da técnica, a obra de Eustáquio nos inunda com mares e veredas pelos temas que persegue.

Os trabalhos aqui reunidos fazem parte das séries Objetização do Corpo (1999), Máscara de Punição (2004) e Dead Horse (2008). Sintetizam, em parte, nuances processuais singulares do artista, as quais mimetizam técnica e propostas poéticas. Com base no lastro do tempo, as camadas na obra de Eutáquio Neves se acumulam e se mesclam na discussão sobre a diluição do corpo, identidade, preconceito, ruínas de ranços sociais e memórias da escravidão. O tempo em camadas traz ainda o trabalho inédito Dead Horse, realizado durante residência artística em Den Haag (Holanda), em 2008.

O processo de criação se faz presente, passado e futuro, em fluxo contínuo. As marcas estéticas e conceituais são como forças de geração para o devir desassossegado de outras novas imagens, irmãs na essência poética, distintas pela temporalidade e concepção de novos voos.

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