Fotografia: a ética, a paixão e o filho

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Fotos: Beto Figueiroa/Divulgação

Mesa “História da Fotografia Pernambucana”

Por Georgia Quintas.

Ontem, uma parte da história da fotografia pernambucana sentou-se à mesa. A palestra mediada pela também fotógrafa e pesquisadora Ana Farache, trouxe relatos sensíveis de Edmond Dansot, Gleide Selma e Daniel Berinson. Cada um colocou suas posturas poéticas e opções pela fotografia. Mais do que falar das fotografias que víamos projetadas por cada autor, eles mesmos desejam falar de como reconheciam o amor em suas trajetórias. Os depoimentos giraram em torno do ser fotógrafo e da importância da imagem fotográfica para a vida.

O fotógrafo francês Edmond Dansot, desde os anos 60 no Recife, admiravelmente falou de sua paixão em ser fotógrafo acima de tudo. Lembrou de seu início e disse que ainda jovem sem poder adquirir uma câmera teve bastante tempo em não fotografar. Esse mesmo tempo lhe deu “sensibilidade e observação”. O mestre Dansot, cujo acervo contabiliza “150 mil documentos classificados”, enfatizou a relevância em os próprios fotógrafos valorizarem e se orgulharem da profissão. Ao comentar sobre preconceito e a ausência de status nos anos 60, recordou que as pessoas assim consideravam: “Coitado, é fotógrafo”. A trajetória emblemática de Dansot nos certifica que o que vale é a seriedade e respeito que se tem com a profissão. “Nós todos temos que personalizar nossos trabalhos”. Assim como fez Dansot, sua força autoral faz com que quem possua suas fotografias tenha “status”.

Edmond Dansot

Gleide Selma, primeira fotógrafa de imprensa de Pernambuco, segundo Ana Farache, falou pouco. Mas, não precisaria se estender. Foi precisa em destacar o que lhe importa nesta relação com a fotografia. “Você é muito responsável pelo que está mostrando”, direta assim. Gleide acredita que a fotografia é “o exercício de exercitar o olhar”, redundante assim. Do mesmo modo também é redundante dizer que Gleide Selma, que juntamente com Daniel Berinson tiveram por 10 anos a Galeria Observatório nos anos 90 – marco de espaço expositivo com significativas mostras nacionais e internacionais – é absurdamente apaixonante. Pioneira em ser fotógrafa em redações de jornais, majoritariamente masculina, torna-se fácil entender porque ela desafiou aquela realidade do final da década de 70. Atualmente, Gleide pondera que fotografa menos e olha mais e que a fotografia nunca deixa de estar na pessoa.

Daniel Berinson que atuou na fotografia pernambucana a partir de 1987 e foi um dos fundadores da agência de fotografia Imago, de forma surpresa e modesta não entendeu porque fora convidado já que não se dedicava mais profissionalmente à fotografia. Quem conhece o trabalho de Berinson sabe que ele é especial e seu trabalho sempre em cor é inesquecível e profundo. Para ele, sua carreira na fotografia foi meteórica (12 anos) e que a partir de sua opção em dedicar-se a outras atividades guardou, bem guardada, a passagem da fotografia em sua vida. A afetividade e o sentido simbólico da fotografia foram transferidos para o seu estado pleno de paternidade. Não deixou de fotografar… Daniel nos emocionou ao narrar uma “viagem fotográfica” dele com seu filho no carro. Agora, não esqueceremos mais das imagens contadas deste que crê na fotografia pulsante.

Ana Farache, Daniel Berinson e Gleide Selma

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