Foto: David Hockney
O livro 8 X Fotografia ( Organização: Lorenzo Mammì e Lilia Moritz Schwarcz – Companhia das Letras, 2008) lançado recentemente pela Companhia das Letras é uma prova de que, ao contrário do que possa parecer, a imagem fotográfica não é em nada óbvia. Organizado por Lorenzo Mammì e Lilia Moritz Schwarcz, a publicação reúne oito textos de profissionais das mais diversas áreas que participaram durante dois meses de um ciclo de palestras no Centro Universitário Maria Antônia (USP). A proposta era que cada autor escolhesse uma fotografia e estabelecesse uma reflexão sobre ela. Entre as fotografias escolhidas estão grandes nomes da fotografia como Henri Cartier-Bresson, André Kertész, Walker Evans e Robert Frank.
O livro, apesar do tom cansativo por parte de alguns autores em teorizar suas opiniões e impressões, parte de uma idéia instigante: saber o que os outros pensam a partir de determinadas fotografias, como se estabelece a percepção, quais os símbolos e significados encontrados em fotografias, algumas já bastante conhecidas e outras inéditas para o nosso olhar. Assim, a inclinação do leitor será de reconhecer-se em alguns argumentos ou então ser introduzido a fotografias pela perspectiva do outro. E é nesta espécie de encruzilhada que se encontra a essência deste livro, ou seja, como as pessoas se relacionam com a fotografia.
O registro fotográfico vai além da analogia, do que aparenta ser. O fragmento do tempo, a memória, a sensação de realismo, a simbologia e, sobretudo, a subjetividade são questões relevantes para a compreensão do fazer fotográfico. A riqueza das fotografias, sejam artísticas ou documentais, transcende o próprio olhar. Na verdade, há textos que não se sustentam em seus discursos pretensamente elaborados, mas pouco coerentes. O que é um risco que se corre quando se trata de pessoas que não são diretamente ligadas ao estudo da imagem.
Apesar do tom cansativo – por parte de alguns autores em teorizar suas opiniões e impressões – é possível observar a amplitude desta discussão através de textos que se destacam. Como o do filósofo Antonio Cicero, que analisa as colagens fotográficas de David Hockney, por uma perspectiva que traz para o debate: tempo, tédio e autonomia da imagem. Já o belo e contundente texto do jornalista Eugênio Bucci nos emociona sobre a afetividade inerente aos tempos (presente e passado) da fotografia de família, do “doce retorno” à memória.
Outros olhares também se destacam pelo raciocínio lúcido e bem articulado, como é o caso do sociólogo José de Souza Martins que “pensa” sobre uma fotografia de Sebastião Salgado e a decompõe em toda sua problemática social. Já o fotógrafo Cristiano Mascaro, de forma breve e simples escreve um dos melhores relatos de um fotógrafo sobre outro. Mascaro faz contida, mas tocante deferência a um dos maiores nomes da fotografia, Robert Frank.
Justamente, no texto de Mascaro, Frank não autoriza a publicação da foto escolhida. Por sua vez, o autor coloca fotografia de sua autoria inspirada no trabalho de Frank. Nesse sentido, a troca feita por necessidade atesta que a imagem é também a força do imaginário na criação e recepção de cada um de nós. Ou como bem disse Cristiano Mascaro, sobre seu respeito a imagens simples e potentes, elas são “capazes de desconstruir e reconstruir o mundo”. E pensar este processo, seja de que forma for, é válido para a construção do pensamento fotográfico.
* Resenha do livro 8 X Fotografia publicada no Jornal do Commercio em 12 de julho.
Página do jornal em PDF com algumas imagens: 8-x-fotografia