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Hoje, no Jornal do Commercio (Recife), saiu uma resenha que escrevi sobre os resultados do World Press Photo. Abaixo, coloco o texto e o PDF da página.

PDF: wpp-2009

Resultado do 57º World Press Photo

Alexandre Belém

Da Editoria de Fotografia

Na última sexta-feira, foi divulgado o resultado do mais importante e conceituado concurso de fotografia do mundo, o World Press Photo. Sempre fazendo um panorama do que foi feito de melhor no fotojornalismo mundial, o World Press é conhecido pela dureza de suas fotos e pelas belas e densas reportagens. Fazendo um comparativo com 2008, esta 57ª edição está mais branda. Nem por isso, deixa de ser um retrato sombrio da sociedade contemporânea.

Com um ano repleto de conflitos, a Foto do Ano é de uma “crise” e causa certa estranheza num primeiro momento. Tradicionalmente, o World Press escolhe a melhor imagem dentro dos trabalhos que foram selecionados nas 10 categorias do concurso. Este ano, o grande vencedor foi o fotógrafo norte-americano Anthony Suau com uma foto de um policial entrando em uma residência vazia nos Estados Unidos. A família foi despejada por falta de pagamento das hipotecas e o procedimento da policia é checar se o imóvel está “limpo”, sem armas. A foto é bem fraca e, para quem acompanha o prêmio há tempos, fica a surpresa. Dezenas de imagens vencedoras, das diversas categorias, poderiam ter sido a Foto do Ano. Porém, a comissão julgadora optou por uma escolha mais filosófica e política. Quem resumiu melhor foi o jurado sueco Ayperi Ecer, que é diretor da agência Reuters. “2008 foi o ano do fim do sistema economicamente dominante. Nós precisamos de uma nova linguagem, para aprender como ilustrar as nossas vidas”, cravou Ecer.

Fatos marcantes de 2008 estão presentes no concurso. O terremoto na China, a invasão da Geórgia pela Rússia, o conflito na Palestina, os atentados na Índia, os protestos de estudantes em Atenas, a campanha de Barack Obama, etc. Uma reportagem chocante foi feita pelo fotógrafo argentino Walter Estrada. Ele é da agência France Presse e cobriu os resultados das eleições no Quênia. Como sempre, as categorias Esportes, Natureza e Arte servem para retomar o fôlego. Não foi surpresa, as Olimpíadas de Pequim dominaram as premiações esportivas. Porém, ficou repetitivo na categoria Portfólio de Esportes, onde dois ensaios vencedores são sobre expressões de atletas na prova do salto ornamental.

Um ponto fraco desse ano são ensaios que remetem as outras edições, deixando uma sensação de déjà vu. O fotógrafo Howard Schatz mostra boxeadores antes e depois das lutas. Fotografias muito semelhantes com jogadores de futebol e corredores já foram realizadas e premiadas. Outra temática corriqueira é a documentação de tipos sociais em suas casas. De qualquer forma, vale ressaltar dois trabalhos muito interessantes. O primeiro é sobre crianças albinas na Tanzânia, a reportagem foi feita pelo fotógrafo sueco Johan Bävman. Outra reportagem muito bem realizada é do fotógrafo espanhol Pep Bonet que documentou prostitutas transexuais em Honduras.

A 57ª edição do World Press Photo recebeu 96 mil fotografias de 5.500 fotógrafos e 124 países foram representados. Apenas 63 fotógrafos saíram vencedores. Essa edição foi uma das que o Brasil melhor foi representado. Três fotógrafos ganharam em categorias diferentes. Luiz Vasconcelos, do jornal amazonense A Crítica, ficou em primeiro lugar na categoria Notícias. A foto de Luiz é uma das mais chocantes do ano de 2008. A imagem foi eleita como uma das melhores em várias edições de Fotos do Ano (tradicionais concursos feitos por jornais e sites dos Estados Unidos) e retrata uma desocupação de terra pela PM do Amazonas. A cena mostra uma mãe índia com o filho nos braços sendo empurrada por um batalhão onde só se veem os escudos e um cassetete. Luiz foi finalista do Prêmio Esso com a mesma foto. Eraldo Peres, correspondente da Associated Press no Brasil, recebeu menção honrosa na categoria Cotidiano com uma fotografia realizada no Recife onde mostra a rotina banal de assassinatos em bairros pobres. E o fotógrafo André Vieira, garantiu o terceiro lugar na Categoria Artes e Espetáculos.

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  1. Caro Alexandre,

    venho aqui palpitar mais um pouco. Não concordo quando você diz…

    “A foto é bem fraca e, para quem acompanha o prêmio há tempos, fica a surpresa. Dezenas de imagens vencedoras, das diversas categorias, poderiam ter sido a Foto do Ano”.

    A foto de Suau não é nada fraca, pelo contrário, ela é bem forte. Não quero entrar na discussão se ela deveria ou não ser a foto do ano.

    Quero ir um pouco mais à frente num aspecto que me parece mais pertinente. Gosto muito do fato do WP abrir espaço e valorizar uma foto que não é necessariammente “hard news”. Concordo com você que a decisão foi política. Ótimo!

    O WP abriu espaço para uma foto que veio de um ensaio jornalístico. E acredito que o grande mérito de Suau foi enxergar “uma realidade” antes de todo mundo. A própria Time na edição impressa usou as fotos de Suau com outro enfoque, num plano mais geral a revista publicou uma matéria sobre os 5 grandes problemas da economia americana em maio de 2008. Enquanto a Time estava sobrevoando, Suau estava em terra tentando contar o drama de pessoas de carne e osso. Esse é o diferencial que faz de Anthony Suau um jornalista completo e claro, ele é um grande contador de histórias.

    E sobre quem fez primeiro, nós sabemos como funciona o jornalismo. Muitas vezes as histórias já estão impressas há algum tempo e alguém descobre uma maneira mais interessante de contar essa mesma história. Desconfio que foi o aconteceu com o Plain Dealer de Cleveland e o fotógrafo Gus Chan. Tanto o jornal como o fotógrafo como o jornal trataram o assunto como hard news. Suau viu o assunto como uma amostra do que iria acontecer em todo o país e tratou a história como uma coisa muito maior. E provavelmente teve a ajuda de jornalistas do jornal local. Isso é normal na nossa vida de jornalistas.

    Não tenho certeza, mas parece que o PD de Cleveland só colocou online as fotos de Gus no dia 18 de janeiro. É isso mesmo, ou estou enganado?

    E para ficar no WP, o mesmo se passou com Carlos Cazalis em SP. Cazalis foi ajudado por Apu Gomes, acho. Quem conta a história é o Henrique Manreza…

    http://www.manreza.com.br/blog/2009/02/13/cracolandia/

    E eu discordo também do amigo Henrique que diz que a foto do Apu é melhor. Não é. Cazalis também é um belo contador de histórias. Ele pensa fotografia sempre em termos de projeto. A foto de Cazalis me mostra e me diz muito mais coisas, sem falar que ela, a foto, faz parte de um grande ensaio sobre SP e sem entrar em questões estéticas e técnicas.

    Mais uma vez, muito bom que o WP tenha aberto caminho para outras visões que não o fotojornalismo instântaneo, imediato. Eu gosto de ver histórias fotográficas. Acredito que esse é o nosso caminho, ainda mais com a internet que não tem limitação de espaço. E gostei muito do que o jurado sueco Ayperi Ecer diise e você reproduziu…

    “Dois mil e oito foi o ano do fim do sistema economicamente dominante. Nós precisamos de uma nova linguagem, para aprender como ilustrar as nossas vidas”.

    Bom amigo, acho que já palpitei demais por aqui. Vou palpitar lá em casa.

    Bom dia e grande abraço.

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