João Castilho – Parte 1

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O terceiro fotógrafo que participa da seção “Processo de criação” é o mineiro João Castilho. Considero o trabalho de Castilho um dos mais instigantes. Castilho vem brilhando nos últimos anos e, agora, ele tem uma missão dupla: desenvolver dois projetos neste ano de 2009. Um é para a Funarte. O outro é para o Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. Ele já nos mostra algumas poucas imagens que fazem parte dos projetos. Pelo pouco que se vê, Castilho vai nos surpreender mais uma vez.

Site de João Castilho, aqui.

Entrevista com João Castilho (em agosto de 2008) na seção Entrevistando…, aqui.

Cia de Foto e Rodrigo Braga na seção “Processo de criação”, aqui.

 

OLHA, VÊ Sobre os temas, “Confluências: suturas, linhas, deslocamentos” e “Confluências”, gostaria de saber sobre a escolha e as motivações para desenvolver os projetos. JOÃO CASTILHO A idéia por traz destes projetos é criar para a fotografia um lugar híbrido, intermediário entre registro-documento e obra acabada. Estou fotografando intervenções efêmeras feitas por mim na natureza, em elementos arquitetônicos e em objetos. São trabalhos realizados a partir de interferências que se norteiam pelas ações de rasgar e costurar, quebrar e colar, impedir passagens e fluxos, deslocar objetos e dispor linhas na tentativa de criar pontos de diálogo ou de conflito com a paisagem.

Nesses trabalhos, a fotografia é utilizada sendo especialmente trabalhada e não é empregada apenas como um vetor destinado a atualizar em um ‘non-site’ um trabalho feito em um ‘site’. É utilizada como material da arte a ser esculpida, modelada, enfim, é utilizada como escritura.

OLHA, VÊ Os projetos, um para a Funarte e o outro para o Salão, tem interseções ou são diferentes? JOÃO CASTILHOOs projetos tinham vários pontos de contato mas eram diferentes. No entanto, com o andar da carruagem, as coisas vão de confluindo e se metamorfoseando, é natural. Para o Salão eu previa trabalhar com as idéias de frestas e suturas. E para a Funarte com as idéias de linhas e deslocamentos. Considero que tudo faça parte de um mesmo corpo de trabalho incluindo aí certas coisas que estou produzindo e que não estavam previstas nem em um, nem em outro projeto mas, que considero fazerem parte da mesma pesquisa.

OLHA, VÊ O processo de criação será como? Criação linear ou que se desenvolve de acordo com os resultados? Qual a situação atual dos projetos? JOÃO CASTILHOEstou trabalhando em várias frentes ao mesmo tempo. O trabalho com linhas, por exemplo, está bem adiantado. Os trabalhos com suturas estão derrapando. Comecei achando que teriam uma potência enorme e que os resolveria com certa facilidade mas não foi bem assim. Estão há algum tempo estagnados a procura de saídas. Com a idéia de frestas realizei uma sequência grande que resolvi animar e transformar em um vídeo, estou trabalhando nisso agora. Fico meio assim, indo e voltando, dando passos pra frente e pra trás.

OLHA, VÊ Os objetivos estão preestabelecidos ou não? JOÃO CASTILHOÉ claro que na hora de elaborar um projeto você prevê onde quer chegar, o que quer alcançar com isso, prevê certos resultados. Mas é extremamente comum que algumas coisas mudem de rumo e, não raro, o trabalho pode ir para lugares nunca antes imaginados. Essa é a magia.

OLHA, VÊ O Salão de Artes Plásticas de PE preestabelece um orientador? Como é essa relação? JOÃO CASTILHO Minha orientadora é a Maria do Carmo Nino. Trocamos apenas alguns e-mails (ela mora em Recife, eu em Belo Horizonte) e ainda não entramos na discussão do trabalho propriamente dito. Isso por duas razões, uma é que o cronograma do Salão está sofrendo atrasos e por conta disso eu também me atrasei, e outra porque só agora a produção esta tomando um corpo e tenho alguma coisa pra mostrar pra ela. Devemos começar nossas conversas nos próximos dias. Eu acho que essa possibilidade de trocar experiências é uma oportunidade e tanto. Gosto muito disso e acho que vamos estabelecer trocas bem profícuas.

OLHA, VÊ Sobre técnica fotográfica/produção/estética. Como você irá realizar as fotos? Você já pensa em algo para mostrar: exposição, catálogo, etc. JOÃO CASTILHO Com relação a técnica fotográfica continuo na mesma trilha que vinha antes. Digital, lentes 20 mm e agora também uma macro. A questão estética também guarda varias relações com os trabalhos anteriores quanto a luz, a cor e contraste. A relação com o referente é que muda de forma radical. Abandono totalmente a figura humana, embora várias formas resultantes desses processos sejam antropomórficas. Abandono também o acontecimento e a historia para trabalhar com o objeto e a paisagem. No caso da bolsa do Salão, o edital prevê uma exposição em Recife. No caso da bolsa Funarte ainda não sei, mas devo apresentar um material impresso, um catálogo, algo do tipo. Também publicarei todo o resultado no meu site.

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