Marcos Michael

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Dados técnicos:

Nikon D300 + Lightroom 2

Flickr de Marcos Michael, aqui.

Michael,  companheiro aqui da Fotograria do Jornal do Commercio, além de mostrar o seus Raws, mostra a sua opinião e questiona algumas coisas bem interessantes. Estou postando um texto dele sobre a imagem dos pescadores.

Raw

 Tratada no LR

Raw

Jpeg capturado junto com o Raw

Raw tratado no LR

 

Em um projeto pessoal que venho desenvolvendo desde 2007, decidi utilizar apenas o preto e branco em minhas fotografias. Em 2007 fiz algumas visitas ao local, produzindo apenas arquivos em JPG.  Programei minha máquina para gerar arquivos em P&B, utilizei uma filtragem vermelha (da própria máquina, simulando um filtro para objetiva) e filtro polarizador nas objetivas. Tudo o que via no visor da máquina era o que pretendia com os ajustes feitos em minha câmera inicialmente. Tudo em preto e branco.

No ano seguinte, em 2008, voltando ao mesmo local para dar sequência ao ensaio, resolvi que fotografaria tudo em arquivos Raw e JPG. Fiz o mesmo processo do ano anterior, programando o equipamento para P&B, utilizando uma filtragem vermelha da própria câmera e polarizador em minhas objetivas. Tudo conforme eu, o autor, estava pré-determinado a trabalhar.

Contudo, ao importar meus arquivos Raw para o Lightroom, tudo o que era P&B tornou-se colorido, sem nenhuma filtragem programada e com os balanços de branco que eu tinha ajustado para trabalhar no formato monocromático. Aquela foto que via no monitor, definitivamente não era o que eu tinha planejado em minha cabeça e visto no LCD da máquina. Para ter de volta o que eu havia pré-concebido, tive que recorrer aos JPGs e trabalhar no Lightroom durante um bom tempo, para recuperar a idéia inicial. Óbvio que a utilização do programa também serviu para ajustar melhor as imagens de acordo com minhas idéias e preferências. A famosa liberdade de criação…

Se me arrependi de ter fotografado em Raw? De forma alguma. Comprei o livro do Clicio, aprendi a utilizar melhor o Lightroom e fiquei feliz com os resultados. O fato é que o fotógrafo tem hoje muito mais poder sobre os ajustes em sua obra. Não é mais um mistério restrito aos excelentes laboratoristas e processos de revelação, onde poucos tinham acesso. É uma forma de democratização. Não me arrependi nem um pouco em ter os arquivos gerados também em JPG, pois naquele momento, eram eles, verdadeiramente, a minha matriz.

Talvez o Raw em pouco tempo seja substituído por outro formato ainda mais revolucionário. Talvez a discussão mude de direção e trate sobre a morte deste formato e sobre as vantagens do próximo. Acho que o Raw é mais uma forma,  a melhor provavelmente, de gerarmos nossos arquivos com qualidade e segurança. Os debates sobre a manipulação da imagem continuarão sempre existindo, simplesmente porque a fotografia não para de mudar e evoluir.

Os limites? Acho que esses não mudam muito. Continua o bom senso de que alterar elementos e manipular a realidade (do fato) não são atos bem-vindos, sobretudo no fotojornalismo. Mas lembro também, como repórter-fotográfico que sou, que essa manipulação e alteração de verdades não acontece apenas nos PCs e MACs da vida, mas também e sobretudo na hora da captura, com atitudes desleais e anti-éticas de maus profissionais.

O puritanismo de achar que não se pode “mexer” em uma imagem, seja no Photoshop, Lightroom ou outro programa nem deveria mais existir. Mesmo no fotojornalismo. Isso é romance, afinal há quantos anos os jornais dispõem de departamentos de tratamento de imagens, que infinitas vezes corrigem áreas escuras, saturam cores, mudam enquadramentos e recortam objetos, tudo em nome da informação? E nas revistas então… Claro, existem limites para tal, e o próprio sistema se encarrega de “exortar” aquilo que extrapola o bom senso.

Saturar ou dessaturar? Dá na mesma. Talvez até apareça alguém comentando que utilizei o Lightroom para corrigir uma fotometragem incorreta ou coisas do tipo… Acho que Annie Leibovitz (um entre tantos exemplos), uma das mais badaladas e respeitadas profissionais da fotografia atual, utiliza-se dos mesmos artifícios que tanto estamos debatendo. Provavelmente com uma equipe só pra isso… E o que dá mais ou menos direito a um profissional processar a sua imagem sem ser questionado? Será a estrutura e o nome que ele tem?

Voltando às fotografias do projeto…

Talvez as três sejam a minha fotografia, ou talvez não. Mas vou preferir ficar com a última (importada em Raw e exportada em JGP), pois foi ali que eu quis chegar.   Acho que temos esse direito né?  Parabéns a todos pelo debate e por mostrarem seus Raws. Tem muita gente que admiro expondo suas opiniões e conceitos. Isso é de grande valia para refletirmos sobre o que estamos fazendo de nossas vidas (fotográficas). Vou ficar aqui lendo, aprendendo e pensando com vocês.

Fotos: Marcos Michael/JC Imagem

Comentários 6

  1. Oi Michael,

    super legal o que vc escreveu! Mais que isso sua constatação ao experimentar.
    Isso é o de maior valor sempre: experimentar.
    Viva a eterna e contínua experimentação. É sempre mais gostoso do que somente fazer.

    Uma coisa legal, é entender o que é um JPEG.
    É uma sigla, Joint Photographic Experts Group, de uma ferramenta de compressão, criada para facilitar a vida dos fotógrafos. Toda máquina fotografa em RAW. O que acontece quando escolhemos o formato JPEG é que a máquina (a própria) converte o arquivo para gente. Há máquinas automáticas, por exemplo que nem pergunta e já converte direto.

    O JPEG é uma compressão com perda de dados. Em uma análise grosseira, seria fazer música direto em MPEG!
    Em uma outra mais grosseira ainda, toda vez que se abre um JPEG, vc “machuca”seu arquivo. Criam-se steps, ruídos nas transições de cores.
    Seria dizer que o RAW é um negativo, e um JPEG, um 10×15, uma prova rápida impressa que vc faz em um lab 1h(rs).

    A palavra que vc usa, MATRIZ, é a grande chave.
    Esse talvez seja um grande compromisso inclusive social: gerar matrizes.

    Ultimamente estamos, aqui na Cia, revisitando nosso arquivo por um motivo de organização. E é impressionante como a gente muda a interpretação de uma imagem, cada vez que a vemos novamente

    Quando vc tem uma MATRIZ, o vintage (a cópia única), passa a ser uma escolha e não, a única alternativa.

    E viva todos esses engenheiros que fazem essas ferramentas maravilhosas para que a gente, fotógrafos, pire em cima.
    E diga-se aí, pirem com responsabilidade, com ética e parâmetros de retornos sociais, mas que todos experimentem.

  2. O comentário teria sido melhor ainda se eu não tivesse errado o seu nome…

    abs e continue com o seu excelente trabalho!

  3. É por isso que eu adoro os caras de jornal.

    Admiro os caras que não ficam dando ao processo tecnológico (ou qualquer outro processo) mais atenção do que ele realmente merece, caras que não ficam intelectualizando o banal nem banalizando o intelecto dos outros. Caras que não ficam dizendo como a fotografia deveria ou não deveria ser; caras que simplesmente vão lá e a fazem. LR é legal, PS é muito legal, mas fotografia ainda é muito mais do que um arquivo raw.

    E legal ver também alguém que usa o termo “libertade de criação” com o respeito que essa idéia merece, e não como um subterfúgio para ficar empurrando porcaria para as páginas como tão bem fez aquele doidinho lá da Escandinávia.

    abraços e parabéns Michel, você realmente os merece.

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