Obra de Mark Powell na exposição Resiliencia no Instituto Cervantes
Obra de Oscar Fernando Gomez na exposição Resiliencia no Instituto Cervantes
Obra de Nicola Okin Frioli na exposição Resiliencia no Instituto Cervantes
Surpresas em Madri
Toni Pires – Madri
Segunda-feira, o sol brincando de esconde-esconde, no meio da tarde uma pancada de chuva… ufa… bom para lavar a alma, entre uma sala de exposição e outra.
Cai a chuva, logo que sai da Casa America, uma das mais lindas construções de Madri, espaço com jardim de inverno, café e ótimas salas de exposições. E duas destas salas apresentam os trabalhos de Mauro Restiffe, um paulistano que se dedica a registrar as grandes cidades de uma maneira muito simpática. O trabalho deste fotógrafo é muito bom, conheço faz tempo, mas confesso que a exposição não tem o approach necessário para segurar o expectador por muito tempo. Depois de ranger os assoalhos das duas salas por mais de 40 minutos, fui ao café e pude ouvir de outros visitantes uma certa inquietude com a “mostra tão calma”, como comentou uma senhora francesa que estava ao meu lado.
Cópias muito bem feitas, contrastes entre cidades como Brasília na tomada de posse do presidente Lula e Istambul tentam um contraste, mas algo emperra e para mim não funcionou. Outro ponto negativo, todas as fotos com vidro por cima da ampliação não tem iluminador que faça milagre, você se vê em todos os quadros. E é uma pena, pois são ampliações enormes e muito bem feitas. Uma ótima ideia brincar com os grandes centros, ótimas ampliações, espaço para mostra fantástico, artista completo e competente, mas foi umas das surpresas do dia.
Mas assim como chuva dura pouco em Madri, logo estava batendo pernas em outra sala, desta vez no Instituto Cervantes, onde o curador Claudi Carreras foi brilhante no seu trabalho. São dez jovens e arrojados fotógrafos que participaram da edição Latino Americana do PHE09 de um total de 342 trabalhos apresentados.
Surpresa… Surprise… Sorpresa… Überraschung…
Contei mais de 5 idiomas em que ouvi a palavra surpresa durante as duas horas que fiquei na sala de exposições observando “resiliencia”. Acho que cabe melhor sem tradução… rs…
El término “Resiliencia” procede de la física y significa “capacidad de un sólido para recuperar su forma y tamaño originales cuando cesa el sistema de fuerzas causante de la deformación”.
Aplicada al campo de la sociología la palabra alude a la capacidad de regeneración de un cuerpo después de un impacto, lo que demuestra la continúa aclimatación del ser humano a las condiciones más adversas para sobrevivir, que es el objetivo de la exposición.
Destaques:
Oscar Fernando Guez – “La mirada del taxista” – O jovem fotógrafo e taxista mostra que na América Latina sempre é possível se virar e fazer o que quer/gosta. Nove fotos e uma linda projeção resume o que Oscar tenta explicar em palavras… “Por meio da foto, reconecto minha vida com o que intelectualmente não pude conseguir e vejo refletida minha vida em algumas imagens”. Parei de olhar suas fotos com vontade de entrar em táxi e ficar horas em um engarrafamento na Cidade do México, teríamos muito a dialogar e eu com certeza, muito o que aprender, com um olhar tão sensível.
Mark Powell – “Retratos” – Mais do que uma boa exposição fez uma instalação, na parede uma grande ampliação de uma de suas fotos, mais de 3 metros a frente da foto uma mesa, 3 pares de luvas brancas e 17 fotos ampliadas em papel mate, no tamanho 50 x 40. A interação com seu trabalho é inevitável. Bons retratos de gente que tenta de todas as maneiras ser singular e ganhar seu espaço no mundo ou talvez seus minutos de fama.
Ana Cecília Vigil – “Cuando pasa el temblor” – Um trabalho elegante e sutil sobre o terremoto que atingiu o Peru em 2007. Sem apelo para imprimir a dor no papel, Ana mostra a devastação de cidades e a forca de um povo que tem no DNA a palavra força. Diferente de outros trabalhos da artista ela soube escolher bem o momento para dessaturar as cores e imprimir um “algo perdido” nas suas imagens.
Morfi Jimenez Mercado – “Luz de las entrañas” – Ótimos retratos e perfeita composição de um pequeno povoado da serra peruana. Um trabalho de equilíbrio entre flash, luz do sol, e um tratamento de imagens “agressivo”, resulta na expressão maior do pictório. Vale também visitar seu site, no entanto lá ele deixa de lado a objetividade e dá-lhe paciência até todas as graças performática do design se abrirem.
Nicola Okin Frioli – “El “otro lado” del sueño” – Este trabalho é um tapa na cara. O rapaz aborda o outro lado do sonho. Mexicanos que tentam atravessar para os EUA e são vitimas entre tantos problemas de um trem que corta a fronteira e muitas vezes os sonhos e pessoas que tentam passar por ele. Os retratos tem alma, tinha a impressão de ouvir o choro das almas.
Me senti lá na exposição.
Muito obrigado pelo texto detalhado.
Sem comentarios.
Valeus.
Alexis Prappas
Belo texto e muita informação. Muito bom poder acompanhar daqui as notícias fresquinhas do festival. Parabéns ao Toni pela cobertura e também ao Alexandre.