Foto: Héctor Mediavilla
O ensaio Elevadoristas de Héctor Mediavilla provocou Georgia Quintas. Após a entrevista que fiz com Héctor para o blog do Paraty em Foco, Georgia escreveu este texto que faz algumas análises sobre a força documental e “compartilhada” deste ensaio fotográfico.
A fotografia compartilhada de Héctor Mediavilla
por Georgia Quintas
O trabalho Elevadoristas do fotógrafo Héctor Mediavilla é norteado por nostalgia e candura singulares. Em princípio, este ensaio – que pode ser visto no Flickr do Paraty em Foco – mostrou-se como uma proposição enlevada a algo bem próximo da memória social. São retratos decompostos, duplos pela edição equilibrada de Mediavilla em apresentar seu ensaio em imagens dípticas. Portanto, em cada fotografia a história documentada discorre sobre o retratado e seu espaço de pertencimento social. Os ascensoristas já fazem parte do nosso imaginário das profissões que conhecemos, mas que a modernidade achata-os ao ponto de torná-los bem raros em nossa sociedade.
Entramos e saímos. Aproximamo-nos e nos distanciamos. Tudo a partir do ínfimo limite do elevador e dos tempos que se entrelaçam em estar-se dentro ou fora deles. No interior destes elevadores, os protagonistas de Mediavilla são serenos em seu ofício. Alguns, cartesianamente organizam sua “estadia” na hermética condição de suas profissões e vários objetos representam bem mais do que supomos serem curiosidades. Ao contemplar tais detalhes, vemos os índices da imagem emanarem a vida de cada um dos indivíduos fotografados. A jovem ascensorista se maquia e sua delicadeza se reflete na revistinha de vendas da Avon, estrategicamente posta em sua bancada de trabalho para futuros interessados. As televisões, a manta e as roupas de frio também são aspectos a considerar dentro desse fabuloso universo imagético documentado por Mediavilla.
O fato fotográfico escolhido pelo fotógrafo é substancialmente antropológico e não é preciso ser antropólogo para converter o conteúdo temático em documento social. No entanto, é a maneira como o fotógrafo faz isso que determina este estado. O ensaio pelo qual nos deleitamos descreve o outro em seus próprios aspectos de vida enquanto profissão. Mas é a forma como Mediavilla conduz seu envolvimento ao fotografar o outro, que atesta a tal candura que sentimos enfatizada na primeira linha deste texto. Quando isso ocorre, percebemos o respeito, a solidariedade e honestidade com relação ao outro. Não se constitui em “tirar” a fotografia, mas relacionar-se através dela com o retratado.
Quando há esse compartilhamento, o registro visual é próximo, contorciona-se no corpo do outro. O campo visual torna-se, portanto, lugar de preenchimento simbólico de ambas as partes desse processo: autor e fotografado. A força poética que constatamos das representações visuais perfazem esse percurso da convivência, de compartilhar o memento do fazer fotográfico e da fruição inexorável da troca. De imediato, ao me envolver com os Elevadoristas, me lembrei de grandes mestres do uso da imagem no campo da antropologia, são eles: Jean Rouch e Sol Worth. O primeiro adepto do cinéma partagé nos ensinou que imparcialidade não existe e a graça e riqueza do discurso etnográfico está em descobrir o outro com o outro. Já Sol Worth vislumbrou a quintessência disto tudo ao definir a fotografia como símbolo das interações humanas.
Portanto, os elevadores (lugares de transitoriedade, efêmeros em sua função) configuram-se em um limbo de solidão, de esgarçamento de um tempo que se entra e que se sai. Ficam na memória, a partir do olhar de Mediavilla, as pessoas que delineiam os símbolos de uma vida vivida em pequenas “caixas” que sobem e descem.
Héctor,
Logo que vi suas fotografias, me encantei e me envolvi com os espaços fotografados.
Espaços que as pessoas retratadas definem e que a fotografia reafirma tais representações sociais.
Lindo ensaio.
Gracias a ti!
Saludos.
Estimada Georgia,
Agradezco mucho tus bellos comentarios sobre el trabajo. Me gustó esta pequeña historia porque, entre otras cosas, muestra como la actitud de cada persona determina cómo vive una situación dada y finalmente su vida. Cada uno de los elevadoristas puede personalizar su espacio durante su turno. Algunos venden pequeños objetos como revistas, relojes o dulces otros prefieren ver una película o leer un libro. A la mayoría lo que más les gusta es el contacto con los vecinos, otros se aburren o lo hacen porque no tienen otra alternativa. En un mismo espacio la respuesta de cada individuo es distinta y su sentimiento respecto al trabajo también.
Decidí hacer un diptico porque estime que era una buena manera de mostrar dos aspectos del mismo espacio/situación y además, de algún modo, siento que nos conecta mejor con la persona fotografíada. Probé varias alternativas pero esta es la que más me agradó.
Saludos,
Acho que precisa se cadastrar pra ver esse texto da Piauí, mas segue a recomendação:
http://www.revistapiaui.com.br/edicao_32/artigo_1016/Desce.aspx
Abraço.