Foto: Mario Cravo Neto | Aura Mazda, 1988
Foto: Mario Cravo Neto | Criança Voodoo, 1989
Mundo feérico, imaterial, orgânico e sublime
por Georgia Quintas
Há textos que não deveriam ser escritos. O peso das palavras, em alguns momentos, é mais doloroso do que apenas só receber uma notícia e tentar superá-la. A possibilidade de ausência, do nada, do vazio é conseqüência da vida. Mas, quem sabe domá-los?
Mario Cravo Neto se foi.
Revendo na memória, a obra de Mario Cravo Neto é categórica. Seu trabalho não trata da realidade que nos cerca, mas do simbolismo da vida. Suas buscas fotográficas possuem uma iconoclastia, uma ruptura em desvelar o real. E, portanto, Cravo Neto era um criador de imagens e de mundos. A fotografia era o amálgama que norteava seu fluxo criativo. Dirigir seus personagens em um estúdio era revelar um jogo de performance, de rito, de símbolos espirituais evocados com a força de suas composições. Homem, bicho, elementos escultóricos, máscaras, pó, vestígios…
A fotografia de Mario Cravo Neto não é fácil. Prima por uma elegância retórica não verbal. A profusão de suas imagens é um mar de significados. Precisa-se de templo para contemplá-la, estreitar laços de percepção, digeri-la e encontrá-la. Afinal, Mario Cravo Neto rompe com a ontologia da imagem fotográfica. Faz das idéias seu vôo rasante pela realidade comum, mas surpreendentemente consegue com sua estética mitificá-la e, portanto, reconduz o tal índice, em fragilidade documental. A essência da fotografia é signo enquanto fio condutor de narrativas simbólicas que dialogam com outros grandes artistas que “bebiam” da fonte religiosa africana da Bahia. Tem sim, elementos do Candomblé, mas de um Candomblé singular, resignificado pelo interesse e respeito de Cravo Neto pelo tema.
O que dizer das fotografias Pelourinho, África III, Criança Voodoo, só para citar algumas. Sim, uma que particularmente, me inquieta e que é simples e solene: Aura Mazda. Me faz conexões bem próximas com o surrealismo de fotógrafos mexicanos. O material de Mario Cravo Neto da década de 1980 e 1990 é especialmente deslumbrante e misterioso.
Desde há muito, as artes visuais congrega linguagens e põe a fotografia como expressão de destaque. Vale lembrar que também, desde há muito Mario Cravo Neto, escultor e desenhista tratou de trabalhar a fotografia como criação artística. Premiado e reconhecido internacionalmente, participou de cinco Bienais Internacionais de São Paulo e era filho de Mario Cravo Júnior, grande escultor e desenhista.
Revejam as imagens deste fotógrafo. Elas são “cortantes”, driblam questões comuns do retrato, propõe questionamentos sobre identidade… Bom, um mundo feérico, imaterial, orgânico e sublime. Assim é a obra do Cravo Neto.
***Mais sobre a morte de Mario Cravo Neto, aqui.
Oi Georgia,
Nosso Cravo Neto é colorido : http://ciadefoto.com.br/blog/
Foi ele e Miguel Rio Branco, os dois na Bahia, que ensinaram a gente a fotografar pelas cores.
Silencio…
Que o gênio criativo, que a obra ímpar do mestre que partiu sirvam de inspiração às mentes inquietas que labutam em todas as artes. Paz Profunda!