Tarde sem chuvas e apenas muitas poças nas ruas centrais da cidade, mas isso é nada perto do cardápio da tarde de ontem no Paraty em Foco.
Meio da tarde, um mesa com Rosangela Rennó, personagem que norteia o imaginário de todo fotógrafo. Um auditório lotado, fila de espera, jardim da casa da cultura sem lugar para sentar. Todos ávidos por ouvir um pouco do processo de trabalho desta mestra da fotografia. Com intermediação de Angélica Melendi, Rennó falou de seus amores fotográficos com simplicidade e didatismo. Eu entrei apenas para uma foto, e resolvi assistir do lado de fora, no belo jardim que sempre tinha um “burburinho” , conversas e saídas para o cigarro. No entanto, nesta tarde, o jardim se calou para ouvir Rosangela falar de sua paixão por colecionar coisas, coisas que são a base de seus novos arquivos.
Na sequência, fotojornalistas de duas gerações sentam a frente do público para falar de como lidam com o poder. Lula Marques prestigiado fotógrafo do jornal Folha de S.Paulo, ao lado de um mestre, Orlando Brito, que ja passou e passeou pelos principais jornais e revistas do pais, e agora está a frente de uma agência fotográfica.
O tempo foi curto para apreciar as belas imagens que ambos trouxeram para presentear o público presente. Orlando começou com fala mansa, se desculpando por não ter o dom da palavra, segundo ele. Coisa que pudemos perceber que era apenas uma conversa de mineiro. Com simplicidade e doçura na voz, nos contava a história do país.
Lula Marques, jovem, destemido e adorador de conflitos, brindou a platéia com sua imagens anedóticas da política atual.
Um problema: tempo curto para tanto assunto. Milton Guran ao lado de Sérgio Branco, pouco tempo tiveram para entrevistar os convidados, o público queria saber mais, mas a imagens ocuparam a maior parte do tempo.
Guram definiu a diferença entre os dois olhares com uma pertinência que lhe é peculiar. Para Guran, Lula é um franco atirador, de elite. Nada passa despercebido por seu olhar. Já Brito, até por ter sido talhado na profissão sob a batuta da ditadura, usa o imaginário, para interpretar a realidade, guardando para a história momentos decisivos da política brasileira.
Sobre a falta de tempo para a entrevista em si, sabe que nem achei ruim, afinal, evita de entrarmos na discussão repetitiva, se o fotojornalismo morreu ou não.
Eu fico com Zizola, que ao ser questionado sobre este assunto disparou “o fotojornalsimo já nasceu morrendo”.
Mais uma tarde agradável e positiva no festival. Se nossos fotojornalistas falaram pouco…. cumpriram a missão… disseram muito com a projeção de suas imagens. E é assim que eles gostam de levar a vida.
Toni Pires de Paraty.