Juan Esteves

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Por Georgia Quintas.

“Fotografia contemporânea, ela existe?” Esta era a pergunta propositiva a ser respondida pelo crítico e fotógrafo Juan Esteves na 3ª Semana de Fotografia do Recife em sua palestra, com mediação da professora Maria do Carmo Nino. Com surpreendente memória, repertório e eloquência, Juan Esteves preparou uma apresentação com mais de 90 fotógrafos. Isso mesmo, mais de 90 autores e suas particularidades. Inimaginável diria para uma apresentação de duas horas. Ultrapassou a expectativa de ser a quinta palestra da programação, tornando-se uma aula brilhante de que faz, pensa e pesquisa a fotografia em sua diversidade.

Quem acompanha os textos críticos de Juan Esteves, sabe de sua tendência em contextualizar de maneira extensa a biografia do fotógrafo e os aspectos históricos que envolvem determinada trajetória fotográfica. E, portanto, não seria improvável vermos tal palestra.

Diante desta questão sobre a fotografia contemporânea o natural seria respondê-la. Juan Esteves não a respondeu como supúnhamos que o fizesse. Logo no início, deixou claro o incômodo de reconhecer um estado contemporâneo que é determinante à fotografia, pois “é intrínseco à fotografia não ter rótulos”. A sua fala foi guiada pelas imagens ou seria por suas idéias? Discurso e fotografia se imbricaram de tal modo que a cadencia nos levava a uma visão enciclopédica da linguagem fotográfica. Dentre tantos nomes, havia também exemplos antológicos de artistas plásticos que expressam-se pela fotografia.

Juan Esteves nos pontuou alguns fatores que fazem pensar e problematizar, muito mais do que resolver a pergunta posta. O que ocorre ao situarmos uma obra como contemporânea, o que a faz ser contemporânea, quais são os procedimentos técnicos que trazem à tona o inusitado, o novo, o original. E as temáticas? E as mesmas situações de composição? Retratos, auto-retratos, ambientes privados, cidades, pessoas na rua, cenas em museus, imagens de fé… O ciclo temático não se exaure e nosso olhar se alimenta da autoria. Esse ponto ficou claro. Ao enfatizar processos intelectuais, das inclinações eletivas que o fotógrafo possui em seu tempo e espaço, do vigor criativo e poético, a pergunta se diluiu. Não a linha do tempo clássica da fotografia, mas a edição de Juan Esteves como fio da meada, naquela noite, declarou que descobrir a história da fotografia seja por qual ângulo for que a conte é pura magia. Pontualmente, Juan Esteves finalizou didaticamente sua fala na hora prevista. Difícil foi levantar e entrarmos, novamente, no nosso prosaico tempo sem as arrebatadoras imagens. Por fim, a resposta não foi nem sim nem não. Entretanto, ficou-se o solfejo de tentarmos entendermos a imagem fotográfica além das nomenclaturas, de dispositivos de gênero ou de consequências do mercado. Juan nos mostrou que há mais caminhos do que certezas…

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O Olhavê estava utilizando as fotografias de divulgação da 3ª Semana de Fotografia do Recife. Infelizmente, a palestra de Juan Esteves não teve fotografias disponibilizadas.

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  1. Em um trabalho para a disciplina de Fotografia Documental, ministrada por Mateus Sá, onde questionávamos sobre o que seria a Fotografia Documental Contemporânea, escrevi que a Fotografia Contemporânea é a Fotografia da liberdade. Liberdade de criação, de ir e vir no tempo, nas técnicas, estilos, movimentos. Fotografia que permite usos e abusos, autorias coletivas, apropriações, releituras, intervenções e fusões (multimídias e etc.).
    Depois de mais um punhado de aulas, leituras, oficinas, palestras e Juan Estevez, só gostaria de ter dito que “é intrínseco à fotografia não ter rótulos”.

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