Fotos: Fernanda Prado – Ensaio “Acorda, amor” (2008-2010)
A fotografia pode ser tudo. Tudo, no sentido lato do termo, pode até ser: a fotografia. A imagem perfeita, bela, forte, a que comove, sublima um mar de sentimentos para o espírito de quem relaciona-se com ela… E assim, parece que a estética arrebata o olhar do outro.
Voltemos ao início. A fotografia pode ser tudo e esse tudo ser também o paradoxo, ao ponto de ser a negação do torpor de levar consigo a eloquência da imagem única. Ela pode ser a investigação do gesto. Como se, metaforicamente, tentássemos entender o ato de pôr uma flor num velho vaso lindo, herdado de alguém da família. Fernanda Prado é um pouco assim. Suas fotografias fazem parte da busca em vivenciar o gesto fotográfico. Inseri-lo em seu cotidiano de modo sistemático e corriqueiro. Assim, Fernanda constrói um diário imaginário íntimo de sua rotina prosaica.
Apesar de seu trabalho “Acorda, amor” ser realizado pelo fio do tempo, do dia-a-dia, a beleza e o conforto do estilo de Fernanda nos faz pensar. A simplicidade traz a sutileza, a delicadeza… O mundo fotográfico de Fernanda de tão suave, torna movediço nossa relação com o tempo. Fernanda consegue esgarçá-lo.
Novamente, de forma mais consciente do tempo à sua frente, a fotógrafa dedica-se – desde 2006 – ao ensaio “Álbum Perdido”. Nesse caso, o tempo é fonte de investigação, de tentativa de aprisionamento de memória, de nossa inexorável vontade em guardá-lo. Para Fernanda o tempo é nele instrumentalizado para reverberar seu amor e seu carinho por Madalena, sua avó de mais de 80 anos, que guarda mais vividamente a memória do passado do que a mais recente. “De lá pra cá, venho tentando preservar a minha avó nas imagens que faço. É como se eu quisesse guardar na película fotográfica cada movimento do seu andar já lento”, alicerça. Daí ela pergunta: “Quem sabe a fotografia não seja capaz de extrapolar qualquer conceito sobre o tempo, misturando nossas lembranças e sonhos num álbum de família guardado numa caixinha de papel?” Não precisa nem perguntar Fernanda. A resposta? Você mesma nos dá com suas fotografias. Linda Madalena, linda história.
Georgia Quintas, fevereiro de 2010.
BIOGRAFIA
São Paulo (SP), 1980
Jornalista formada pela Universidade Metodistade São Paulo e pós-graduada em Fotografia pelo Centro Universitário SENAC. Trabalha com pauta e edição de fotografia do jornal Valor Econômico e desenvolve atividades ligadas à imagem desde 1998, por meio de atuação na imprensa brasileira e desenvolvimento de projetos autorais. Quando tinha 21 anos, viajou com o Circo Garcia, fotografando, sem saber, o que seria o último ano de vida daquele circo. As imagens viraram o projeto “Vida de Circo – Realidade e Fantasia”. A fotógrafa tem se dedicado nos últimos quatro anos ao projeto “Álbum Perdido”, que traz imagens de sua família gerando uma reflexão sobre o tempo, e ao projeto “Acorda, amor” – onde ela faz uma foto por dia sempre antes do café da manhã. Algumas dessas imagens foram expostas no OFF Paraty do ano passado.
Em 2010, irá expor “Álbum Perdido” na exposição “Pernambuco Convida”, na Arte Plural Galeria (Recife) e “Acorda, amor” no deVERcidade (Fortaleza).