Foto: Eduardo Seidel
Por Georgia Quintas, do Recife (via transmissão online)
Na eloquência da arte coabitam as inquietações e as não respostas. Ao ouvir a artista Rosângela Rennó, ontem pela transmissão ao vivo, surge o incômodo, o hiato, a fragilidade de nossas relações com a imagem fotográfica. Quem já a ouviu outras vezes, sabe das várias teias subjetivas que envolvem o processo criativo e interpretativo da fotografia como adjacências conceituais. As ideias de Rosângela Rennó suscitam a latência da fotografia em nossas vidas: o que dela somos, pensamos ou sonhamos compreender sobre a memória.
O incômodo. A fala de Rennó ressalvou questões inerentes ao seu fazer artístico, de quem produz ideias e imagens existentes solucionando processos, estética, apropriação e representação. Enfim, tentando entender os sentidos e as “relações do ser humano com a fotografia”.
O hiato. Por que não cuidamos e guardamos com mais consciência do nosso patrimônio imagético familiar? Questão delicada quando vemos desvelar arquivos guardados, esquecidos, abandonados – que ressurgem pelo novo pertencimento dado através do gesto de Rennó. Precisamos perceber as várias fases de reinvenção que o tempo agrega aos nossos “arquivos” – sejam eles pessoais ou institucionais.
A fragilidade. Esta advém do fenômeno que se trava diante da latência da imagem fotográfica. Não reside negatividade no termo posto aqui. O trabalho de Rosângela revela em nós a fragilidade da onipotência que fenece ao olhar uma fotografia. Somos cercados por ela e criamos nosso entendimento sobre o mundo através dela. Fragilidade profícua essa.
No final, André Bazin foi lembrado. O texto que se mencionou é Ontologia da Imagem Fotográfica, de 1945. Nele, destaco: “A fotografia vem a ser, pois, o acontecimento mais importante da história das artes plásticas. (…) A fotografia permitiu à pintura ocidental desembaraçar-se definitivamente da obsessão realista e reencontrar a sua autonomia estética”. Isso, autonomia, bela palavra para a fotografia.
Estou gostando muito da sua cobertura do evento, é como se eu estivesse participando.