Fotos: Rodrigo Zeferino – Ensaio “Ocupação” (2010)
Os ensaios “Ocupação” e “Caixas” são antíteses. O fotógrafo Rodrigo Zeferino capta abordagens distintas pela rota da pesquisa artística. Ao guiar suas histórias pelo teor estético, Zeferino busca na técnica empregada a conformação do ponto conceitual. Em “Ocupação”, a cada imagem, uma bola de luz insiste em confrontar-se com a improbabilidade da possível cena registrada por Zeferino. O foco de luz impressiona e instiga nosso olhar não só pela forma, mas sobretudo pela inventividade. O que faz “aquilo” estar “ali”: seja na imagem ou na elaboração criativa? Cada um que apresente suas impressões. Parece sussurrar Zeferino…
“Atualmente, minha fotografia dialoga com a arte contemporânea. Transmitir uma ideia, um conceito que tenha continuidade no espectador, é minha busca diária. Fotografia está em tudo aquilo que pode ser visto: se há luz, pode ser fotografado. Mas a verdadeira expressão fotográfica está na mente de quem se dedica a um impulso natural de criar e de reciclar o olhar”, explica Zeferino. O fator surpresa, introjetado pelo conceito de Zeferino em “Ocupação”, ressalta a inclinação autoral pelo ficcional. A atmosfera revelada discorre sobre a existência de algo que desconhecemos, mas que decerto implicitamente vigora a elaboração do antes, da maneira como surge determinada luz. Por fim, a fotografia é conduzida como instantâneo. A provável fugacidade daquele “objeto iluminado” assegura certa divisão na percepção entre a tênue linha que cerca nossa realidade e as simulações insólitas dela.
Zeferino toma o caminho contrário em “Caixas”. A realidade documental é sutil, desprega-se da certeza concreta das “coisas edificadas”. Suavidade, penumbra e solidão misturam-se na fina camada que estrutura tais imagens. Apesar de não haver intervenção, a ficção paira… Paisagens que representam acima de tudo a possibilidade difusa de atestar a territorialidade e, ao mesmo tempo, de convertê-las em não limites para a imaginação. O que parece ser oblíquo abre-se na extensão de outros trabalhos que interrogam a função da arquitetura. Grande exemplo de obra fotográfica que difundiu a fotografia de arquitetura no âmbito do conceitual foram Bernd e Hilla Becher. Que por sinal é uma das referências de Rodrigo Zeferino.
Para Zeferino, durante muito tempo, foi difícil explicar as imagens que produzia. Como também o fez “rodar em círculos”, fato que lhe motivou a “radicalizar” seu sistema de trabalho. Lhe ocorreu: “desistir das imagens puramente belas e começar a escrever histórias de imagens, mesmo que em narrativas fragmentadas”. Sobre seu trabalho, ouviu de alguém que fosse violento com ele mesmo. Reconheceu que isso seria fundamental e seguiu em frente.
Georgia Quintas, abril de 2010.
Série “Caixas” (2009)
BIOGRAFIA
Ipatinga (MG), 1979.
Graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela PUC/MG (2001), trabalha com fotografia há 11 anos. Foram o Jornalismo e o ambiente acadêmico que lhe estimularam o olhar fotográfico, mesmo que em algum momento de sua carreira a prática jornalística tenha ficado distante.
Já mostrou seus trabalhos em Belo Horizonte, Ipatinga (MG), São Paulo, Porto Alegre e Berlim (Alemanha), e integra as coleções Pirelli/Masp de Fotografia e Gilberto Chateaubriand (MAM-RJ). Ganhador do Prêmio Usiminas de Artes Visuais (2005). Atualmente é um dos diretores da agência Grão Fotografia, com sede em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro.
Pela imagem, documenta o mundo com olhos livres.