Neste post, o bate papo é com a atual formação do Nafoto – Núcleo dos Amigos da Fotografia: Nair Benedicto, Fausto Chermont, Monica Caldiron e Rubens Fernandes Junior.
Veja os primeiros posts sobre o Nafoto, aqui e aqui.
OLHAVÊ Como surgiu a ideia do Nafoto?
NAFOTO No início dos anos 1990, logo após o impacto provocado pelo Plano Collor, com a desarticulação total de todas as instituições culturais, foi promovida uma reunião na Casa Fuji de Fotografia, através de uma convocatória de Stefania Bril (na época Diretora da Casa de Fotografia Fuji) e Juvenal Pereira (fotógrafo free lancer). Nesta reunião compareceram: Stefania Bril (também crítica da revista IrisFoto e do jornal O Estado de São Paulo); Juvenal Pereira, Iatã Canabrava (União dos Fotógrafos de São Paulo); Eduardo Castanho (MIS-SP); Rosely Nakagawa e Isabel Amado (Galeria Fotóptica); Nair Benedicto (fotógrafa, N-Imagens e F-4); Eduardo Simões(fotógrafo free lancer); Rubens Fernandes Junior (revista IrisFoto e pesquisador); Marcos Santilli (fotógrafo free lancer).
Nesta reunião, diante da falta de perspectiva cultural geral e na área da fotografia em particular, pois o INFOTO/FUNARTE que promovia as Semanas Nacionais foi uma das instituições violentamente atingida, imaginamos um evento de fotografia que seria realizado a médio prazo, que valorizasse a experiência do INFOTO e que fosse internacional. Stefania Bril que já tinha organizado os Encontros de Campos do Jordão nos anos setenta e já conhecia os eventos franceses similares (Móis de La Photo e Arles) propôs que pensássemos num evento reunindo estas experiências. Nas reuniões posteriores decidimos lançar a proposta com uma exposição coletiva que foi realizada na Galeria Fotoptica e concretizar a data de maio de 1993 como a realização do 1º Mês Internacional da Fotografia e que seria um evento bienal.
Em setembro de 1992, a convite da AFAA-Association Française d’Action Artistique, Juvenal Pereira e Nair Benedicto participaram do Móis de La Photo de Paris. Eduardo Castanho, que estava em Londres a convite da Cultura Inglesa se juntou aos dois em Paris. Assim deu-se início às negociações para participação francesa no nosso 1º Mês.
Desde o início buscávamos a valorização e disseminação da fotografia brasileira e da fotografia latino-americana em particular. Até este momento somente a fotografia norte-americana e a européia tinha alguma visibilidade no país.
Em maio de 1993, com 34 exposições (15 nacionais e 19 internacionais), mais palestras, workshops, mesas redondas, leituras de portfolios, realizamos com sucesso de público e critica o I Mês Internacional. Como convidados internacionais: Andréas Muller Pohle, Amanda Hopkinson, Graciela Iturbide, Eduardo Gil, Becquer Casaball, Ataulfo Perez Aznar, Michael Gray, Patrick Roegiers, Keiichi Tahara, Zelemir Koscevic entre outros.
Quarenta monitores foram preparados antecipadamente para trabalhar durante o Mês. Muitos deles estão hoje vinculados às instituições culturais.
Em parceria com o Sesc Pompéia fizemos uma enorme exposição de fotografia brasileira, com praticamente todos os estados representados, e onde os convidados estrangeiros ( curadores, críticos, historiadores, diretores de museu ) puderam conhecer um pouco da nossa produção. Tivemos a inesquecível presença de Geraldo de Barros na inauguração
O logo do Nafoto foi produzido pelo Ricardo Othake. Em maio de 1994 – A APCA- Associação Paulista de Críticos de Arte, deu o premio ao I Mês como Melhor Evento de Fotografia de 1993.
Apenas alguns destaques de participação estrangeira: Alain Fleicher (da França) exposição que ocupou o espaço todo do MIS-Museu da Imagem e do Som, Marc Riboud , exposição no Sesc-Pompeia, Andréas Muller Pohler exposição, projeção e palestra. Graciela Iturbide e Keiichi Tahara com exposição, workshop e palestra.
OLHAVÊ O Nafoto era baseado numa organização bem coletiva. Atualmente, este tipo de relação para concretizar projetos grandiosos – como o Mês Internacional de Fotografia – ainda funciona?
NAFOTO A realidade mudou dramaticamente nos últimos anos. Diríamos que as organizações promotoras de eventos culturais se inseriram num modo capitalista de funcionamento e os trabalhos culturais coletivos que buscavam a democratização da informação praticamente não subsistiram. Apesar disso, vemos com entusiasmo os coletivos produzindo e conseguindo viabilidade econômica e qualidade visual.
OLHAVÊ Um dos principais objetivos do Nafoto era a difusão, intercâmbio e educação. Como isso foi pensado e quais os frutos gerados por isso que podemos perceber hoje em dia?
NAFOTO Partimos do princípio que, apesar da fotografia brasileira ter qualidade técnica e estética internacional faltava-lhe visibilidade e reconhecimento. E também, num país como o Brasil ela poderia ser instrumento de educação e formação cultural. Com isso, desde nossa primeira edição, conseguimos reunir monitores (estudantes de graduação de instituições públicas e privadas) que foram essenciais na difusão das nossas idéias proposta pelas mais diferentes exposições realizadas. Por isso mesmo, logo após o primeiro evento (exposições, palestras, oficinas, leitura de portfólio, entre outras atividades em sua maioria gratuitas) organizamos, em parceria com o Senac, o I Seminário Internacional de Fotografia tendo como principais tópicos Fotografia e Educação; Fotografia e História; Fotografia e Publicação; e Fotografia e Novas Tecnologias.
As nossas exposições circularam pelas capitais brasileiras e latino-americanas e começamos a participar de eventos similares internacionais. Pela primeira vez a fotografia brasileira começava a ser demandada nos eventos internacionais. Espaços nobres da cidade e de grande circulação se abriram para a fotografia. Salas climatizadas especiais para expo foram criadas na cidade. Os meios de comunicação, diante de evento de tal envergadura abriram suas pautas para o assunto.De repente, dos mais conhecidos jornais das grandes capitais até o mais simples jornal de bairro, os programas de TV ( Jô Soares, Metrópolis, Jornal da Cultura….) faziam coberturas de eventos, entrevistas. Os locais ocupados com os eventos recebiam um público nunca visto.
OLHAVÊ Além da criação e realização do Mês, quais as ações do Nafoto que vocês destacariam?
NAFOTO Em julho de 1993, elaboração conjunta com Maria Luiza de Mello Carvalho do projeto “Novas Travessias”, que culminou com exposição em Londres com a presença de vários fotógrafos brasileiros e a edição do livro “Contemporary Brasilian Photography. O Seminário que realizamos após o 1º Mês, com o Sesc-Consolação (Fotografia e Educação; Fotografia e Novas Tecnologias; Fotografia e História; Fotografia e Publicação) com a presença dos maiores especialistas nestas áreas entre eles Naomi Rosenblun, Pablo Ortiz Monastério, Mark Sealy, Douglas Ford Rea, Nathan Lyons,Walter Rosenblum Nelson Brissac, Pedro Vasques, Moraci de Oliveira, Boris Kossoy. As exposições coletivas brasileiras organizadas pelo Nafoto que circularam pela América Latina, Europa e Japão; as exposições brasileiras organizadas por estrangeiros em parceria com o Nafoto; as oportunidades criadas para os fotógrafos brasileiros a partir das nossas conexões;
As exposições de Martin Chambi (pela primeira vez no país); de Marc Riboud (pela primeira vez); Graciele Iturbide, Luiz Gonzáles Palma e Keiichi Tahara(1° vez); Jacques-Henri Lartigue; André Kertesz; Henri-Cartier Bresson; Raymond Dépardon; Seydu Keita; A presença de Graciela Iturbide; Joel-Peter Witkin; Keichi Tahara; Luiz Gonzalez Palma; Alain Fleischer; Patrick Roegiers; Charles-Henry Favroud; Wendy Watriss e Fred Baldwin (FestFoto Houston); Jean-Luc Monterosso; Patrícia Mendonza (Centro de La Imagen, México).
OLHAVÊ Qual a situação atual do Nafoto e os planos futuros?
NAFOTO Para 2011, estamos elaborando um catálogo que reúne todas as atividades realizadas pelo Nafoto, com o objetivo de registrar e documentar nosso trabalho e propiciar uma fonte de pesquisa para as futuras gerações. O grupo atual é composto por Nair Benedicto, Fausto Chermont, Monica Caldiron, Fabiana Figueiredo e Rubens Fernandes Junior. A proposta é que por ocasião do lançamento deste Catálogo, também se organize exposições e um novo Seminário de reflexão.
Notas de Stefania Bril, é um livro que mostra o vigor da fotografia brasileira naquele momento em plena ditadura militar, travestida de civil.
Esse movimento, ensinou a muitos que estveram atentos a iniciativa desse grupo que soube fazer história. Parabenizo-os pelo legado que construiram.
Gd abs
Wank Carmo