Jonas Grebler

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Fotos: Jonas Grebler – Ensaio “Dois” (2005)

Muito espesso, muito obscuro, muito velado. As imagens que pensamos existirem, embora voláteis entranham-se em nossa percepção. Às vezes muito mais pelo que deixam de soslaio. Nas imagens que guardamos para nós, há porquês reconhecíveis e outros nem tanto. Confessamos o tempo todo nossas inclinações estéticas quando somos capazes de justificá-las. Não para assegurar que elas sejam importantes para o nosso entorno ou que sua beleza instigante seja a razão para toda e qual compreensão mais aprofundada do que vemos. Há casos em que as imagens se constróem pela singularidade do olhar em rever o mundo com a potencialidade da fotografia. Assim vi os ensaios Homem/Peixe e Dois, do fotógrafo Jonas Grebler.

Agora, refletindo e revendo em minha memória as fotografias de Jonas, faço esse percurso de contemplação, vejo o que restou delas em mim. Volto para elas, com a sensação de que houve um convite mudo – de coisas e homens – que se exilam nestes ensaios. O convite foi feito. É só olhar. Se não percebeu, olhe novamente. Sinta o quanto de mar, sal e peixe impregnam esse convite. Convite esse que dá voltas pela saturação, pelo contraste, muito mais pelo controle de luz de Grebler do que da indefectível natureza que rege o tema. Os pescadores e peixes de Jonas Grebler alinham-se na aura irreal e distanciam-se da sensação corriqueira inerente ao conteúdo documental.

Em Dois, devo lembrar do escritor argentino Julio Cortázar quando diz: “Não descrevo nada, tento entender”. Sejamos lúcidos, as coisas quando colocadas terrivelmente isoladas do seu contexto, escondidas em partes, na penumbra, reviram nossa relação de certeza e nos lançam para o jogos do sentido dos signos. Os objetos reconduzem cenas por meio dos referentes encontrados por Grebler pela Chapada Diamantina.

Para o fotógrafo, Dois pesquisa os vestígios de intervenções humanas e contrastes entre as paisagens produzidas pela mão do homem e pela natureza. A leveza com que representa as coisas em seus lugares é um dos pontos a ser observado neste ensaio. Lírico, simples e belo, assim o ensaio nos mostra cada coisa carregada de significados íntimos. Muito além da função temporal e especial que desempenham. Jonas Grebler traduz a emoção das coisas num sopro suave, descortinando a iconicidade. Os dois ensaios operam laços poéticos que nos ajudam a pensar na imagem fotográfica como uma lufada de particularidades hermenêuticas, graças ao poder simbólico que ela gera em nós.

Por Georgia Quintas, julho de 2011.

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Ensaio “Homem/Peixe” (2004)

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BIOGRAFIA

Salvador (BA), 1979.

Jonas Grebler é fotógrafo desde 1998. Durante a faculdade de Jornalismo, ironicamente, começou a se interessar por temas que fugiam à objetividade e ao mero registro. Após as experiências iniciais em veículos da imprensa, ele passa a trabalhar na Editora Corrupio, responsável por descobrir e publicar, no Brasil, a obra de Pierre Verger. Neste período começa a desenvolver trabalhos autorais.

Em 2006, viaja a Europa, onde residiu em Barcelona e posteriormente em Londres, colaborando com a revista Jungle Drums. Na volta ao Brasil, em 2008, passa a colaborar com as revistas Casa Vogue e Casa Claudia, paralelamente a seus trabalhos autorais.