Foto: Rosely Nakagawa – Luiz Braga e Tiago Santana no México em 1996
Sair para acompanhar um fotógrafo na rua é uma das experiências mais ricas que já experimentei.
Sempre acreditei que acompanhar o processo criativo do fotógrafo e do artista é compreender (entender e fazer parte) o seu universo artístico.
Em 1996, no V Colóquio Latino-Americano de Fotografia do México do qual participei com o NAFOTO, representando a Casa da Fotografia Fuji, pude acompanhar o Tiago Santana e o Luiz Braga numa caminhada pelo centro histórico da Cidade do México.
Neste Colóquio eu substituía a Stefania Bril numa mesa sobre fotografia brasileira contemporânea da qual participavam Juan Antonio Molina Cuesta e Rachel Tibol. Foi neste encontro que tive o enorme prazer de conhecer pessoalmente Graciela Iturbide.
Nesta saída no centro da Cidade do México, bem cedo pela manhã, fizemos uma bela caminhada, entrando em ruas , vielas, lojas, mercados, igrejas. O interessante foi ver o que cada um descobria, o que os fazia parar, com quem conversavam, como se relacionavam com as pessoas antes de fotografá-las.
Nenhum de nós falava espanhol, pelo contrário, o nosso portuñol selvagem revelou um trio estranho aos olhos do vendedor de tequila.
Fomos até Coyoacan, bairro onde além do Museu da Frida Khalo, acontece no final de semana uma feira popular de artesanato e é onde fica a casa da Graciela, que nos convidou para almoçar.
Fiquei encantada com a simplicidade e modéstia desta que é uma das mais expressivas e importantes fotógrafas, a quem admiro profissional e pessoalmente. Começamos uma amizade à distância que se mantém até hoje. Trocamos cartas (escreviamos cartas ainda até 1999) e livros através de amigos que iam ao México (e que sempre tinham esta tarefa de visitá-la para levar alguma coisa em meu nome).
Recebi assim quase todas as publicações da Graciela, convites para exposições, até que ela veio ao Brasil em 2010 para a sua grande mostra na Pinacoteca e nos encontramos pessoalmente depois de tantos anos. Nos falamos como se tivéssemos nos encontrado ontem.
A partir deste encontro com ela, recuperamos o desejo de iniciar um intercâmbio nascido desse nosso passeio pela cidade com Tiago Santana e Luiz Braga. Ela me pediu sugestões para conhecer algum lugar do Brasil “profundo” e imediatamente me lembrei da região de origem dos dois fotógrafos que identificaram-se com universos próximos de suas culturas e sugeri uma visita ao Crato (CE) e a Belém (PA).
Graciela não pensou duas vezes e foi para Juazeiro e o Crato de onde voltou “encantada” e ansiosa para voltar ao Brasil para conhecer Belém.
Vou agora de volta ao México para onde nunca havia voltado, de novo para participar do Fotoseptiembre e para intensificar o intercâmbio, com ganas de hablar o portuñol e empezar una outra aventura pelas cidades com nossos queridos amigos fotógrafos.
Por Rosely Nakagawa.
Fotos: Arquivo pessoal – Graciela Iturbide com Rosely Nakagawa
Iatã Cannabrava, Graciela Iturbide, Luiz Braga e Nair Benedicto