Foto: Pedro Martinelli
Este ano, o Parque Indígena do Xingu completa 50 anos. Uma ótima oportunidade para trazer ao público todas as contradições que acompanham a delimitação do maior parque indígena com toda sua exuberância e sociobiodiversidade.
O parque reúne 16 povos que tem se fortalecido com a apropriação de novos conhecimentos e mídias diversas para sua expressão e manifestação cultural.
À convite do André Villas-Bôas, coordenador do programa Xingu do Instituto Socioambiental – ISA, fiz o projeto expográfico da mostra desta história que se realizou na Cinemateca, com a colaboração da Sociedade Amigos da Cinemateca, simultaneamente a uma mostra de cinema.
O projeto foi um privilégio para conhecer mais sobre o Parque do Xingu e ao mesmo tempo foi uma viagem retrospectiva.
Recuperei o contato com o trabalho do Milton Guran, da Maureen Bisilliat e do Pedro Martinelli. Eles foram referências importantes na formação dos fotógrafos profissionais que surgiram na década de 1970, com atitude e envolvimento profundo e o engajamento pela causa. A sala especial “Xingu” feita pela Maureen Bisilliat no pavilhão da 13ª Bienal Internacional de São Paulo (1975) foi marcante e durante muito tempo minha referência de instalação com fotografias em exposições.
Assim como a mostra do Milton Guran no Museu da Casa Brasileira, “A Casa Xinguana” em 2008, me trouxe à memória seu belíssimo trabalho de 1978. Esta mostra do parque me fez relembrar o livro “Panara a Volta dos Índios Gigantes” de Pedro Martinelli, também editado pelo Instituto Socioambiental e que marcou os 20 anos de encontro com os “índios gigantes”.
Fachada da Enfoco em 1969
Quando eu aprendia técnicas de laboratório na ENFOCO [escola de fotografia em São Paulo] em 1974, o Pedro ampliava algumas fotografias realizadas com os irmãos Villas-Bôas para a aproximação com os então denominados Krenakarore, ou índios gigantes. Esta denominação surge por um engano da imprensa para divulgar a existência de Mengire, um panará de 2 metros de altura sequestrado da sua aldeia ainda criança e criado pelos Kayapó Mektyre (Txucahamae) que viviam na época no Parque Indígena do Xingu. A lenda a partir de então se disseminou até que no contato com os Villas Boas foi comprovada a estatura normal da média dos povos indígenas brasileiros.
“As tentativas de aproximação com os Krenakarore começaram em 1967, logo após a frustrada tentativa dos próprios índios de entrar em contato com soldados da base aérea do Cachimbo em busca de ferramentas e armas de fogo, interpretada pelos soldados como tentativa de invasão. A primeira expedição chefiada por Claudio e Orlando Villas-Bôas em 1968 não teve sucesso em contatá-los, o que só veio a acontecer em 1973, quando a Rodovia Cuiabá Santarém (BR-163) já cortava seu território tradicional.”
_Almanaque Socioambiental Parque Indígena do Xingu +50 anos. Editado pelo ISA.
Foi nesta aproximação que Pedro Martinelli realizou as já conhecidas fotografias dos Panará.
Acompanhei as primeiras cópias deste material. Afinal, elas foram a minha base de aprendizado das aulas de laboratório da ENFOCO. O Pedrão combinou com o Clode Kubrusly [dono da ENFOCO] que ele usaria o laboratório da escola em troca de uma “monitoria” para os alunos durante o horário de uso dos equipamentos e químicos. Eu ficava ouvindo as histórias das flechadas no avião da equipe, das ofertas de panelas e espelhos usadas para aproximação. Sem saber da dimensão e importância que este fato teria muitos anos depois, me surpreendia com a ousadia do fotógrafo que alterava os químicos e processos para trazer ao papel as imagens dos índios, super granuladas (como no filme Blow-up) fruto de um trabalho feito com inúmeras dificuldades.
Em 1993, o Beto Ricardo (então secretário executivo do Instituto Socioambiental – ISA), que conhecia esta história me pediu para apresentá-lo ao Pedrão para fazer as fotos do mesmo grupo 20 anos depois e participar da edição de imagens do livro “Panara a Volta dos Índios Gigantes”. O projeto gráfico da Maria Helena Pereira da Silva e os almoços na casa do Pedro para editar as fotos, fazem do livro uma experiência memorável.
Por Rosely Nakagawa.
Rosely
A história dos Panará é linda e emocionante, um dos projetos de livros que tenho mais carinho e saudades de todo o processo do trabalho.
Rita, minha filha, diz que é o seu predileto. Já perguntei o motivo, mas ela diz que não sabe.
Acho que nós sabemos, não é?
Continue contando suas histórias. Estarei acompanhando. Bjs.