Manchas no espírito
Por Georgia Quintas
A fotografia nos coloca em seu justo simbolismo quando desvela a potencialidade da estética em sinergia com a poética. Paradoxalmente, sejam espaços vazios, inanimados, anônimos, destituídos de significado imediato, nossa imaginação se apega aos vestígios de nossa memória.
Em Aluga-se, o fotógrafo mineiro Pedro David, extraiu da simplicidade plástica, o enlevo dos sonhos, do prazer de olhar e de se perder por recantos oblíquos da memória. A suavidade da beleza cromática desses apartamentos protagoniza – mais do que um discurso – um fenômeno. Aluga-se emana certa fruição pelo visível que provoca a percepção atingindo a sensibilidade, o encanto, a contemplação e os sentidos.
Ele entrou nos apartamentos como um errante. Em cada espaço, vagou ao encontro de “manchas luminosas”. Teria que escolher um lar para morar. No vazio, seu olhar colou nas paredes, nos cantos. Sentiu atmosferas pela luminosidade. E na ausência de referências típicas de um lar, fez das cores o vislumbramento de lugares que imaginamos para viver.
Por átimos, desconfiamos das luminosidades capturadas por Pedro David, como sendo particulares, confessionais, lembranças de lugares nos quais moramos outrora e que fazem parte da nossa história. Como num sonho turvo, poderíamos divagar… Talvez, sejamos um extrato de imagens que trazemos em nós. Aluga-se lança-nos à uma possível reserva de sensações, a percursos espectrais pelo nosso espírito.
* Texto de apresentação do ensaio Aluga-se de Pedro David na exposição “O Espaço que Guardamos em Nós”, no MIS/SP entre 11/11 ~ 11/12/2011. Exposição coletiva de Pedro David e o Coletivo Garapa com curadoria de Isabel Amado.
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