Presencia é o título do ensaio da fotógrafa uruguaia Liliana Molero. O argumento, a própria Molero escreve: “En un lugar que es borde de la civilización, miro y registro la presencia de seres con que compartimos un espacio de todos y de nadie, y huellas de nuestro propio estar. Árbol, ave, caballo, hombre. Tierra, mar, cielo. Madre universal que nos precede y forma. Espiral de vida. Cuidado”.
As paisagens de Presencia são belas. Impressionam pelos tons, pelo esfumaçado que borra os limites dos objetos fotografados. Pela suavidade plástica, a fruição estética transborda.
Tudo que Liliana Molero põe no texto acima é plausível. Contudo, a atmosfera concebida pela fotógrafa é prelúdio, não-lugar (o mesmo do conceito do etnólogo Marc Augé, o lugar que pertence a todos e a ninguém, um lugar diluído, de passagem), a imensidão da sensação.
A paisagem-experimento de Liliana Molero é costurada através de imagens fotográficas que propõem a percepção do sonho, da imaterialidade e do deleite visual.
Em Presencia, o belo condicionado à imagem parece determinar a sedução do olhar, fato que não garante a fruição propriamente; mas que, nessas paisagens – de granulação marcante –, surge o caráter de prazer. Da contemplação envolta em encantamento perceptivo, que naturalmente nos permite rever nossa memória visual, adentramos em um conceito temático simples que é fotografar a vida. E o olhar sensível de Molero constrói, a partir do singelo, a dimensão poética da natureza.
A recorrência do recurso visual de imagens com véus, trabalhado pela fotógrafa, faz com que seja um ensaio que nos surpreenda pelo contentamento em ir a lugares de múltiplas identidades ou nenhuma. Ser feliz diante de uma fotografia cabe ao fato de consideramos se o que vemos é plausível para a nossa imaginação. Presencia ajuda a pensar nisso.
Por Georgia Quintas
* Texto originalmente publicado em 2010 no Fórum Virtual, blog do Fórum Latino-americano de Fotografia de São Paulo.
Fotos: Liliana Molero