Fotos: Ricardo Chaves
A revista VEJA foi a primeira revista semanal a ter um editor de fotografia. Na década de 1970 isso foi um avanço em relação ao reconhecimento da profissão do fotógrafo, do direito autoral e do papel da imagem na matéria.
O fotógrafo começou a ter formação profissional, as editoras começaram a abrir sucursais pelo Brasil, revelando nomes que ainda hoje são referências importantes na fotografia brasileira como Cristiano Mascaro, Sergio Sade, Amilton Vieira, Pedro Martinelli, Luiz Bittar, Ricardo Giraldez, Ricardo Chaves (o Cadão) entre muitos outros.
A profissão de fotógrafo começou a ser mais reconhecida, sendo criada no final da década a União dos Fotógrafos para regulamentar e reivindicar questões como pagamento, crédito, arquivo, condições de trabalho, etc. Com a figura do editor nas reuniões de pauta, a fotografia deixa de ser apenas uma ilustração para muitas vezes ser o ponto de partida da matéria.
Neste cenário tive a idéia de fazer – para a inauguração da Galeria FOTOPTICA (10 de outubro de 1979), uma exposição de fotojornalismo, reunindo os trabalhos de fotógrafos das duas maiores revistas semanais, a VEJA e a Istoé.
Teoricamente isso era um bom projeto: mostrar o melhor do fotojornalismo, numa época em que se respirava um pouco mais depois do final da ditadura. Eu queria mostrar o dia a dia das redações, as discussões de pauta, o cotidiano do fotógrafo de jornalismo.
Fiz diversas reuniões com o Sergio Sade, então editor da VEJA e o Helio Campos Mello, que começava seu trabalho de editor na Istoé e no recém criado Jornal da República.
O ambiente de trabalho era dos mais agitados, jovens fotógrafos com equipamentos importados, diretores de arte, estagiários, recursos gráficos começando a substituir velhos processos de reprodução com muita qualidade, o que ampliava o uso da fotografia nas capas e páginas internas.
A seleção do tema para a exposição mudava a cada semana, naqueles tempos agitados de greves, manifestações por melhores condições de trabalho. Estavam sendo retomadas (timidamente) as manifestações populares depois de um longo período de ditadura. Este seria o roteiro da mostra que foi um sucesso de público mas não de imprensa; ironicamente descobri que basta envolver um veículo de imprensa numa exposição para que a mostra não seja divulgada em nenhum deles.
A galeria também era uma coisa nova, foi a primeira galeria de fotografia de São Paulo. Depois da abertura organizei uma mesa redonda para que o público pudesse conhecer o ambiente efervescente que eu havia vivenciado durante o período de pesquisa e edição das imagens para a exposição.
Meu projeto era reunir os dois editores para mostrar suas diferentes visões e pontos de vista de duas gerações. O Sergio Sade e o Helio Campos Mello foram convidados e aceitaram sentar frente a frente.
O que eu não sabia e nem poderia imaginar, era que no dia marcado para a mesa redonda, uma negociação em andamento estava para explodir. Neste dia (23 de outubro de 1979) Amilton Vieira, antigo contratado da revista VEJA, havia sido convidado pelo Helio Campos Mello para trabalhar na IstoÉ. Ele pediu demissão da revista na qual trabalhava e chegando na redação, o cargo sugerido havia sido ocupado por outro profissional indicado pelo presidente. Revoltado, ele procurou o Pedro Martinelli (então fotógrafo e seu colega da VEJA) para conversar e os dois passaram a tarde discutindo o caso.
Sabendo disso, o Helio Campos Mello não foi para a mesa redonda, enviando em seu lugar o Luiz Bittar e o Ricardo Giraldez. A mesa seria realizada no subsolo da galeria, que se acessava por uma estreita escada. Sem saber do ocorrido, estávamos eu e o Sade, aguardando o Helio campos Mello para inaugurar o espaço de discussão da galeria para os fotógrafos.
Ao invés disso, recebemos uma briga rolando escada abaixo.
A confusão estava armada. O Pedro Martinelli chegou alteradíssimo, saindo em defesa do Amilton, personalizando a decisão da Istoé na figura dos fotógrafos Luiz Bittar e Ricardo Giraldez então fotógrafos da revista, ali presentes.
Assustados sem saber o que fazer, o Sade saiu em minha defesa sugerindo que eu apagasse a luz e saísse pela porta dos fundos.
Foi o que fizemos rapidamente e assim terminou a minha tentativa de discussão traumática.
Encontrei o Cadão muitos anos depois. Ele me revelou ter fotografado o grupo de fotógrafos na saída da galeria e não só isso: ele escreveu duas laudas sobre o episódio histórico (aqui e aqui).
Lembrada sempre por muitos dos presentes, esta história guardada é também de autoria do Cadão que gentilmente me passou os arquivos que a ilustram.
Por Rosely Nakagawa.
Luiz, você tem toda a razão. João e José.
Obrigado!
Pesquise antes de escrever. João nunca teve um irmão chamado Luiz. Seu irmão e também fotógrafo se chama José Bittar.
Luiz é irmão de João. Além de toda uma história, criaram a agência Angular.
Quem é Luiz Bittar? Acho que você está falando de João Bittar.
O Kadão é o entrevistado da Digital Photographer Brasil de fevereiro!
Faz um livro Rosely!
De emocionar conhecer os meandros da historia da fotografia brasileira – que passa pela evolução do fotojornalismo e, dentre outros, pelos nomes aqui citados. E da Rosely
Que ótima lembrança de você e Cadão ! na ultima foto a esquerda, está o grande Irmo Celso, com quem tive o prazer de acompanhar na minha primeira pauta como profissional…ao lado o Giraldez e o Luiz Bittar, irmão do querido João que nos deixa saudade.
Saudade também do tempo que a revista Veja tinha um editor de fotografia! Que cuidava das imagens pelo viés jornalístico e não um yes man chamado de diretor de arte.
Saudade do tempo onde quem escolhia as imagens na Abril era o Pedrão Martinelli ou o Rosemberg, e que esses diretores de arte, que há tempos fazem essa função, eram só diretores de arte, não representações dos simulacros de imprensa pasteurizada e sem criatividade que a própria empresa faz questão de cultuar!
Felizmente, para tudo há exceção, e alguns grandes fotógrafos ainda carregam o piano nas costas!
Cadão, estamos aguardando esse livro de memórias!
abraços
Juan Esteves