FOTOBIENALMASP 2013

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“Além do pioneirismo da iniciativa, a Coleção Pirelli-MASP de Fotografias constitui-se numa doação de interesse público, pois enriquece o acervo de um museu e valoriza a fotografia brasileira, permitindo que seja melhor conhecida no país e no exterior. A exposição e este catálogo são a primeira etapa de um trabalho que, temos certeza, trará bons frutos para a fotografia brasileira”.

Fábio Magalhães, então Conservador Chefe do MASP, e Piero Sierra, então

Diretor Superintendente da Pirelli no Brasil.

O trecho acima é do texto do primeiro catálogo da Coleção Pirelli/MASP de 1991, e foi lembrado no texto do professor Rubens Fernandes Junior no catálogo da 19ª edição da coleção (2012).

A Coleção Pirelli/MASP nasceu em 1990/1991. Na mesma época, eu começava na fotografia e, mesmo antes de comprar uma câmera, já fuçava tudo que me chegava de revistas especializadas e os poucos livros. Era o Recife no começo da década de 1990 sem internet nem Amazon. Lembro da iniciativa da Coleção como algo novo, pioneiro.

Quando algum amigo vinha para São Paulo, pedíamos para trazer os catálogos. Com o tempo, aqueles livros coloridos se tornaram uma das nossas mais importantes fontes e referências para conhecer os fotógrafos nacionais. Era uma delícia.

Fiquei sabendo da FOTOBIENALMASP 2013 por amigos e, até receber o release do MASP, não sabia muito bem do que se tratava. A imprensa só fazia divulgar o novo evento sem explicar o que me deixava curioso: e a Coleção Pirelli/MASP? Fiquei ainda mais inquieto (e pensativo) ao ler a matéria no Estadão de 14 de agosto.

Ok! É só ler a matéria que falam disso. Será? No Estadão, Teixeira Coelho, curador-chefe do Masp, disse “O critério Brasil parece superado”. O release trazia o seguinte: “A linguagem da fotografia tradicional será confrontada, nesta Bienal, com os demais meios artísticos que com ela hoje dialogam, como a pintura, o vídeo, a instalação. Esse diálogo entre as diferentes linguagens marca o propósito renovador que anima esta nova fase da coleção Pirelli no MASP”.

Para mim, temas resolvidos em décadas passadas quando eu ainda era criança.

A Coleção Pirelli/MASP teve 19 edições. São quase 300 autores e mais de mil obras. Dizer que o critério Brasil parece superado parece uma afirmação simplista. Se formos falar só do meu quintal (como estudo de caso): quantos fotógrafos pernambucanos estão na coleção? E essa nova geração que não para de acontecer? Ok. Posso estar sendo simplista também.

Sobre a exposição em si, a FOTOBIENALMASP 2013, não vou tocar neste assunto agora. Fiquei também pensativo a respeito do resultado, do conjunto das obras. Assunto para outro post…

Bem, o Olhavê fez algumas perguntas para o MASP sobre a coleção e, gentilmente, Teixeira Coelho respondeu.

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Tela do site da coleção Pirelli/MASP. Vale passar horas navegando por lá.

* Teixeira Coelho é curador coordenador do MASP e idealizador do formato da FOTOBIENALMASP.

Em matéria no Estadão (14/08/2013), o senhor afirmou que “o critério Brasil parece superado” e “precisamos nos abrir para cotejar a produção nacional com a estrangeira”. Para ter esta comparação de produção, saudável, foi necessário descontinuar uma das mais importantes e prestigiadas coleções de fotografia do mundo? Isto não representa um retrocesso para a pesquisa fotográfica brasileira?

A coleção MASP/Pirelli não foi descontinuada, nem por um momento e nem de longe. Pelo contrário, será e está sendo reforçada: a cada edição da FotoBienalMASP serão compradas tantas fotografias quanto o permitirem os recursos providenciados pelo patrocinador, que se manifestou no sentido de reforçar a dotação para esse objetivo. E a compra de novas fotos será feita levando-se em conta a linha da Coleção existente, sem se limitar a ela. É o que se deve fazer sempre em toda coleção.

A Coleção Pirelli/Masp nasceu em 1990 e teve 19 edições. São quase 300 autores e mais de mil obras. As publicações (os catálogos) de cada edição fizeram parte da formação de algumas gerações de fotógrafos e já circularam o mundo. Quais os planos futuros do MASP para esta coleção?

Continuar a desenvolvê-la e dar-lhe forças, com a publicação de catálogos mais robustos do ponto de vista do conteúdo, como demandado pela historiografia e pelos princípios curatorias contemporâneos, mais exigentes, e mais atraentes do ponto de vista editorial. O patrocinador já demonstrou seu interesse em promover viagens de cada edição da FotoBienal a outras cidades do país e, mesmo, do exterior.

No release divulgado pelo MASP, o senhor afirma que: “As fronteiras foram abolidas e a fotografia hoje deu um passo além da fotografia como era conhecida”. Qual a proposta do MASP com este “caráter renovador”?

A linha de orientação da FotoBienalMASP 2013 foi a de explorar os limites entre a fotografia e outros meios como a pintura e o vídeo, conforme a proposta definida com o curador convidado Ricardo Resende. Os gêneros e as linguagens de fato hoje se mesclam ou se hibridizam, para usar um termo já consagrado. A própria fotografia em si não mais se limita a registrar um aspecto social, curioso ou belo da vida e do mundo. Como as outras artes, ela se vota sobre si mesma, se pergunta sobre o que lhe cabe fazer e sobre o que pode fazer. E tal como as outras artes, a fotografia muda aceleradamente com o tempo: outras edições terão diferentes propostas segundo as orientações curatoriais nelas assumidas e previamente discutidas com o comitê curatorial do MASP.

A Coleção contava com um conselho há mais de duas décadas. Qual foi a participação dos membros na FOTOBIENALMASP e [qual será] nos novos projetos de fotografia do MASP?

O conselho anterior foi sendo desfeito aos poucos, com a morte de dois de seus integrantes, a doença de um terceiro e o afastamento de outro. E esse conselho não teve nenhuma participação no evento de 2013. No novo formato –bianual; que contemple as tendências contemporâneas da fotografia em suas mais amplas manifestações, como se pode ver nesta primeira edição; e com mais recursos –, as decisões serão tomadas pelo comitê curatorial do MASP do qual sou no momento o presidente. Esse comitê, quando tomou a decisão de propor à Pirelli uma ampla reforma nos procedimentos da Coleção, aceita por esse patrocinador, era composto, entre outros, pelo fotógrafo João Musa, pela artista Regina Silveira, pelo crítico Celso Favaretto e pelos colecionadores Fausto Godoy e Miguel Chaia, nomes representativos em suas respectivas áreas de atuação e que compartilhavam conosco a ideia da necessidade de mudanças nessa área.

O processo de organização das exposições anteriores, com a correspondente compra das fotografias, era feito largamente fora do âmbito do museu e sem acompanhar de perto sua agenda. Duas décadas, de resto, é tempo mais do que suficiente para a atuação de um conselho curador, não? A renovação deve começar também por aí. E embora o comitê curatorial do MASP coordene agora todo o processo, ele próprio não se envolverá diretamente na organização de cada evento: designará, bianualmete,  um curador ou curadores convidados, diferentes a cada vez, assegurando com isso a desejada rotatividade no modo de entender a fotografia num museu como o MASP e garantir a mais ampla representatividade dos diferentes domínios dessa arte.

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