Fotos: Arnaldo Pappalardo
Arnaldo Pappalardo é meu amigo e contemporâneo, estudamos arquitetura na FAU/USP na década de 1970. Em 1974, comecei a trabalhar como assistente do Cristiano Mascaro na reforma do laboratório de fotografia da Faculdade.
A FAU/USP tinha em seu projeto original a área de laboratórios no subsolo; o laboratório fotográfico era coordenado pelo departamento de Recursos audiovisuais e pelo Cristiano. O laboratório de Recursos Gráficos (altamente subversivo nesta década) possuía uma gráfica offset, onde as aulas da Renina Katz eram complementadas com tipografia e xilogravura sob a supervisão do João Pereira. Era lá que passávamos a maior parte do tempo do turno completo do nosso curso de arquitetura, onde conheci meu marido Rubens Matuck, onde fizemos a revista Poetação com Milton Hatoum, Miriam Korolkovas e Tania Parma. Formamos a editora João Pereira (para a publicação de livros de artista) com Feres Khoury e Luise Weiss. Além disso tínhamos a biblioteca, uma das mais completas sobre arte e arquitetura brasileira, criada por Flavio Motta e o laboratório de maquetes, com uma marcenaria e forno para esculturas, completo.
Esta introdução, um pouco longa, me ajuda a refletir sobre como se forma o pensamento e o processo criativo do Arnaldo Pappalardo, até chegar à realização da exposição Tavoletta que estava recentemente no Museu da Casa Brasileira. Ele constrói seus ensaios como fazia desde o início do seu trabalho quando produziu o Tensão sobre a Calma. Sua criação se fundamenta na pesquisa, na experimentação, na construção do olhar com experiências concretas.
A formulação do projeto começou há três anos. Certamente partiu da imagem, mas foi acrescida de experiências como a do espelho que dá nome à mostra e que foram elaboradas com o diálogo estabelecido com Nelson Brissac.
Depois disso ele partiu para a construção da maquete em escala que reproduz as três salas do Museu, reformulando o projeto ao longo destes três anos.
A edição das imagens, em fotografia ou em sequências, projetadas em Super 8 e HD captadas na câmera, a câmera obscura instalada no jardim do Museu, foram discutidas em detalhes, já em maquete que traduzia a relação das diversas mídia e entre as obras instaladas no espaço. Este processo é muito rico para quem arquiteta um projeto como ele.
A formação em arquitetura fez a diferença na elaboração do seu trabalho criativo que coloca em ação todo o corpo. A mão, o olhar, o cérebro, alinhados de uma forma diferente de Bresson, com um resultado que também solicita o nosso corpo na fruição da obra.
Rosely Nakagawa.
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