O fotógrafo pernambucano Ricardo Labastier é quase da equipe do Olhavê. Nada de artista agenciado ou coisa parecida. É por amizade e afinidade.
Nem vou me alongar neste abre de entrevista e indico alguns links sobre Labastier aqui no Olhavê.
A foto que eu queria ter feito
Autorretrato
A sua fotografia é uma fabulação da realidade ou a insistência do vigor em procurar respostas?
Acho que é mais o rigor na “solução”. A resposta sempre não vem. Sendo assim já tenho a resposta. A “solução” qual me refiro não considero fabulação, menos ainda da realidade – esse martelo matinal, logo ao por os pés no chão, que chamamos realidade, pra mim é um traço marcante na minha vida. Ela existe, persiste, insiste e atua nos menores detalhes. Não fabulo com ela. Acho que projeto sentimentos reais ao fazer escolhas mundanas, poéticas, traiçoeiras e doloridas. Mesmo sem que as respostas nunca a mim cheguem, tenho um imenso prazer em produzir imagens conectadas tecnicamente e sentimentalmente com a minha vida, mesmo consciente que isso não é a solução, nem a resposta.
Há limites para a fotografia?
Não há limites, tudo é expansão, conhecimento, liberdade. Mas, essa abundância de limites não seria o próprio limite, onde as imagens se tornam mais uma? Para mim o que realmente não tem limite é a inquietação humana, é a sabedoria da finitude que nos transforma, nos silencia num plano maior que a música, a pintura, a fotografia e a dança, por exemplo. Então nos utilizamos desses canais para tornar, talvez, um pouco mais perene essas sensações. Mas sim, deve haver uma enorme paixão dentro do nosso peito, lá de longe, bem nossa, bem egoísta e linda para crer nessas possibilidades.
Chegamos a algum lugar através das imagens fotográficas?
Acho que chegamos sim. Qualquer movimento é antítese de inércia, de estado letérgico. Acho que densa ou arejada, a fotografia nos educa, nos deixa levemente reflexivo ou tensamente pensativo. Mas acho que é necessário conhecimento para entendê-la. E, exatamente por isso, por aversão a essa “máxima”, que tento atingir o “que não entende”. Não de forma premeditada, jamais, até porque me permito muito, indo, indo, sabendo que quanto mais mais vou indo estou ciente que indo estou. Isto, de uma forma ou de outra, é delicado. Mas fotografar ainda é um prazer e educar também.
Por que precisamos da fotografia? Ou melhor, precisamos da fotografia nas nossas vidas?
Com toda sinceridade equivocada desse mundo, acho que uma única fotografia me salvou do quarto escuro: uma criança linda no seu aniversário comemorando mais um presente. Aquela cena me fez acreditar que a fotografia, com todos os seus “encantos” e novidades, não se segura sem que uma paixão qualquer deixe um charme ou uma lavanda nas nossas vidas.
Luziânia imaginário, Goiás, 2006