Foto: Flávio de Barros
Ao receber a pergunta qual “a foto que eu queria ter feito”, centenas de imagens saltaram como que gritando na minha mente, na tentativa de induzir minha escolha. Não me rendi as imagens icônicas do fotojornalismo e optei por essa pouco conhecida e feita em de 2 de outubro de 1897, na rendição de Canudos.
A foto de Flávio de Barros sobre o fim da Guerra de Canudos tinha marcado meus anos de faculdade, no final da década 80. Canudos foi um assunto que sempre me fascinou. Na ocasião, vi tudo que encontrei do trabalho de Barros naqueles últimos meses de guerra e, claro, consumi o livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha. Escritor e fotógrafo se cruzaram documentando cada um a sua maneira aquele momento histórico.
A foto de Barros – que queria ter feito – mostra muito mais que a rendição da gente de Antônio Conselheiro. O olhar de cada um daqueles sertanejos revela um sentimento que, ainda hoje, se pode ver nos olhos de pessoas que habitam os rincões do país, a esperança interrompida.
Mesmo depois de 116 anos, ainda vemos esses olhares pelos rincões do país. E os motivos nem são tão diferentes. A desesperança vem por conta da seca, pela fome, pela falta de médicos e escolas, pela existência de coronéis sem fardas que mandam em tudo e pela falta de possibilidades.
Queria ter feito a foto pela verdade que ela mostra, pelo documento que ela se tornou e pela atualidade dessa imagem capturada em 1897.
Barros também é autor da famosa foto de Conselheiro morto, feita quatro dias depois da imagem que escolhi.
Valdemir Cunha.