Idílio

Fotógrafo: Rogério Assis.

Edição, curadoria e expografia: Georgia Quintas e Alexandre Belém.

Local: Centro Cultural São Paulo, 15 de julho até 11 de agosto de 2019.

Produção executiva: Mônica Maia (Revelar Brasil) e Frida!

Idílio

O ensaio Idílio realiza em imagens o encontro entre alteridade e pesquisa antropológica, através de contundente documentação feita pelo fotógrafo Rogério Assis. Idílio apresenta o cotidiano da população ribeirinha da região de Curralinho, na Ilha do Marajó, mais precisamente da comunidade Boa Esperança, localizada no Rio Pagão. Assis vivenciou, nessa viela fluvial, a vida de cerca de 40 famílias, as quais sobrevivem da economia extrativista (açaí, camarão, pescado e mandioca).

As camadas de Boa Esperança, com suas paisagens naturais e construídas, revelam nuances do grupo social que ali habita. Mas não necessariamente nessa ordem. Idílio traz para o centro do olhar a suspensão vital da população ribeirinha brasileira sob as águas dos rios da região amazônica. Uma realidade tão perto e tão distante. Tão bela e dura. Tão arrebatadora e prosaica. Nas imagens de Assis, a disposição em estar próximo do cotidiano da comunidade camufla-se na onipresença da natureza. As imagens de Idílio crescem, sobretudo, pelas pessoas. São retratos da convivência partilhada que refletem a generosidade de quem abriu a porta da própria casa.

A força de um lugar, o vigor do grupo social, a generosidade da natureza e as particularidades culturais não se apresentam facilmente no nosso imaginário. Por tudo ser tão amplo em diversidade, a paisagem de certo espaço é experiência única e complexa. Observar e sentir são verbos profundos para exercitar o mapeamento de significados materiais e imateriais. O caminho da alteridade mostra-se com potência para aquele que procura o outro em sua dimensão simbólica, econômica, cultural, ambiental e social. Nessa extensa tarefa em relacionar-se com determinado território, é preciso navegar através do espaço de vida com olhos porosos – os quais ampliam as imagens sutis que encontramos in loco. A fotografia elegante e precisa de Idílio apresenta-se ora como as coisas são na realidade, ora como são num sonho pleno de delicadezas entre a natureza e o ser humano. Fotografias ajudam a compreender que a dimensão social pode ser vista em seus fluxos de subjetividades e representações. É nesse limiar, entre o dia e a noite profunda sob águas escuras, que a documentação fotográfica-antropológica de Rogério Assis congrega a sinergia entre a vida ribeirinha e a visão poética de estar dentro dela.

Georgia Quintas.

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