Grandes fotógrafos e suas Polaroid SX-70

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©André Kertész

Escrevi uma matéria sobre alguns livros (de grandes fotógrafos) que foram feitos com a Polaroid SX-70. A editora da edição de domingo do Caderno C (Jornal do Commercio), Flávia de Gusmão, achou legal e publicou. Abaixo, coloco o PDF das duas páginas.

Abaixo, o texto e as duas páginas do jornal em PDF.

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Polaroid deixa saudade

Alexandre Belém
abelem@jc.com.br

No dia 8/02/2008, uma das marcas mais conhecidas no mundo da fotografia deu adeus. A empresa Polaroid anunciou que deixaria de produzir os célebres filmes instantâneos. As câmeras Polaroid já haviam parado de ser fabricadas há mais tempo. O tiro de misericórdia foi o fim dos filmes, insumo que move até hoje os aficionados. Pensar em Polaroid, num primeiro momento, é pensar em foto amadora. Aquela foto meio esmaecida, coisa de família e fim de semana. Um dos motivos para essa fama, que ficou no inconsciente das pessoas, é por causa das câmeras que a empresa lançou para o público amador – bastante popularizada no Brasil com a Polaroid 636. Mas, a Polaroid vai além. No meio publicitário e da moda, antes das máquinas fotográficas digitais, a fotografia feita com a Polaroid era a prova de que a luz estava correta. Porém, a fama da marca só começou, de fato, nos anos 70 quando foi lançada a mítica Polaroid SX-70.

A SX-70 alavancou a empresa e conquistou os fotógrafos profissionais. Essa relação câmera e fotógrafo, aliás, já rendeu bons casamentos. É o caso de Henri Cartier-Bresson (1908-2004) e sua Leica (câmera que popularizou o formato 35mm), Robert Doisneau (1912- 1994) e sua Rolleiflex e o paisagista Ansel Adams (1902-1994) com suas câmeras de grande formato. Do mesmo modo, figuras lendárias do mundo da fotografia já se deleitaram em ver a emulsão virar uma foto na hora.

Um bom exemplo de profissional consagrado que teve seu nome atrelado à Polaroid é Ansel Adams, um dos maiores fotógrafos de paisagem do mundo. Adams, por sinal, foi consultor, em 1948, de Edwin H. Land, inventor dos filmes instantâneos. Outro bom exemplo é o norte-americano Robert Mapplethorpe (1946-1989). O mais polêmico fotógrafo da década de 80, começou a fotografar com uma Polaroid e só depois partiu para as câmeras de médio e grande formato. Entre 1970 e 1975, Mapplethorpe registrou – em Polaroid preto e branco – still life, auto-retratos, namorados e amigos. O resultado foi a publicação em 2007 do livro Mapplethorpe: Polaroids. Walker Evans (1903-1975), célebre fotodocumentarista, utilizou a Polaroid nos últimos anos de sua vida. Em 1973, ele começou a fotografar com a (já famosa) SX-70. Nos dois anos seguintes, fez mais de 2000 fotos e 300 dessas imagens foram publicadas no livro Walker Evans: Polaroids (2001). No Brasil, podemos citar o fotógrafo paulista Cássio Vasconcellos com um belo trabalho em Polaroid: Noturnos – São Paulo (2002).

Até o mestre dos mestres, o húngaro André Kertész (1894-1985) usou a Polaroid. Já chegando aos 80 anos, depois de perder a esposa, Kertész encontrou amparo na Polaroid SX-70. Morando sozinho, ele ganhou de um amigo, o músico Graham Nash, a câmera. O filme instantâneo deu liberdade a este fotógrafo já idoso que revelou e ampliou todo o seu material por mais de 40 anos. O livro André Kertész – The Polaroids foi lançado em 2007. São 65 imagens da década de 70, basicamente still lifes e pessoas que iam visitá-lo. Outro livro de Kertész, chamado From my Window, lançado em 1981, virou raridade no mundo fotográfico. O livro mostra fotos, também em Polaroid, feitas da janela do seu apartamento. Peça de colecionador, o livro custa em torno de US$ 300 nos sebos dos EUA.

Seis meses se passaram do anúncio oficial da empresa e o que restou foi o lamento de milhões de órfãos espalhados pelo mundo. Algumas iniciativas foram criadas, como é o caso do site Save Polaroid (http://www.savepolaroid.com). A idéia é convencer alguma empresa a voltar a fabricar os filmes para suprir as milhões de câmeras Polaroid agora inúteis. Multinacionais como Fuji e Ilford já comunicaram a falta de interesse. Porém, a marca comercial virou ícone, suporte artístico e imortalizou-se. Fato atestado pela atual exposição Polaroids: Mapplethorpe que está acontecendo, até sete de setembro, no Whitney Museum, um dos museus mais prestigiados de Nova Iorque.

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