Luis Humberto

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O terceiro perfil publicado pelo Olhavê, escrito pelo jornalista Moracy Oliveira, é com o fotógrafo Luís Humberto. De minha parte, só posso dizer que sou um admirador, fã mesmo. O tema político foi retratado de forma única, magistral. Dentro de casa, fez um retrato da classe média com sensibilidade.

Mais fotos de Luís Humberto, aqui.

Os outros perfis: Carlos MoreiraPenna Prearo.

Agradeço imensamente Zuleika de Souza pelo retrato de Luis Humberto.

luis-humberto-zuleika-souzaFoto: Zuleika de Souza – Luís Humberto, 2006

Por Moracy Oliveira.

O deputado Leão Sampaio, um velho conhecido, se aproximou da morena Eloah, funcionária da Câmara, e o mais discreta e gentilmente possível perguntou: “vocês estão passando necessidade?” Eloah, surpresa, negou e quis saber o motivo da inesperada pergunta. “É que vi o Luis na rampa do palácio, tirando retrato”.

A história, ocorrida em 1966 e contada com humor pelo fotógrafo Luis Humberto, é significativa. Em primeiro lugar revela a visão que se tinha do fotojornalismo, uma espécie de subprofissão, de porto onde se ancorava gente vinda de todas as áreas, de formação precária e instinto predatório, para “tirar retrato” dos poderosos de plantão. Em segundo, registra o inicio da carreira de Luis Humberto, um fotógrafo que nos anos seguintes iria arejar o fotojornalismo político com suas imagens irreverentes, críticas, ácidas e reveladoras de uma face do poder que se impunha ao país pela força e que era pouco conhecida.

Alguns meses antes, Luis Humberto havia se reunido ao grupo de 300 outros professores e funcionários da UNB – Universidade Nacional de Brasília, num pedido de demissão coletiva, em ato de protesto contra o governo militar que exigira a demissão compulsória de 15 dos principais professores da instituição. Luis, que vinha atuando como arquiteto e professor, respondendo, em coautoria, pela construção de blocos de futuras unidades da Faculdade de Educação, não viu outra opção de reagir contra a barbárie que atingia o núcleo de um projeto de conhecimento e discussão do país.

O abandono da arquitetura e a profissionalização em fotografia não foi um gesto de momento, uma decisão voluntarista. Luis Humberto já era um fotógrafo com amplo domínio da linguagem como revelam seus primeiros trabalhos intimistas e familiares, publicados no livro Do Lado de Fora da Minha Janela, Do Lado de Dentro da Minha Porta, lançado em 2010 pela Editora Tempo d´Imagem.

Em 1962, um ano após sua chegada a uma Brasília ainda cheia de obras e ruas poeirentas de terra batida, um cenário de faroeste, nasceu seu primeiro filho. Com ele, a vontade de registrar seu desenvolvimento, de criar a memória familiar. Nunca havia usado uma câmera fotográfica antes. Os primeiros resultados já lhe deram a certeza de que estava lidando com um instrumento poderoso, uma linguagem que se articulava no eixo presença/ausência e se oferecia como um amplo campo para explorações, narrativas e reflexões.

Assim, ao optar pelo fotojornalismo trouxe consigo a consciência que o diferenciava do “tirador de retratos”. Ele queria mais. Aqueles bonecos, retratos submissos e oficialescos de personalidades públicas, usados fartamente em revistas e jornais, estavam fora de seu radar. “Aquilo eu não faria mesmo”, repete ainda hoje. A cultura, superior àquela encontrada no meio, “uma terra de cangaço”, o domínio da linguagem e da técnica, logo lhe deram visibilidade. Em pouco tempo estava na sucursal da Editora Abril, fotografando para revistas tão variadas como Quatro Rodas, Realidade ou Cláudia, iniciando uma relação profissional que duraria até 1978.

“Foi muito bom ter começado numa sucursal, onde você não fica preso a uma publicação e pode fotografar para várias. Isso me deu muita experiência”, relembra.

FIXANDO RAÍZES

Luis Humberto Martins Pereira é um carioca que não cresceu no Rio de Janeiro. Nascido em 1934, perambulou pelo país durante toda a infância e adolescência, acompanhando o pai pernambucano, médico do exército. Morou em Pernambuco duas vezes, no Mato Grosso, no interior do Rio. “Por causa disso não tenho nenhum amigo de infância”, lamenta.

Arquiteto formado em 1959 pela atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, casado com Eloah e trabalhando como desenhista no Ministério da Educação e Cultura, acabou surpreendido pela transferência da esposa, funcionária da Câmara, para Brasília. O casal poderia optar por ficar pelo Rio, mas resolveu aceitar o desafio da nova capital. Em 1961 estava lá.

Um de seus primeiros amigos e responsável por leva-lo a UNB, onde se integraria ao grupo que construiria a universidade, foi o arquiteto e pintor Alcides da Rocha Miranda, representante do patrimônio histórico e primeiro coordenador do curso de arquitetura na cidade. Em pouco tempo, Luis se tornou coautor de projetos de edifícios e professor de desenho para turmas de arquitetura, artes plásticas e música.

“Eu tinha 27 anos, foi um privilégio que a história me reservou”, avalia hoje, ainda vivendo na cidade onde criou cinco filhos, teve um segundo casamento, e convive com netos. E se alguém pensa criticar a cidade perto dele, tenha argumentos sólidos porque terá pela frente um dos defensores mais ferrenhos de Brasília.

Luis é um homem de personalidade forte e crítica, o que credita a influência do pai que vivia tendo atritos de opinião com a hierarquia militar. Com o pai, conversava muito, principalmente sobre medicina. “Se eu não fosse arquiteto seria médico, mas descobri Niemeyer e com ele o que eu queria ser”, o que talvez ajude a explicar sua paixão pela cidade projetada por Niemeyer e Lucio Costa.

Prova fotográfica dessa paixão é que grande parte de seu trabalho é dedicado a explorar e revelar a relação harmoniosa do homem com os amplos espaços e a arquitetura brasiliense.

luis-humberto-01Fotos: Luís Humberto – Palácio do Planalto – Brasília, 1977

luis-humberto-02Médici: cumprimentos de Natal, Palácio do Planalto – Brasília, 1973

luis-humberto-03João Herculino e Tancredo Neves – Brasília, 1978

luis-humberto-04Palácio da Alvorada – Brasília, 1979

FOTOGRAFIA E POLÍTICA

O ambiente que Luis Humberto encontrou no fotojornalismo, que vive nas franjas do poder, foi desolador. Muitos teriam desanimado com a falta de profissionalismo, solidariedade e ética vigentes, mas não ele. O efeito foi contrário. Encontrou ali um motivo para uma batalha nunca declarada, mas vivida intensamente, com língua afiada, humor e postura provocativa, em favor de uma fotografia mais crítica, consciente e livre, o que nos anos seguintes iria agregar ao seu redor inúmeros fotógrafos, incluindo ai Juvenal Pereira, Marcos Santilli, Salomão Cytrynowicz, Milton Guran, Márcio de Barros, Zeka Guimarães, Walter Sanches e vários outros.

Em 1973, ao assumir a direção de arte e editoria de fotografia do recém-fundado Jornal de Brasília, pôs em prática uma de suas bandeiras, a de valorizar a imagem fotográfica, a informação visual, e passou a dar amplo espaço para fotos junto ao material escrito. Nos finais de semana editava página dupla com portfólios de fotógrafos locais.

Incansável, ocupava todo e qualquer espaço. Na sucursal da Veja, na sala dos fotógrafos, palco de longas conversas sobre pautas fotográficas e política, segundo Juvenal Pereira, transformou um amplo mural de cortiça num espaço para fazer “exposições” com as boas fotos da equipe, “inauguradas” com a presença do resto da redação da sucursal.

Nos longos intervalos entre uma pauta e outra, nas esperas por políticos – “a canalha só abria a porta quando queria”, escrevia seus textos, quase manifestos, discutindo fotografia, linguagem, consciência crítica, liberdade de expressão, que depois seriam publicados em revistas especializadas como Iris e Fotoptica ou em jornais. Boa parte desses textos, escritos sempre a mão, em caderno de anotações que levava no bolso, foram reunidos por Pedro Vasquez no livro Fotografia – Universos e Arrabaldes, editado pela Funarte em 1983, com ideias que ainda hoje reverberam no arraial da fotografia.

Numa outra frente, agora junto com Marcos Santilli e alguns outros fotógrafos, investiu na defesa dos direitos autorais dos fotógrafos. Juntos, sob sua liderança, segundo Santilli, chegou-se a um projeto que premiava essa autoria. Apresentado pelo deputado José Santilli, do MDB, pai de Marcos, o projeto acabou arquivado como quase todos apresentados pela então oposição ao regime militar. Anos depois, apresentado pelo governo, e aprovado, o novo projeto incluiu as principais ideias daquela primeira tentativa.

Não só os direitos, mas os créditos de autoria nas fotos publicadas entraram na mira de seus textos e polêmicas, já que não eram comuns na época. Ainda hoje, com a situação bem mais aceitável, ele reclama da maneira como a autoria é creditada: “tenho dois óculos e nem com eles consigo ler o nome do fotógrafo que é apresentado na vertical, ao lado da foto, e com letras minúsculas, de bula de remédio. Isso não deveria mais fazer sentido”.

No ambiente eletrificado pelas discussões políticas e fotográficas que atitudes e ações como essas geravam, começaram a surgir eventos, ocupando espaços em Brasília. Um deles foi a criação, por Juvenal Pereira e Marcos Santilli da escola 3X4, para cursos, discussões e exposições. As atividades eram feitas em um espaço vago na Aliança Francesa da cidade. Era uma espécie de um bunker, que durou três anos, gerenciados por Juvenal e ele, e onde semanalmente havia uma grande discussão sobre fotografia. Lá se respirava fotografia. E política. “As discussões eram 70% política e 30% fotografia”, confessa o fotógrafo Salomão Cytrynowicz, o Samuca, um ex-estudante de arquitetura que se juntou ao grupo após ganhar um concurso promovido pela extinta revista Realidade e receber o prêmio das mãos de Luis Humberto.

E foi numa dessas discussões lembradas por Samuca que Luis Humberto, cansado de ouvir sobre a necessidade do fotografo estar sempre viajando, ou em situações não rotineiras para fazer bons trabalhos, com sua voz forte desafiou: “me deem uma câmera e me prendam no banheiro por 24 horas que saio de lá com um ensaio”.

Luis confirma a história e diz que fotografia é uma atitude do fotógrafo frente às coisas do mundo ao seu redor, sem necessidade de viagens pitorescas e aventureiras para realizar um bom trabalho. “A minha maior produção, a mais significativa, foi feita dentro de casa. Não precisei e nem gosto de viajar.”

Aliás, a fama de caseiro, familiar e de gostar de ver tevê, é repetida pelos seus amigos de maneira unânime. Juvenal Pereira é taxativo: “o Luis não saia com a gente, não ia ao Beirute (bar/restaurante de jornalistas em Brasília), não bebia, não fumava maconha”. Um caretão?

“É verdade”, diz o fotógrafo, “eles só não dizem que eu tinha três filhos em casa para criar”.

Esse ambiente de discussões em que política, ditatura e fotografia se misturavam também desaguou na criação da União dos Fotógrafos de Brasília, a primeira delas e que depois incentivou o surgimento de filhotes como a União de Fotógrafos de São Paulo. Foi o tempo de criação de agências de fotógrafos em vários estados. O compromisso básico era calcado em direitos, créditos, ética, valorização e liberdade da atividade e consciência crítica. Em 1980, a União, em parceria com a Agência Ágil de fotojornalismo, criada pelo fotógrafo Milton Guran, publica Brasília Anos 20 – Depoimento de 20 Fotógrafos de Brasília, um livro de impressão precária e conteúdo multifacetado, revelador de uma cidade em que o sonho de harmonia se frustrava devido “a incompetência da natureza humana ainda selvagem, individualista e predadora”, nas palavras introdutórias de Luis Humberto.

luis-humberto-05Brasília, 1971

luis-humberto-06Fernanda, Clara, Rodrigo e Pedro – STF, Brasília, 1995

luis-humberto-07Rodrigo – Brasília, 1994

luis-humberto-08Nena – Brasília, 1977

IRONIAS E CRÍTICAS

A longa espera entre uma pauta e outra não geraram apenas textos na versão do fotógrafo Marcos Santilli, companheiro de Luis Humberto em várias dessas vigílias. Ele conta que algumas delas eram preenchidas com imaginação e gargalhadas. O exercício que preenchia o tempo era imaginar situações em que políticos e poderosos poderiam ser colocados para serem fotografados de maneira que resultassem em imagens críticas, irônicas. Valia para todos, situação e oposição. Uma das imagens que tem na memória é a do secretário especial do meio-ambiente, do período Médici, Paulo Nogueira Neto, de terno e gravata, fotografado em meio a uma imensa queimada.

Luis Humberto nega, “é coisa do Santilli”. Diz que só se lembra dos dois fugindo para o centro comercial e ficarem horas jogando totó, para desespero do chefe de redação da sucursal, que nunca sabia onde eles estavam. Vai mais longe dizendo que nunca trabalhou assim, de forma premeditada, e sim com o que surgia no momento, em cada situação.

O fato é que sair na Veja, “na época uma revista decente”, frisa, despertava o ego de civis e militares e os tornava mais afáveis aos fotógrafos, mais dispostos a seguir orientações que estes davam. Se fosse para matéria de capa, a disponibilidade era ainda maior. No país que começava a conviver com uma comunicação e sociedade de massas, os poderosos se entregavam ao exibicionismo e ainda não gerenciavam a própria imagem com a rigidez dos tempos atuais. Marcos Santilli lembra que Luis Humberto, num desses trabalhos chegou a dar ordens a um general.

“Foi uma única vez”, garante Luis, “e é a essa vez que o Santilli está se referindo. Foi com o general Bandeira de Mello, então chefe da FUNAI. Ele estava apresentando umas armas enormes, flechas e bordunas, encontradas e que, pelo tamanho, deveriam pertencer à tribo de índios altos e fortes. Na hora da foto o assessor de imprensa do general começou a interferir e ai sim, eu comecei a dar ordens para arrumar a cena e resolver o problema”.

Mas ele lembra que trabalhar junto ao poder tem os seus perrengues. E do pior deles escapou por pouco. “No último natal de Médici no poder, sua assessoria de imprensa avisou que ele iria cumprimentar todos os jornalistas. Claro que muitos ficaram excitados mas eu me recusava a apertar a mão daquele carniceiro. Só que não sabia como me safar dessa. Foi organizada uma fila e eu fui ficando tenso, procurando uma saída. Tinha a certeza de que não iria cumprimenta-lo, eu não me permitia fazer isso. Quando a fila começou a andar chegou uma equipe da Globo para filmar. Era um tempo de equipamentos pesados e equipe numerosa e eu vi ali a minha chance. Fui rápido para trás do câmera e comecei a fotografar a fila como se fizesse parte da equipe da tevê. O câmera foi contornando a fila, o Médici, e eu junto, torcendo pra aquilo acabar logo e eu cair fora. No dia seguinte o assessor de imprensa veio reclamar que eu tinha sido o único a não cumprimentar o general”.

Luis Humberto é incisivo: “o poder só apresenta a face que ele quer”. Ele queria outra coisa para se contrapor a essa face oficial, queria imagens de acordo com sua consciência que repudiava o autoritarismo militar, o regime de força, a censura. “Eu, um sujeito bem humorado, tinha necessidade de ridicularizar os detentores do poder”, confessa. E sua estratégia para isso foi a de fotografar o antes e o depois dos momentos oficiais, foi focar seu olhar e câmera para quando os personagens – civis ou militares – ainda estão se preparando para as câmeras, ou já entraram na fase do conforto e do relaxamento pós-declaração. Os assessores de imprensa não gostavam, tentavam impedir, mas ele nunca se intimidou com isso.

A primeira dessas fotos que lembra ter sido publicada pela Veja, foi feita no Itamaraty, numa cerimônia de troca de faixas entre o Ministro de Relações Exteriores Mario Gibson Barbosa e autoridades uruguaias quando prestavam homenagem ao diplomata Aloysio Gomide que havia sido sequestrado, e após longa negociação, solto pelos Tupamaros. “Aquelas pessoas trocando faixas era uma coisa ridícula, apesar de protocolar. Eu fotografei, mandei, e foi publicado”.

Nos dez anos de Veja e quatro de IstoÉ foram dezenas de fotos que nunca perderam esse espírito irônico, crítico e metafórico. Revistas hoje, quando a história de um período tenebroso vai se revelando em mais detalhes, elas se tornam ainda mais impactantes e vivas ao mostrar que a cara do poder que aterrorizava, e a de seus cumplices e parceiros, era a de gente normal, algo que o presente e a história não deve esquecer.

Fotojornalismo atual? Admite que o pessoal agora seja mais qualificado, com cursos de graduação, pós-graduação, mas ele se ressente de uma maior consciência crítica naquilo que vê publicado. “A fotografia agora é mais maquiada, é uma coisa bonita, elaborada, mas fotografia não é só isso”, diz, no seu conhecido estilo provocador.

Seu arquivo – “não, não sei o tamanho dele” – está relativamente organizado e, ajudado pelo clima seco de Brasília, bem conservado. Nele estão seu trabalho pessoal e familiar, tudo o que produziu para a IstoÉ e as imagens que fazia paralelamente ao trabalho para a Veja com uma segunda câmera – “tem muita coisa boa nelas” – já que o material gerado para a revista está na Abril.

Aqui ele abre um parênteses para elogiar Mino Carta, que sempre apoiou seu trabalho e, principalmente Hélio Campos Melo. “O Hélio é o grande editor da minha vida profissional. Foi alguém com quem se podia conversar, discutir e saber que ele procuraria obter o melhor resultado com o meu trabalho. Quando deixei a IstoÉ, e o fotojornalismo em 1982, ele reuniu tudo o que eu tinha produzido para a revista, colocou em caixas e mandou entregar aqui em casa”.

Sobre o seu trabalho não jornalístico, ele diz que é sobre o amor, a vida, sobre o que mostra ou muda o seu rumo. É sobre a cidade, a família, a casa, sobre as presenças e ausências, sobre o que ele tem e quer contar com a ajuda da fotografia. É o seu percurso afetivo.

DE VOLTA A UNB

Luis Humberto diz que tem a “terrível mania” de sair de um lugar e ir para outro sempre ganhando menos, não absurdamente menos, é claro, mas menos, sempre. “Mas tem uma coisa, sempre fui trabalhar nos lugares que eu quis”. Sua atual mulher, Márcia, diz que na verdade ele só faz o que quer mesmo, em qualquer situação.

E o querer dele foi trabalhar em muitos lugares, às vezes simultaneamente. Foi chefe do setor da divisão de foto-imagem da Fundação Pioneiras Sociais, do Hospital Sara Kubitschek, diretor do Teatro Nacional de Brasília, diretor executivo da Fundação Cultural da cidade até que, 1986, cerca de 25 anos depois de seu protesto e demissão, voltou a Universidade Nacional de Brasília, primeiro como professor adjunto e, posteriormente, em 1992, depois de reintegrado pela anistia de 1988, como professor titular do Departamento de Audiovisual da Faculdade de Comunicação.

Ele, que em 1962 se transformou em professor universitário sem nunca ter dado uma única aula antes, agora se considera realizado. Diz que o contato com os alunos lhe ensinou o que não sabia sobre as relações humanas, que produzir conhecimento é libertador, mesmo num pais que gosta de espetáculo e pouco conteúdo. “Se o vírus do magistério te pega, você se apaixona, não tem jeito”.

Atacado por uma doença que apresenta sintomas contraditórios, um deles o de Parkinson, e sob tratamento, ele vive agora mais recluso. Uma de suas recompensas é estar sempre sendo procurado por ex-alunos para conversar, discutir, pedir orientação. Só não se engane ao pensar que ele pode estar inativo. Ao seu lado há um caderno aonde ele vem escrevendo poemas “para a posteridade”, e uma câmera digital aonde um cartão de memória vem sendo preenchido vagarosamente desde 2010, com a retomada do ensaio que sempre fez do lado de dentro da sua janela.

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