Iatã Cannabrava

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QUEM | Iatã Cannabrava.

ONDE | São Paulo.

PORQUE | No cenário atual da Fotografia Brasileira, é Iatã quem dá “muitas cartas”. Como coordenador do Fórum-Latino Americano de Fotografia e do Paraty em Foco, ele promove a fotografia e o seu pensar. Não basta só clicar e ver. Tem que aprender, discutir e debater. A sua opinião e o seu olhar estão em vários lugares. Falar que é um das pessoas mais influentes da fotografia latinoamericana não é exagero.

Foto: Laura Wrona

Currículo fornecido pelo fotógrafo:

Fotógrafo, curador e agitador cultural, atualmente desenvolve trabalhos documentais com a paisagem urbana das cidades, especificamente das periferias das grandes metrópoles, no seu ensaio Uma Outra Cidade. Participou de mais de 40 exposições, foi ganhador dos prêmios P/B da Quadrienal de Fotografia de São Paulo em 1985, do concurso Marc Ferrez da FUNARTE, em 1987, e de dois prêmios da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 1996 e 2006. Tem suas fotografias publicadas em 8 livros e nas coleções MASP-Pirelli, Galeria Fotoptica, coleção Joaquim Paiva e MAM/São Paulo.

Como agitador cultural, foi presidente da União dos Fotógrafos de São Paulo de 1989 a 1994, criou e dirige a empresa Estúdio Madalena, onde organizou mais de 30 exposições, ministrou mais de 80 workshops, além de projetos especiais, como: Revele o Tietê que Você Vê, em 1991; Foto São Paulo, em 2001; Povos de São Paulo – Uma Centena de Olhares sobre a Cidade Antropofágica em 2004 e a Expedição Cívica, Ecológica e Fotográfica De Olho nos Mananciais em 2008. É responsável pela coordenação da programação do Festival Internacional de Fotografia de Paraty – Paraty em Foco e atualmente coordena o Fórum-Latino Americano de Fotografia de São Paulo realizado pelo Itaú Cultural.

Mais sobre Iatã:

http://www.iatacannabrava.fot.br
http://www.flickr.com/photos/iata/
http://www.estudiomadalena.com.br

Parada Gay | 2002-2005

OLHA, VÊ O Paraty em Foco está indo para a quinta edição. Quais serão as novidades? E os convidados de peso que podemos esperar?

IATÃ CANNABRAVA A programação do Festival ainda está em preparação, mas a principal novidade é que este ano inovaremos na montagem da programação. Estamos convidando uma série de protagonistas da fotografia brasileira a palpitar, queremos de forma informal fazer uma espécie de pesquisa que nos ajude a formatar o evento. Decidimos, o Meca (Giancarlo Mecarelli, criador do Festival) e eu, abrir a discussão sobre o perfil do Festival. Algumas coisas já estão sendo definidas como a presença de um maior número de convidados ligados a pesquisa e novos caminhos da fotografia. Teremos também um maior número de convidados de países fora do eixo tradicional da fotografia. África e Ásia estão dentro dos nosso planos. A cada ano convidaremos algum foco de produção, seja geográfico ou conceitual, para se apresentar durante o Festival. Este Ano teremos a Fotografia Pernambucana no Paraty em Foco: Uma Galeria Convidada (Arte Plural) e uma Noite de Projeções com curadoria de  Eduardo Queiroga. A Curadoria Geral das Noites é da CIA de FOTO, lá tem um pernambucano arretado!

OLHA, VÊ Qual foi a mudança mais significativa que o PEF sofreu durante esses anos?

IATÃ CANNABRAVA O Paraty em Foco é um Festival novo, portanto em fase de formação. Nos primeiros 4 anos o caminho natural foi crescer em convidados, público e parceiros, e reorganizar sua estrutura operacional. Agora é hora de afinar seu tom principalmente no que se refere ao perfil dos convidados. Continuaremos trazendo fotógrafos famoso da Magnum por exemplo, mas antes de mais nada a intenção é de a cada ano trazer novos protagonistas, de fortalecer a presença de convidados nacionais através de ações regionais (este ano a fotografia Pernambucana é convidada) e procurar avançar no sentido de abrir novas fronteiras.

OLHA, VÊ E o projeto “A História do Livro de Fotografia na América Latina”, do que se trata?

IATÃ CANNABRAVA Primeiro vamos rapidamente definir: fotolivros são publicações compostas por fotografias acompanhadas por alguma informação, aquela que seu autor crê ser conveniente oferecer. São livros nos quais há que se ler as fotografias, nos quais a imagem é realmente o texto.

A idéia de se pesquisar e publicar um livro sobre os fotolivros latinoamericanos surge no Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, realizado pelo Itaú Cultural em outubro de 2007. Percebemos que todas as pesquisas em torno do fotolivro demonstravam total desconhecimento sobre a produção latino-americana nos quatro cantos do planeta. Tanto é que nossa intenção é editar o projeto em TRÊS idiomas simultaneamente: Inglês, Português e Espanhol e realizar seu lançamento em outubro de 2010, durante o II Fórum. O projeto tem no seu conselho Editorial Horacio Fernandes (ES), Marcelo Brodsky (AR), Pablo Ortiz Monatério (MX), Martin Parr (UK) e eu pelo Brasil, além de uma série de colaboradores. Acredito que este projeto seja um marco na história de nossa fotografia.

OLHA, VÊ Já pensando em 2010, como está sendo formatado o 2º Fórum Latino Americano de Fotografia?

IATÃ CANNABRAVA Falta ainda um ano e 8 meses, mas já estamos trabalhando. Criou-se um conselho que iniciou seus trabalhos em finais de janeiro. A função deste conselho é pesquisar no sentido de abrir as fronteiras, da e para a fotografia latinoamericana. O Edu (Eduardo Brandão), foi convocado como curador convidado para edição de 2010 e já está trabalhando. Mas mesmo assim acho que é muito cedo para falar do II Fórum.

OLHA, VÊ Além do Paraty em Foco, existe o FestFotoPoa, o FotoRio, entre outros. Como estamos em relação à América Latina e qual o resultado da realização desses eventos no Brasil?

IATÃ CANNABRAVA Os festivais existem há muito tempo, e por questões estruturais alguns festivais vão deixando de existir, enquanto surgem novos. Hoje o Brasil mostra muita vitalidade: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, entre outras cidades realizam seus festivais. Eu diria que a principal diferença com os demais países da América Latina é que somos um país continental e Federativo, com espaço para a multiplicidade de ações!

OLHA, VÊ Como foi o caminho para hoje ser considerado uma das pessoas mais influentes da fotografia na América Latina?

IATÃ CANNABRAVA Sou tudo isso? Não sabia!

Acho que hoje, no mundo globalizado, os protagonistas são múltiplos e a soma dessas energias é que possibilita um novo modelo de rede e quem sabe minha função nos últimos anos tenha sido a de criar ferramentas de trabalhos para esta rede, seja através dos encontros e eventos ou através do diálogo entre os seus diversos protagonistas.

OLHA, VÊ O Encontro de Coletivos realizado em São Paulo deixou quais saldos?

IATÃ CANNABRAVA O Encontro de Coletivos antes de mais nada foi um marco histórico na fotografia Iberoamericana: foi o primeiro e consolidou o fato de que um novo modelo de criação e produção é possível e inevitável. Seu idealizador e curador, o espanhol Claudi Carreras é um dos mais importantes pesquisadores da fotografia latino-americana. Atento, ele percebeu a importância de realizar um encontro que ajudasse a consolidar caminhos para este movimento.

OLHA, VÊ Qual a pertinência do debate que, muitas vezes, gera certa polêmica sobre crédito coletivo e pós produção, em detrimento da reflexão sobre a própria fotografia e suas motivações?

IATÃ CANNABRAVA Os debates, mesmos os acalorados, são parte do processo e levam a consolidação das mudanças, e acredito que a discussão sobre a autoria coletiva e pós produção são parte inerente das reflexões sobre a fotografia e suas motivações. Aliás, sempre foram. A questão da autoria é ao meu ver um importante mote para outras discussões, como por exemplo o posicionamento do autor na sociedade, ao se colocar como grupo e não como indivíduo numa sociedade individualista. O autor muda o paradigma inicial da discussão, ele vê “em coletivo”, não mais sozinho, e eles (o coletivo) dão o acabamento fino desse olhar (pós produção).

Uma Outra Cidade | 2001-2007

OLHA, VÊ E o Iatã “fotógrafo”, como começou na fotografia? O que lhe interessa fotografar?

IATÃ CANNABRAVA Comecei em Cuba, com uma câmera russa de plástico que anos depois derreteu no sol. Vivi minha infância e adolescência percorrendo a América Latina acompanhando o exílio político dos meus pais que fugiam da ditadura militar no Brasil. Essa vivência contaminou toda minha maneira de ver e de me comunicar com o mundo, e a fotografia passou a ser o instrumento principal dessa vontade de “falar”.

Estes dias meu pai me mandou um link com uma reportagem sobre o mais recente romance do escritor argentino Tomás Eloy Martínez (Tucumán, 1934). A matéria destaca uma frase do narrador da história: “Quando você volta ao lar do qual partiu, pensa que fechou o círculo, mas percebe que sua viagem foi só de ida. Do exílio ninguém regressa”. Acho que minha fotografia é de uma maneira ou de outra uma busca por uma identidade escondida no meio do exílio, quem sabe vem daí minha dedicação nos últimos anos ao projeto “Uma Outra Cidade”, sobre as periferias da America Latina.

Mas indo direto a sua pergunta, me interessa mesmo é contar a história deste momento em que vivemos, onde as transformações vem das margens para o centro, onde as soluções para os problemas da humanidade não virão necessariamente do saber constituído nas universidades e elites e sim dos movimentos periféricos. Esse é meu foco quando fotografo a Parada Gay de São Paulo, a periferia, as adolescentes grávidas.

OLHA, VÊ Quais são as suas influências/referências? E hoje, o que lhe atrai?

IATÃ CANNABRAVA Tem momentos em que me sinto o Zelig do Woody Allen, aquele personagem-camaleão que se deixa influenciar por todos os “heróis” em quem esbarra, ou quem sabe me identifique com a Feijoada do Macunaíma! Não tem como negar a influência dos grandes mestres em geral, mas não me sinto inclinado a este ou aquele fotógrafo, acho que inclusive não tenho um estilo próprio e é isso que questiono: passamos anos dizendo e ouvindo que o fotógrafo tem que desenvolver unidade formal e temática, enquanto isso os grandes artistas simplesmente fizeram!

OLHA, VÊ Hoje, vejo um caminho de mão dupla na relação da fotografia e artes plásticas. Como por exemplo: fotógrafos participando de Salões e artistas plásticos em concursos de fotografia como o Porto Seguro. Como você observa a fotografia neste mercado de arte, se inserindo cada vez mais em acervos, galerias, leilões?

IATÃ CANNABRAVA Quanto menos fronteira melhor, não entramos na era da globalização para comprar geladeiras importadas, acho que nosso único lucro nesta era é possibilidade de rupturas dessas fronteiras que na verdade formam mais barreiras que não interessam a ninguém. Mas é claro que com as porteiras abertas não é mais possível ao fotógrafo o uso das prerrogativas técnicas da fotografia como reserva de domínio!

OLHA, VÊ Você não acha que a própria contemporaneidade já deu cabo de algumas questões como a tentativa de normatizar/classificar as imagens fotográficas? É claro, os gêneros fotográficos fazem parte da própria construção histórica sobre essa linguagem. O que lhe parece?

IATÃ CANNABRAVA O estudo e designação de gêneros e classificações é papel dos críticos e historiadores, cabe aos fotógrafos produzir sem o sofrimento dessas pré-classificações.

OLHA, VÊ Em algumas exposições, sinto muito o espaço expositivo e as instalações enquanto suporte se sobrepondo à própria imagem fotográfica. E isso me remete a quere ver a fotografia “pura”, numa bela moldura e ponto. Você acha que esse formato se tornou anacrônico?

IATÃ CANNABRAVA Cada trabalho, cada exposição, cada poesia uma sentença, sou contra as regras taxativas: “tem que!”… Parece mais com nome de comida japonesa.

Não quer dizer que o curador ou cenógrafo, ou o próprio artista não possam errar a mão, o erro faz parte! Mas de maneira geral acho que cada caso, ou seja, cada exposição deve ter seu caminho próprio e as fórmulas podem servir como banco de dados, como sacola de suprimentos!

Uma Outra Cidade | 2001-2007

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