Moscouzinho

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Foto: Gilvan Barreto – O Fotógrafo, 2011

[esta imagem estará no Leilão do Paraty emFoco]

Um dos livros que serão lançados no Paraty em Foco é “Moscouzinho” do fotógrafo pernambucano Gilvan Barreto.

“Uma Rússia latina e quente no Nordeste brasileiro. Nos anos 1940, Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco,  elegeu o primeiro prefeito comunista do Brasil e por isso ficou conhecida como Moscouzinho.

Nascido nos anos 1970, ainda sob a ditadura militar no Brasil, o fotógrafo Gilvan Barreto retorna a terra natal para recriar essa Moscouzinho atada em sua memória desde os relatos de seus pais”, o release do livro tenta dar uma pista.

O livro é lindo. De certa forma, Georgia acompanhou um pouco o processo de Gilvan e tivemos o prazer de ver algumas coisas no decorrer da produção.

Mais do que tudo, Gilvan dedicou – nos últimos anos – sua vida e tempo neste projeto. São fotografias, imagens de álbuns antigos, fotos do arquivo do DOPS, etc. Nos últimos anos, vi poucos livros com um clima tão interessante.

Quem estiver em Paraty terá a oportunidade de comprar o livro que é uma peça, um objeto de guarda. Abaixo, adianto só um pouco as imagens do livro.

Com exclusividade, publicamos um trecho do texto de apresentação do livro que foi feito pelo curador Diógenes Moura, também pernambucano (só para efeito de geolocalização. Nada de bairrismo).

A editora é a Tempo d’Imagem.

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Ergo meu crânio repleto de versos

Foi a partir das memórias de sua própria infância ao lado dos pais e da família no município antigamente chamado Jaboatão (a partir de 1989 passou a ser Jaboatão dos Guararapes) que o fotógrafo Gilvan Barreto fez a curva do tempo para encontrar a si mesmo: desde aqueles dias onde, ainda pequeno e filho de um militante de esquerda aproveitava o teste de som dos comícios para denunciar injustiças, repetindo textos impregnados de paixão e ânsia de liberdade copiados dos discursos apaixonados daquela época. Muitas daquelas palavras repetidas faziam parte do pensamento do seu pai. Desse período também guardou algumas outras palavras, essas dispensáveis, como a frase do então presidente que gostava muitíssimo de cavalos afirmando que eles “cheiram melhor que o povo”. Mas esse é um tipo de idioma que nem o passado nem o futuro terão dificuldades de não nos fazer esquecer.

Com o som daquelas vozes apaixonadas ecoando em seu inconsciente, o artista reinventou um país – Moscouzinho. Reinventou a história dos seus dias, reinventou a geografia de uma memória entre o seu passado que vem lá da metade dos anos de 1970 até os dias atuais – depois que seus pais disseram “sim” e fecharam os olhos para sempre. Portanto, Moscouzinho é um tubo de ensaio com inquietação psicológica: o reflexo de um homem que olha para trás para não perder o juízo, para não endoidecer, para não naufragar a beira de um imenso “azul de noturno mar”.

Um homem. Uma ilha. Um verso estalando dentro do crânio.

Diógenes Moura

Escritor e Curador de Fotografia

 

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