Barroco Pernambucano (3)

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Foto: Leo Caldas – Igreja de São Pedro dos Clérigos, Recife/PE

Grande parte do patrimônio da arquitetura barroca no Estado de Pernambuco encontra-se em Recife. Cada construção tem a sua particularidade, nuances plásticas, detalhes esmerados. Formas, linhas, texturas, ritmos e proporções ímpares. Estruturalmente, reconduziu o espaço para que igrejas, capelas, conventos e claustros funcionassem independentes – sem se estabelecer em modelos rígidos. Seria difícil propormos um paradigma para a planta e a fachada desses monumentos. O mais sensato a fazer é observar as características de maneira isolada. De modo que, notaremos bem mais riquezas, ao contrário do que aconteceria se pasteurizássemos a arquitetura barroca como um todo e não pelas suas partes, com o olhar bem próximo das minúcias.

Outra característica marcante nas igrejas do Nordeste é a escultura delicada que se obtém da pedra. Graças aos recursos em calcário dos Estados da Paraíba, de Pernambuco, das Alagoas, de Sergipe e da Bahia, é que a arte expandiu-se e explorou as possibilidades cênicas daquela matéria-prima. No entanto, a escultura em pedra moldou várias leituras. Afinal, da mesma forma que os artistas nativos imitaram as ornamentações barrocas portuguesas com a peculiaridade de empregar certo primitivismo, assim estabelecendo uma popularidade, o conceito rebuscado fora relido e manuseado com mais liberdade e repassado para o interior das grandes cidades. O barroco português do Nordeste foi transposto na escultura de pedra com um relevo quase plano, extremamente simplista.

Basta que consultemos às considerações do historiador Germain Bazin sobre esse assunto para reforçarmos a idéia de originalidade da arte barroca atrelada à percepção de uma sociedade cercada pela estética dos “outros”. Assim, dados encontrados na arquitetura que pensamos ser puro estilo manuelino nada mais é do que a apropriação de códigos alheios. Assim, a similitude/a simbiose e a as diversas antíteses perpassam o Barroco de Portugal com o do Brasil. Há quem argumente que o Brasil enriqueceu o Barroco dos colonizadores com valores próprios. E, por conseguinte, numa expressão autêntica, muito embora não totalmente purista. Foi o instante criativo que se entrelaçou com a história a tal ponto que os historiadores o denominaram como sendo arte luso-brasileira.

Eugenio d’Ors (historiador e crítico de arte contemporânea) considera o manuelino como um estilo barroco. Com relação a tal análise, Pamplona mais comedidamente denomina-o de “um pré-barroco”. Desse modo faz a seguinte teoria: “O manuelino pode, pois, estar integrado, embora de maneira bastante diluída, na seiva do barroco português e, através dele, na substância e no sangue do próprio barroco brasileiro (…)”.

No campo do entalhe a importância está na liberdade formal de concebê-la e construí-la. Melhor seria adjetivá-la como arrebatadora, enquanto que a produzida em Portugal era bem mais serena, lírica e comportada.

O que podemos ponderar, sem contudo ser definitivo ou conclusivo pois a temática não se esgota e aí é onde reside o fascínio e virtuosismo do barroco, é que em Pernambuco características pontuais do estilo importado da Europa causaram efeitos: criatividade e poéticas autênticas. Permaneceram com os preceitos básicos de maximizar o ritmo e a harmonia, sem lançar mão da arte minuciosa e elaborada – peculiar dos entalhes, das pinturas e das esculturas em pedra. Também usaram volutas nos frontões das igrejas, mas em contrapartida, criaram soluções ornamentais de acabamento ou mesmo de decoração numa sintaxe belíssima e regional.

*Publicado no Jornal do Commercio em 03 de junho de 2003.

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