Foto: Alexandre Belém – Rijksmuseum de Amsterdã, Holanda
O Museu do Estado de Pernambuco (MEP) está em reformas, com reaberturas previstas para novembro e o primeiro semestre de 2004. Após esta reforma, promete ser um dos maiores e mais modernos espaços de exposições do país. Com 1.450 metros quadrados, além da Mansão do Barão de Beberibe, que data do século 19. Em condições de climatização e iluminação adequadas não será difícil tornar o Museu do Estado em um dos maiores espaços culturais do país.
Seu acervo riquíssimo, compreende desde mobiliário do século 17 ao 19, a gravuras que retratam o período holandês em Pernambuco, a objetos de terreiros de cultos afro-brasileiros, um conjunto de artefatos indígenas e o significativo acervo da arte pernambucana. Diversa, regional e preciosa, assim poderíamos sintetizar o que representa para a memória visual pernambucana o acervo do Museu do Estado. Nunca é demais registrar: sua reserva técnica contém mais de 12 mil peças. Ali, está armazenada uma bela parte do patrimônio artístico e cultural do Estado de Pernambuco. Parte, pois a comunhão de museus, instituições privadas ou públicas configura o mosaico da expressão artística e da preservação histórica (através de elementos e objetos que envolvem a antropologia e a arqueologia) de qualquer lugar, seja no Brasil ou na Europa.
Reformar um museu como neste caso significa ir mais além da parte estrutural, significa revigorá-lo. Transformá-lo num espaço educacional, de sociabilização e de entretenimento. Dessa maneira, será uma referência para os de fora e os de dentro (nós, pernambucanos). De certo, Sylvia Pontual diretora do MEP, trabalha com boas idéias como esta de montar uma casa de época no casarão do Barão de Beberibe. A exposição sistemática do acervo existente, assim como o fato de receber relevantes mostras, não só nacionais como internacionais, promoverão uma nova e importante dimensão para a existência do Museu do Estado.
No entanto, é preciso mais. A educação é uma das funções fundantes dos museus. Aprendizagem e entretenimento são peças-chaves para a “vida” de um museu. Contudo, a arte-educação precisa de uma gestão e de uma política cultural incisivas, com apoios efetivos para a implantação de programas educativos.
Torço por esta nova etapa do Museu do Estado. Pois, precisamos de um ou vários museus que se confundam com a cidade, sua paisagem, que represente nossa arte, nossa cultura. Para assim criarmos uma identidade com os espaços museológicos, não pelo significado técnico da questão, mas no sentido de criarmos vínculos mais estreitos. E quem sabe, um dia, nos confundiremos com tais museus de forma sentimental como espectador e cidadão.
Um bom exemplo disso é o Rijksmuseum de Amsterdã. Através dele é possível perceber a dimensão e a complexidade que significa reformar, ou melhor, reestruturar um museu. Entre uma ou outra obra nos deparamos com restauradores em andaimes, não estão ali apenas para retocar, mas também para encontrarem o tom original do desenho que arremata o teto. Dessa forma, bem perto de “Ronda Noturna” (1642), de Rembrandt, vemos em plena exposição o trabalho laborioso de mais um restaurador, passamos incólumes por ele sem deixar de apreciá-lo.
O burburinho em torno das reformas do Rijksmuseum tem sua razão. Quando menciono complexidade às reformas (que terminarão até 2008), é preciso explicitar alguns dados para contextualizar do que se trata de uma mega reforma. O Rijksmuseum não é apenas mais um museu holandês, ou seja, ele é a máxima representação da arte dos Países Baixos. Detém o maior acervo de arte holandesa do mundo. O que o coloca entre os melhores museus, ao lado do Metropolitan, Prado e do Louvre. O Rijksmuseum recebe em média por ano 1,2 milhão de visitantes.
Entre suas relíquias estão obras dos mestres holandeses Rembrandt, Vermeer, Frans Hals e Jan Steen. Fundado em 1798 , em Haia, foi transferido para o edifício neogótico (1885) do arquiteto P.J.H. Cuypers em plena Amsterdã. O projeto de reestruturação irá reformular o sistema de luz, ar-condicionado, ampliar o espaço expositivo e ter acesso total a deficientes. Até que esta ampliação e modernização fiquem prontas, partes do acervo seguirão expostos em vários lugares. Será abrigado fora do Rikjs, no aeroporto de Schiphol, na igreja-museu Nieuwekerk, na cidade de Maastricht (sul da Holanda). E até mesmo museus de outros países (Japão e os Estados Unidos) abrigarão obras do acervo.
Para se conhecer a Holanda, sua cultura e sua importância na História da Arte, não basta estar em Amsterdã. Seria uma visita incompleta. O estado de estar no Rijksmuseum seria também o estado de sentir a cultura holandesa, sua história e sua identidade. Quem diria que a reforma de um museu (com seu parcial fechamento) pudesse sensibilizar o povo. Mas, em Amsterdã o sentimento é esse, as pessoas comentam, se importam. O sentimento entre museu e população é de pertencimento, patrimônio. O museu é daquela cidade, daquele povo. Acima de tudo, há a consciência do que o Rijks significa enquanto riqueza artística e cultural.
*Publicado no Jornal do Commercio em 11 de novembro de 2003.