[ QUEM ] Geyson Magno.
[ ONDE ] Recife.
[ PORQUE ] Conheci Geyson quando fui cobrar uma grana de um trabalho que tinha feito. Acho que era 1992, 1993. Ele chegou ao mesmo lugar para cobrar o mesmo cara. Depois, pegamos o mesmo ônibus. Nos reecontramos no Jornal do Commercio. Montamos uma agência juntos e nos separamos. É meu “ex” sócio. O “ex”, neste caso, não tem tom negativo. Geyson é da paz. Gente boa. Mergulhou de cabeça na vida do vaqueiro e publicou um belo livro: Encourados. Um verdadeiro estudo antropológico que ficará como registro único do homem e da cultura nordestina.
©Eduardo Queiroga
Geyson Magno, 37 anos é pernambucano, natural de Caruaru. Começou a fotografar profissionalmente em 1993. Trabalha atualmente desenvolvendo projetos com fotografia e atendendo ao mercado editorial, jornalístico, institucional e publicitário. Autor da exposição e do livro “Encourados” . O trabalho retrata o sertão nordestino através da experiência com os vaqueiros. A exposição foi montada, na Torre Malakoff em Recife/PE (setembro de 2006), no Espaço Cultural Correios em Fortaleza/CE (novembro de 2006) e no Centro Cultural Correios em Salvador/BA (janeiro de 2007). Faz parte do acervo permanente do Memorial do Couro em Salgueiro, sertão central de Pernambuco.
O livro pode ser comprado na Livraria Saraiva.
Vídeos do Encourados no Youtube.
Serrita/PE | Encourados | 2003
Morada Nova/CE | Encourados | 2003
Feira de Caruaru | 2006
Feira de Caruaru | 2007
Você passou pelos dois principais jornais de Pernambuco, por agência de fotografia, etc. Qual o cenário (e futuro mercado) da fotografia pernambucana hoje, passados mais de 10 anos que você saiu das redações?
O cenário é amplo no sentido de termos mais fotógrafos que há 10 anos atrás, amplo também na quantidade de consumidor para fotografia, mas quando penso sobre o mercado e aí entenda-se diretamente a relação entre fotógrafo e cliente vejo que essa relação é restrita e o cenário é catastrófico. Boa parte dos fotógrafos não tem noção do valor do seu trabalho e da sua forma de fazê-lo e isso é péssimo para a profissão. Hoje, a relação entre quem compra e quem faz fotografia está estabelecida substancialmente pelo fator preço e isso não valoriza nenhum trabalho, nem profissional. É inconcebível que hoje um fotógrafo ganhe menos por uma foto produzida para uma agência de publicidade que há 10 anos atrás, que uma saída fotográfica para realizar uma pauta seja menos remunerada que há 10 anos atrás. É essa relação cliente/fotógrafo que está distorcida e nós não estamos sabendo interpretar e trabalhar para diminuir essa distorção. A meu ver um cenário excelente para crescimento profissional está sendo consumido por uma relação construída deliberadamente no amadorismo e no oportunismo. Vendo de fora acredito que houve uma melhoria na estrutura dos jornais para os profissionais trabalharem, em termos de remuneração acredito que não foge ao parâmetro do mercado como um todo, ganha-se menos hoje.
No Recife, é possível uma dedicação exclusiva como fazer somente foto publicitária, editorial, ou é preciso se diversificar?
Acredito que a dedicação exclusiva é o que faz a diferença na fotografia de cada fotógrafo, mas quando a gente volta o olhar para a nossa rua (o Recife) vejo que os profissionais diversificam sua produção para se defenderem da pouca remuneração e da concorrência amadora. Ninguém suporta ter seu trabalho sendo escolhido pelo julgamento do menor orçamento, você quer ser escolhido por ter o melhor trabalho, ter melhores condições de executar a fotografia. Nenhum fotógrafo gosta de receber uma pauta de uma revista ou jornal e o valor ser imposto pelo borderô da editora. Então eu penso que com a diversificação os profissionais conseguem nesse cenário ir se virando e dispensando algumas propostas de trabalho que estão muito aquém financeiramente dentro da especialidade que ele escolheu.
Acredita numa chamada “descentralização”? Ou a fotografia brasileira só “brilha” em São Paulo?
Eu acredito que a fotografia brilha aonde ela for mostrada ao público. Acredito que temos excelentes fotógrafos e trabalhos dentro e fora de São Paulo. É lógico que a chancela dos curadores de fotografia que são 99% paulistas é que fazem o cara da vez e alguns merecem serem badalados e alçados ao pedestal, outros nem tanto mas definitivamente a fotografia brasileira não só brilha em São Paulo. Sem dúvida que para fazer sucesso com o “público especializado” o sujeito tem que passar por lá, é lá que corre o dinheiro, é lá que estão – como falei antes – os curadores e também a grande mídia.
Fazer o livro “Encourados” foi uma tarefa árdua, creio. Conte um pouco como foi a experiência adquirida na produção do livro/fotos?
Foi sim, mas muito gratificante também. É difícil conseguir dinheiro para fazer um trabalho com fotografia no nosso país. Principalmente no nordeste. Não temos as mesmas oportunidades de financiamento que o sudeste. Então, no caso do “Encourados”, sofremos muito para conseguir viabilizar financeiramente, sofremos com a discriminação com relação ao tema, o vaqueiro é um ícone muito forte na cultura brasileira e tem sua imagem ligada ao passado. Todo ano tem a Missa do Vaqueiro em todo o nordeste e as imagens se repetem na mídia mas sempre de passagem, sem experiência, sem convívio e troca, aprendizado. Daí algumas pessoas viam o projeto e diziam, “ah! É de vaqueiro, já vi muito.” E eu sabia que ele não viu aquela estória que eu estava mostrando, mas paciência.
Impossível que alguém nesse planeta fale ou faça algo que nunca foi falado ou feito. Eu penso que todos temos que lutar pelo direito de falar o tema que quisermos e da nossa maneira. O ineditismo definitivamente não é contemporâneo. Entender o tempo natural das coisas também foi crucial nesse trabalho. Foram três anos para que fosse exposto e essa relação de entendimento do tempo para que se faça e do tempo para que se execute, realize-se foi um grande exercício e um grande aprendizado de vida para mim. Manter do início ao fim esse grupo fechado e em harmonia com a proposta inicial do “Encourados” que era de fazermos um trabalho aonde cada qual faria artisticamente a sua verdade também foi um grande desafio e aprendizado e acredito que todos os envolvidos ficaram satisfeitos com o resultado final.
Construí amizades verdadeiras, posso dizer que minha família cresceu em número, gênero e grau com a aproximação que nos permitimos. Eu, os personagens e os artistas envolvidos no “Encourados”. Todos eles são muito queridos e os tenho um valor muito alto. Essa exposição encourados ser abrigada permanentemente no Memorial do Couro em Salgueiro é um grande presente não só para mim, mas para todo esse povo sertanejo que vai se ver lá.
Quais são os seus próximos projetos?
Estou envolvido num trabalho com a Feira de Caruaru e finalizando a formatação de alguns projetos para os editais de leis de incentivo a cultura. Também estou iniciando um trabalho sobre a minha história, a minha vida, de quando nasci até os dias de hoje.
Atualmente, o que lhe chama atenção na fotografia? Quais fotógrafos você destacaria?
O conteúdo psicológico e político da imagem e conseqüentemente do fotógrafo, a originalidade que a meu ver é a questão existencial do ser e a luz da fotografia feita/exposta.
Gosto do trabalho do João Castilho, do Chris Jordan, de Francesco Zizola, da Cia de Foto, o trabalho “Linha de Chegada” de Erik Refner, Rogério Reis (mestre), Vik Muniz, Walter Firmo (mestre), Marcos Michael, Eduardo Queiroga, João Wainer, Pisco del Gaiso e Rodrigo Braga.
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