Claudio Versiani

Comentários 9

[ QUEM ] Claudio Versiani.

[ ONDE ] Barcelona (ou no PicturaPixel).

[ PORQUE ] Poderia falar do cara que tem décadas de fotojornalismo. Fotógrafo da Veja, IstoÉ, O Globo. Foi editor do Correio Braziliense, etc, etc. Para mim, ele estava na memória. Eu sempre fui muito ligado em crédito e tenho um bom “banco de dados” de fotógrafos dos últimos quinze anos que passaram por jornais e revistas. Posso nunca ter falado ou visto. Mas, lembro do crédito. Versiani é um deles. De repente, o cara cria um blog e mexe com a fotografia brasileira. Chacoalha e todo mundo vai na onda. É o PicturaPixel. A comunidade está criada. 

© Maú Versiani

Jornalista há 30 anos, foi editor de Fotografia do Correio Braziliense e repórter-fotográfico de Veja, IstoÉ e O Globo. Seu trabalho como fotógrafo já lhe rendeu vários prêmios nacionais e internacionais, como o Líbero Badaró, o Nikon Awards e o Abril de Fotojornalismo. Atualmente, é fotógrafo free lancer em Barcelona, onde co-edita a revista eletrônica sobre fotografia PicturaPixel.

Site: http://www.cversiani.com

Site da revista PicturaPixel: http://www.picturapixel.com

Blog PicturaPixel: http://www.picturapixel.com/blog

Versiani assina uma coluna no site Congresso em Foco: http://congressoemfoco.ig.com.br 

General Figueiredo e Augusto Pinochet | Chile | 1980

O ditador Morales Bermúdez deixa o poder | Peru | 1980

15 Anos do Golpe de 1964 | Belo Horizonte | 1979

Angola | 1999

Angola | 1999

Beirute | 1989

Brasília

Final entre Brasil e Itália | Copa dos Estados Unidos | 1994

Carvoeiros | Grão Mogol, MG

Nova York

Nova York

Washington

Você tem a noção exata de que o Picturapixel extrapolou as fronteiras da internet e virou uma comunidade? Comunidade real, palpável. Os limites do blog e da internet foram quebrados. São fotógrafos profissionais, amadores, amantes da fotografia e tantos outros.

Não tenho a noção exata do que seja a internet, do real alcance do blog e da revista e muito menos do que seja a comunidade Pictura Pixel. O que posso dizer é o dia a dia me surpreende muito. Acontecem coisas muito interessantes, todos os dias, ou quase. Hoje, por exemplo, ficamos eu e alguns outros malucos, como se estivéssemos em um chat. As notas iam entrando e alguns leitores, ou amigos, iam respondendo. Todo mundo online.

Que a comunidade existe, tenho certeza, mas não sei precisar quantos somos. Desconfio que não somos poucos, mas o mais interessante aqui não é a quantidade e sim a qualidade dos participantes. Veja bem, olhe que coisa mais interessante (não é um trocadilho com o nome de seu blog), já tenho três amigos virtuais que se transformaram em pessoas reais. Elio e Ruth de Londres que passaram por aqui e agora Carlos Cazalis, um verdadeiro trota mundos.

E tenho hoje um monte de amigos virtuais, não menos reais, incluindo você e Georgia, que fazem a minha alegria no dia a dia na rede. Tem gente que agradece porque o blog é uma inspiração. Tem gente que resolver fazer um blog porque gostou de se ver por aqui. E tem até gente que começou a fotografar porque o blog despertou algo que estava latente. Melhor que isso só se conseguisse fazer um outro blog que falasse de tudo. Ainda vou fazer. Ah, não posso esquecer do neto, a estrela do blog que até comentário já fez. A internet é isso mesmo, algo que move as nossas vidas, mesmo que não tenhamos consciência desta incrível mágica de nossos tempos mais q modernos.

Qual era a sua idéia inicial com o blog?

O blog nasceu despretensiosamente… E continua sem pretensão, apesar de que hoje tenho a certeza de quando abro o computador de manhã o que eu escrever vai ser lido por muita gente. Isto assusta um pouco, mas só um pouco, afinal, somos jornalistas e estamos por aqui para dar a cara mesmo. Mas deixando a brincadeira de lado só por um momento, a responsabilidade é grande sim. O blog nasceu em junho de 2007 como quem não quer nada e não queríamos mesmo. Nós somos eu e Gilberto Tadday, meu amigo de NY.

Até hoje eu acho que o blog é sobremesa e a revista o filé. Gilberto acha o contrário. A discussão não importa muito. É certo que o blog carrega a revista, mas o portfólio de Aberlado Morell está lá na revista. E isto não é pouca coisa, Morell é gênio! O blog ganhou vida própria e a revista está parada ou em estado letárgico, mas a qualquer hora ela renasce.

O blog virou uma diversão e um vício. Difícil desgrudar da tela do computador. Mas ao mesmo tempo, o blog inspira e impulsiona. Fui visitar uma grande amiga que mora em Praga e uma filha que vive em Berlim, poderia fazer o blog por um mês seguido com o que vi e com o que fotografei por lá. Ou seja, o blog anda pautando a minha vida fotográfica e isto é muito bom.

Analisando por um ângulo mais acadêmico e histórico, o Picturapixel acaba se tornando um grande banco de dados da fotografia mundial. Lembro de um post sobre Arnold Newman. Newman foi a minha grande escola para fazer retratos e tinha ele guardado em alguma parte do meu cérebro, não tinha ele na minha memória recente. E ele voltou como uma bomba quando vi no Pictura. Têm outros: Marc Riboud, Josef Koudelka, etc. Como você cria tudo isso e vai postando? Existe uma intenção?

Claro que existe uma intenção… A intenção é despertar ou passar a paixão pela fotografia. Se eu não fosse fotógrafo não saberia como viver. Sério, seríssimo. Não consigo conceber a vida se não estiver vendo através de um visor fotográfico. Claro, a vida é maior do que a fotografia. Mas a fotografia é o único meio, na minha egoística visão, capaz de “retratar a grandeza da vida”. Corrigindo, a música também, mas esta é uma outra história. O cinema que agrega tudo, nada mais é do que fotografia em movimento.

Você tem razão, a internet é um grande banco de dados da fotografia mundial. E quanto mais eu me aprofundo, mais eu descubro que nada sei. Isto é uma delícia. Imagina, se trabalhássemos como uns loucos desvairados ainda assim estaríamos só arranhando a superfície deste grande banco de dados. Você conhece o blog da Meg? Confere aqui… [O blog é o Um Postal para um amigo]

Fotografia clássica com um tratamento idem. Colírio para os olhos… Meg é mais uma amiga virtual.

Arnold Newman é referência absoluta, não é? Não tenho mais o que dizer. Tudo já foi dito na nota lá no blog. Ou quase. Faltou contar que no meio das tralhas do Mestre Newman eu achei um Stravinski. É uma cópia quase perfeita mas que foi rejeitada pelo próprio Arnold Newman que escreveu: “Too dark for collage”. Para mim está perfeita. Loucura, não é? São as loucuras de se morar em NY. E por que não contamos isto no blog? Porque a foto é tão preciosa que fiquei com medo de alguém da família pedir de volta, apesar do blog ter audiência zero nesta época. Mas o fato é que tudo estava por lá no estúdio de Newman para quem quisesse pegar e só nós e mais um outro maluco aparecemos por lá.

Marc Riboud e Koudelka… Também não há o q acrescentar. Riboud é o patrono do blog e Koudelka talvez seja o maior fotógrafo vivo dos nossos dias.

A intenção é exatamente esta… Viver é preciso, fotografar é estar vivo. E blogar (palavra feia) é a comunhão da fotografia e da vida. Melhor dizer, fazer um blog é a comunhão entre a fotografia e a vida. Eu gosto muito de brincar no blog e brincando vou falando ou escrevendo coisas sérias. Um dos bordões ou lemas do blog é “quando o blog manda eu obedeço”. Ricardo Noblat gostava de dizer na redação do Correio Braziliense: “Eu não brigo com a notícia.”

Eu também tenho juízo e vou obedecendo. O blog entrou numa fase Berlim e seu muro. Acabei de fazer uma nota sobre o filme de João Wainer e Roberto Oliveira

Esta nota estava parada comigo há muito tempo. De Berlim fomos para o muro de Gaza e a amiga Usha fez um comentário sobre os muros do Brasil. No filme do João há um depoimento que alguém diz que a ponte é um muro de Berlim. Pronto, a nota se fez obrigatória. Foi para o ar. O blog funciona assim.

Fui convidado para dar uma palestra para os alunos de Fotojornalismo de uma faculdade aqui no Recife. Não era sobre o meu trabalho, era sobre o blog. Fiz uma pequena pesquisa e, para minha surpresa, constatei que vários blogs nasceram na mesma época: entre junho e setembro de 2007. Granulado, Fotograficaminhamente, PicturaPixel, Olha, vê e o Tramafotografica. São blogs diferentes, cada um com seu foco. Parece combinado. E temos uma gama bem interessante de visões e conceitos. Fora outros blogs maravilhosos. Por que isso aconteceu de uma forma tão contundente?

Também já me fiz esta pergunta e não encontrei a resposta. Sei que isto criou uma grande cumplicidade entre nós. E acho que os blogs citados se completam. Basta ver quantas vezes um citou o outro e quantos links fazem esta conexão maluca na rede. Tudo está conectado e nada está dominado é outra brincadeira do blog.

A Carla Romero é uma referência para mim. Costumo chamá-la de a “Rainha das surpresas”. A Luciana foi estagiária no Correio Braziliense, uma pessoa encantadora e uma fotógrafa com uma visão super bonita do mundo. A Simonetta pensa fotografia há 30 anos. Ela já era referência.

O seu blog, eu não me canso de elogiar. Acho que recentemente o Olha, vê cresceu muito em conteúdo e você achou um caminho muito interessante. Fico feliz quando vejo estes blogs e penso que estamos fazendo história. Nós e os nossos leitores. Vai ficar tudo gravado em algum lugar na rede, não me pergunte aonde. Enfim, a fotografia merece. Faltou falar de mais um que também nasceu pela mesma época, o 28mm do amigo Henrique Manreza. Ele também encontrou um caminho legal, além de ter uma história pessoal muito interessante. Henrique largou uma vida estável para abraçar a sua paixão fotográfica. Isto é muito bacana.

E o blog compartilhado sem uma informação isolada? Tudo vai linkando e criando uma rede que não acaba… O Picturapixel é de todos?

Vê link: http://www.picturapixel.com/blog/?p=4260

PicturaPixel é de todos sim. A revista e o blog não existiriam ou seriam bem diferentes se não fosse a participação quase sempre espontânea de cada um. Às vezes peço colaboração, mas também aparece muita gente oferecendo material. O meu grande problema hoje é que o monstro que eu criei insiste em querer me engolir, todos os dias. É uma batalha diária. Nem sempre os colaboradores entendem porque demora tanto para um material ir para o ar. Quanto melhor o material, maior será este tempo. Porque gosto de tentar fazer bem feito e para isso preciso de tempo. E tempo me falta todos os dias.

Tenho uma nota na cabeça que surgiu de uma conversa com uma amiga, a Licinha que passou aqui por Barcelona. Eu fui explicando como fazia o blog e ela se lembrou do conceito “stream of conscientious”. Ainda vou escrever porque é muito interessante e como o blog flui no dia a dia. Tenho uma foto maravilhosa do André Dusek em que aparecem os nossos 4 últimos presidentes juntos. Fico namorando a foto e a cabeça gira. Também ainda vou escrever sobre esta imagem do Dusek. E por falar no André, ele e o Juan Esteves são os dois colaboradores mais presentes e generosos. Tanto é que viraram categoria no blog. Se estivesse no Brasil já estaria explorando outros amigos. O blog é especialista em explorar amigos e familiares.

Vamos falar de imagem. Como começou na fotografia? O que você gosta de fotografar?

Putz. Comecei em 1976 fotografando viagens e acampamentos com a “turma”. Na volta nos reuníamos para fazer sessões de slides. Me ajudou muito o fato de fotografar com slide, só descobri o laboratório e o PB algum tempo depois. Slide não tem corte e te obriga a ter mais controle do visor fotográfico.

Em 1978 apareceu uma chance de fazer um frila no O Globo em Belo Horizonte. Foi ali que encontrei o Guinaldo Nicolaevsky que me ensinou um punhado de truques, além de me dar a maior força na profissão. Guinaldo não era um fotógrafo que se preocupava com o futuro, o que é uma pena, porque hoje o acervo dele está incompleto. Além da generosidade e o carinho com que fui recebido, ele me dava aulas de história. Guinaldo foi fundamental na minha vida. Guinaldo é o autor da foto que Sylvio Tendler classificou como o melhor retrato da ditadura ou do fim da ditadura.

Prestei uma homenagem mais do que merecida a ele aqui no blog. Foi um dos momentos mais bonitos do blog, talvez o mais bonito de todos. Fiquei feliz em poder mostrar a imagem antológica da menina que negou a mão ao general para os mais novos. A foto rodou a rede e foi parar na capa de alguns jornais, inclusive o Jornal do Commercio.

Vê link: http://www.picturapixel.com/blog/?s=Guinaldo&submit=Go

Do Globo fui para a publicidade e fiz coisas muito interessantes como o lançamento das sandálias Grendene. As primeiras caixas e posters da sandália são minhas, engraçado falar nisso agora. Ganhei dinheiro e logo descobri que não era a minha. Casei com a D. Maú e viajamos 8 meses por Bolívia e Peru, na verdade foram 6 meses de Peru. Conheci a turma da F4 de SP e novamente minha vida mudou. Voltei para BH e para o Globo. Daí para a Istoé em BH. E depois para SP numa redação fantástica da mesma Istoé. Só tinha fera por lá e a revista era genial. Acho que foi aí que aprendi ou descobri que o meu negócio era contar histórias. A Istoé que era do Fernando Moreira Salles foi vendida para a Gazeta Mercantil e eu pulei fora. Voltei para BH na mesma Istoé. Fiquei até 87 quando fui para Brasília por um mês. Fiquei 15 anos lá. Em 1988 fui para a Veja e permaneci até 92 quando voltei para a Istoé de novo, na semana da capa do Eriberto França. Conheci Ricardo Noblat que em 94 iria assumir o jornal chapa branca Correio Braziliense. Noblat me chamou para ser o editor de fotografia. Trabalhei como um condenado, aprendi muito e me diverti mais ainda. O CB foi e acredito que ainda seja o jornal brasileiro mais premiado no SND, Society for News Design. Responsabilidade do Noblat, do Chico Amaral que hoje é um dos diretores das Cases y Associats de Barcelona, e de vários outros. Mas o Chiquinho é uma peça fundamental nesta história. O CB foi a melhor experiência da minha vida profissional.

Em 2002 fui para NY, acompanhando a D. Maú que é oficial de chancelaria do Itamaraty. Em NY frilei bastante para a imprensa brasileira. Em 2008 ela foi transferida para Barcelona e aqui estamos fazendo o blog do navegador maluco e tentando encontrar um frila aqui e outro ali. O que eu gosto de fotografar é gente e gosto de contar suas histórias. É isso o que eu sei fazer. Ou o que eu tento fazer.

Li um texto seu sobre a sua experiência na Copa 1994. A foto dos pênaltis na final com a Itália. Fale sobre a sua maior “roubada” e a pauta mais prazerosa da sua vida.

Vê link: http://ahistoriabemnafoto06.blogspot.com/2007/09/claudio-versiani-taffarel-e-baggio.html

Fiz a Copa de 94 e a de 98, a do mistério do Ronaldinho. Gostei muito, mas esporte não é minha especialidade. A foto do Taffarel foi sorte de principiante. As três melhores pautas da minha vida foram Beirute para a Veja em 1989, Somália em 97 e Angola em 99, ambas para o Correio Braziliense. Beirute talvez tenha sido a melhor delas, adrenalina pura e alguns tiros e morteiros. Algumas situações complicadas e fotos poderosas, históricas, pelo menos para mim. Somália e Angola, fizemos cadernos no CB. Editar foi um prazer e uma aula de edição. Os dois cadernos foram desenhados pelo Chico Amaral que também co-editou o caderno. O legal do CB é que os projetos mais importantes tinham edições coletivas. Trabalhar com Vital Antônio e José Rezende foi um prazer, dois super repórteres e dois super companheiros.

Links para Beirute:

http://www.cversiani.com/?#/menuprincipal/beirute/cor/

http://www.cversiani.com/?#/menuprincipal/beirute/pb/

Capa e contra capa do caderno Somália:

A maior roubada foi na Veja mesmo em BH, mas esta história só dá para contar com a foto. Eu tenho a página guardada lá no Brasil. O erro foi meu e a Veja publicou uma foto que não era da matéria. Eu fiquei super mal, mas sem a foto não dá para contar…

Outra roubada foi na mesma Veja em Brasília. 1992, época do denuncismo. Valia qualquer coisa. E toda hora sobrava para mim. Entrei na Base Aérea de Brasília acompanhado de um sargento que queria denunciar um coronel que estaria fazendo umas falcatruas na oficina da Base. Não me lembro, vendendo umas peças dos veículos da Aeronáutica, algo assim. Fotografei a oficina e saí fora, imagina, isso ainda era 1992. Depois fiz plantão na casa do coronel e fotografei o homem. O motorista do coronel me denunciou. O Coronel quis fazer um acordo e conversar. Me chamou para dentro da casa dele, sem equipamento, 7 horas da manhã. No alto da escada, no segundo andar aparece a esposa do coronel e começa a fazer um escândalo e ameaça se jogar de lá, dizendo que a vida dela acabou e que eu era o culpado e etc. Eu não sabia se era onda ou não. Eu ateu e rezando para a mulher não se jogar do segundo andar. A denúncia não tinha muita consistência ou o caso não era bem assim. O sargento queria se candidatar a deputado distrital em Brasília. A matéria saiu em duas colunas e a foto do coronel tinha de ser vista com lupa. Naquele dia decidi que iria sair da Veja, mesmo não tendo para onde ir. Por sorte apareceu uma vaga na Istoé. Mas o tempo na Veja foi muito bacana, tenho orgulho do que fiz por lá.

Qual a sua opinião sobre a fotografia brasileira atual?

Putz de novo.

A fotografia brasileira vai muito bem obrigado. Não devemos nada a ninguém, pelo contrário, o fotógrafo brasileiro de uma maneira geral, é muito bom, sem bairrismos. Mas estamos falando de imprensa, certo? E a imprensa brasileira vai muito mal, de verdade. Não vejo nada de diferente nos jornais. Estamos falando de internet, certo?

O Globo acaba de fazer um carnaval e diz que mudou, agora é multimídia, notícias no seu celular e não sei mais o que. Fui lá ver e é muito pobre. De uma pobreza de dar dó. Multimídia no Brasil é qualquer coisa. Bota umas fotos lá e pronto, diz que é multimídia. Não tem ninguém trabalhando fotografia como conceito, como conteúdo, como linguagem ou como informação. Se existir eu desconheço.

Quando você vê o NY Times, o Big Pictures do Boston, as histórias do Dallas Morning, você fica pensando porque nenhum jornal brasileiro faz a mesma coisa ou algo semelhante. A resposta é porque ninguém pensa fotografia como conteúdo, só isso. Até o sisudo Wall Street Journal se rendeu à fotografia. Por que? Porque o Murdoch sabe ganhar dinheiro. E na rede sem fotografia não se ganha leitores.

E não são só os jornais americanos não. Os espanhóis também fazem isso, o Público dá um show em edição fotográfica. Aliás, vários jornais aqui abrem sua página web com vídeos. A fotografia mudou. A internet mudou o mundo e mudou o nosso modo de ver o mundo. O mundo hoje está em movimento, literalmente. Página na internet tem que ter vídeo e vídeo que funcione.

As páginas do O Globo vivem dando pau. É uma vergonha. Sem falar no absurdo que tanto O Globo como o Estadão creditam as fotos como sendo Reuters, AP, France Presse, etc, isso é brincadeira de mau gosto. O Estadão tem feito algumas coisas interessantes, mas ainda é muito pouco. Porque será que ninguém por aí ainda não copiou o Media Storm, já que somos mestres em copiar os gringos.

Me desculpem a falta de modéstia, mas nós os blogs fazemos melhor. A Folha contratou a Carla Romero, espero que ela tenha espaço por lá. Só para encerrar com um, ou melhor, vários exemplos: O Evandro Teixeira ainda está no JB? Não seria genial ver o material do Evandro na rede? Poderia ser no JB ou em qualquer outro jornal. O que o Kadão está fazendo lá na Zero Hora? Eu contrataria o Kadão para ser o editor multimídia do meu jornal. Kadão tem uma belíssima cultura fotográfica e faria coisas geniais. Você mesmo viu e publicou o show que as agências internacionais e os jornais/revistas deram na cobertura da olímpiada. Qual o segredo? Programação em Flash? Panorâmicas? Gravar o fotógrafo comentando suas fotos? Edição inteligente e bem cuidada? Ah, isso todo mundo sabe fazer, é questão de querer.

Veja o Garapa, exemplo melhor não há. São três pessoas produzindo (na rede) conteúdo melhor do que a Folha e o Estadão somados. Essa é a visão de quem está de longe. De dentro e de perto não poderia dizer. Posso estar enganado e sendo muito crítico, mas desconfio que não. Assim como Kadão, o Juan Esteves que também tem uma cultura fotográfica absurda estaria no meu time. Se fosse um diretor de redação eu chamaria o Juan e daria carta branca pra ele fazer o que quisesse.

Quais as suas referências?

Tenho muitas. O primeiro de todos é Lewis Hine, não só pela fotografia em si, mas pelo trabalho social ou pela função social da fotografia que ele criou. Sou apaixonado pela história do FSA (Farm Security Administration) e em especial Dorothea Lange. Os fundadores da Magnum porque eles trouxeram respeito à fotografia. Eugene Smith, o pai dos ensaios fotográficos. Salgado por seu trabalho e pelo o que ele conseguiu. E muitíssimos outros, a lista é grande. Hoje não existem mais referências únicas. A cada dia se descobre gente nova na rede. Mas continuo gostando dos velhos documentaristas sociais.

Se tivesse que ficar só com dois… Seriam Lewis Hine e Eugene Smith.

E hoje, o que lhe atrai?

O que me atrai são projetos, histórias humanas. Recentemente vi a a exposição do Brent Stirton em Perpignan. É um choque, não é só a história dos gorilas, é o contexto em que isto acontece no Congo.

Vê link: http://www.picturapixel.com/blog/?p=7901

Conheci pessoalmente o ex-amigo virtual Carlos Cazalis. Bacana conversar com ele. O cara é cheio de projetos interessantes e ele vai atrás. Vai fazendo um após o outro. Eu gosto de ver histórias fotográficas bem contadas. Um ensaio fotográfico é como um bom livro, quando acaba, dá vontade de ler de novo.

A rede está aí para quem quiser…

Olha aqui…

http://www.picturapixel.com/blog/?p=7625

Na Premiação do Fotosite/Sixpix você ficou no Top Ten nas categorias Jornalista e Editor. Como você recebeu isso, estando tanto tempo fora do país?

Concurso, eleição, votação é tudo meio estranho. Fiquei surpreso e recebi com muita satisfação. Foi legal pessoalmente, uma recompensa por ficar aqui neste computador alimentando o blog que se tornou um monstro insaciável. O monstro insiste em querer me engolir e eu insisto em não deixar. É uma batalha diária tentar me organizar. Gostei de furar o bloqueio do eixo Rio-São Paulo (tinha mais gente de fora, o amigo Eugênio Sávio estava na lista) e gostei mais ainda da comprovação que a rede não pergunta onde você está. Ou seja, tem espaço para todos por aqui.

A rede é generosa.

Barcelona, Nova York ou Brasília

De coração… Brasília, disparado. Foi a cidade que me deu mais coisas na vida profissional e foi a cidade aonde criei minhas filhas. Hoje uma mora em NY e a outra em Berlim. A vida é mesmo cheia de surpresas.

Tenho curiosidade para saber como seria o blog editado de Brasília. Daqui a cinco anos irei descobrir.

Comentários 9

  1. Pingback: Olha, vê | Alexandre Belém » Foto em Pauta

Deixe um comentário