[ QUEM ] Anderson Schneider.
[ ONDE ] Brasília.
[ PORQUE ] Apesar de Anderson discordar de mim, o currículo dele fala por si só. Assim como suas imagens. Um dos fotógrafos brasileiros com mais destaque no exterior, Anderson não concorda com a constatação. Bem, logo na entrada do seu site as informações não me deixam mentir: exposição no Visa Pour L’Image, XI Encuentro Internacional de Fotoperiodismo de Gijón (Espanha), World Photo Festival na China, Lumix Festival für Jungen Fotojornalismus em Hanover (Alemanha), duas vezes finalista do W. Eugene Smith Grant e prêmios do NPPA Best of Photojournalism. Ainda no site, podemos ver os ensaios e publicações dos seus trabalhos e, mais uma vez, constatamos que o cara faz um trabalho que dura mais que 15 minutos.
Anderson Schneider é fotógrafo independente e tem seu trabalho internacionalmente distribuído pelas agências World Picture Network, de Nova Iorque, e Grazia Neri, de Milão. Arquiteto de formação, abandonou a carreira em 1998 para dedicar-se integralmente à fotografia, seja engajado em projetos pessoais de grande fôlego, seja trabalhando para jornais, revistas e organismos internacionais. Movido pela forte crença de que uma câmera, uma fotografia e uma página impressa têm o poder de tornar o mundo mais real, Schneider já foi por duas vezes nomeado finalista do prestigioso W. Eugene Smith Grant (Estados Unidos, 2006 e 2007) e recebeu o Prêmio Especial de Fotografia Humanitária da IV Bienal de Fotografia de Pleven (Bulgária, 2005), além de contar também com duas premiações no NPPA Best of Photojournalism (Estados Unidos, 2005 e 2007). Suas imagens participam regularmente de diversas mostras e festivais internacionais de fotografia, já tendo sido expostas em Brasília, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Nova Iorque, Madrid, Gijón, Florença, Perpignan, Pleven, Hannover e Shenyang.
Com 33 anos, Anderson vive em Brasília com sua esposa Adriana e sua recém-nascida filha Anna.
Site: http://www.andersonschneider.com/
SOMBRIA – THE CITY WITHIN | Procissão do Fogaréu | Goiás Velho (GO) | 2005
Ator Morgan Freeman | Brasília | 2002
THE LOUDEST WHISPER – THE SCARS OF LEPROSY IN BRAZIL | Igarapé-açu (PA) | 2005
ELDORADO – THE DARK SIDE OF GOLD IN THE AMAZON | Apuí (AM) | 2007
KURDISH REFUGEES | Erbil, Iraque | 2004
THE AMAZING RACE | Alto Paraíso (RO) | 2008
Recentemente, Claudio Versiani disse no blog PicturaPixel: “O trabalho fotográfico de Anderson Schneider é impressionante. Ele atingiu uma qualidade, que o coloca ao nível dos grandes fotógrafos internacionais”. Você é um dos fotógrafos brasileiros com mais destaque no cenário internacional. Qual o segredo para alcançar tal reconhecimento?
Sinceramente discordo de você quando diz que sou um dos que tem maior destaque no cenário internacional. Ninguém daqui tem destaque no cenário internacional; ainda somos vistos lá fora como um país de produção fotográfica medíocre e nada mais. Claro que, em parte, isso tem a ver com a arrogância primeiro-mundista, mas acredito que não seja só isso. Nossa fotografia é, generalizando, claro, provinciana e perdida em algum lugar do começo da década de 80. E a pior parte é que nós não estamos nem aí pra isso, pelo contrário, achamos o máximo, temos certeza de que esse é o nosso jeito de fazer fotografia…
Ter sido finalista por duas vezes do Eugene Smith Grant carimbou este sucesso. O que representa chegar na final de um prêmio destes?
Significa que ainda tenho alguns pontos importantes em minha fotografia que precisam ser melhorados. Ter sido finalista tem um grande valor pessoal para mim, mas para meu trabalho não significa nada. Ele será tão esquecido quando os demais, finalistas ou não.
Você foi para o Iraque logo após a guerra, em 2004. Qual era o seu plano para a reportagem e quais foram os frutos dessa viagem?
Meu plano de reportagem era preencher uma lacuna da história que não estava sendo preenchida, ou pelo menos não o estava sendo na medida certa. Acho que chegamos a uma era de produção jornalística extremamente imediatista, onde tudo é pra ontem e os fechamentos são instantâneos. Legal, isso é importante, eu também quero ter as últimas informações sobre o último acontecimento, esteja ele acontecendo em Nova Iorque ou no fundão de Darfur. O problema é que o jornalismo está se tornando somente um produto de consumo imediato e, assim, o seu papel na consolidação do processo histórico fica seriamente comprometido. Acho que o registro visual de nosso tempo está sendo pautado somente pela foto do dia da Reuters, e isso sinceramente me preocupa. Que imagens levaremos do Iraque? Fecho meus olhos e não vejo nada muito além de um soldado americano em patrulha e uma mulher de véu negro caminhando ao seu lado. Lastimável.
Como você vê o fotojornalismo brasileiro atual?
Como uma indústria lutando para sobreviver. E perdendo a luta. Isso em si não é lá grandes novidades, uma vez que isso acontece no mundo todo. O problema é que nós ainda estamos presos na década de oitenta…. Ou seja, mal começamos a andar e já estamos com reumatismo. Mas fazer o quê, né? Cabe a nossa espécie adaptar-se ou sucumbir, simples assim.
Você é representado por alguma agência ou agente? Para publicar fora é necessário o suporte de uma empresa?
Sou representado pela WpN em Nova Iorque e pela Grazia Neri em Milão. Chique, né? Seria mais chique ainda se eles fizessem o que se propõe a fazer. A absoluta maioria das fotos que publico fora (e dentro também) são por meu intermédio e de ninguém mais. Daí você já imagina que eu não consigo publicar muito…
Partindo para um carreira independente, o gênero documental e o fotojornalismo são a essência do seu trabalho. Lhe interessa outras temáticas e abordagens fotográficas?
Não. Na vida, fazer uma coisa bem feita já é privilégio de muito poucos. Tentar mais que uma é suicídio. Bom, falo apenas por mim e pelos meus dois neurônios. Tem gente que tem mais e consegue até ser multimídia….
Quais são as suas influências?
Goya e literatura clássica.
O que lhe chama atenção na fotografia atualmente? E a Fotografia Brasileira?
Gente que ainda consegue produzir coisas planejadas para durar mais que 15 minutos. Ah, e gente que consegue fazer coisas realmente novas e de qualidade ao mesmo tempo. Só novas é fácil…
Na fotografia brasileira, bom, como já disse e não consigo parar de repetir*, ou ela está presa na década de 80 ou está ocupada demais fazendo RP… Ah, e tem os clubinhos também. É impressionante como tem coisa medíocre sendo mostrada como genial. São intermináveis listas não sei de que, melhores não sei de onde, tops10 de até esqueci. É uma multidão, de gente até boa, jogando descaradamente para a torcida, um patético festival de auto-promoção. Ainda fico abismado em perceber como tem gente que simplesmente aceita isso como verdade ou, pior, que ainda se esforça para fazer parte disso.
*culpa de um amigo meu, o Fábio Sabba, que cunhou essa frase e, desde então, ela ficou indelevelmente impressa em minha cabeça.
Qual o equipamento que você usa no dia-a-dia? Gostaria que você abordasse a coisa do filme. Se faz p&b ou é digital capturado em p&b. Pois, sua produção é muito marcante pela estética preto e branco.
Cara, não dou a mínima para equipamento e, sinceramente, nem gosto muito de falar sobre isso. É uma conversa consumista que não leva ninguém a lugar nenhum. Ela invevitavelmente acaba em algo como o Reverie do Laforet, que é uma das coisas mais cafonas que vi nos últimos tempos, com direito até a lua cheia no final. Acho que ele também tem só dois neurônios, mas parece que ainda não percebeu… Mas voltando ao equipamento, uso o mais conveniente para o meu trabalho, que é uma mark III, uma G9 e um punhado de lentes que vai de 16 a 200mm. Tenho também uma EOS 3, que uso para trabalhar em filme. E esse lance do filme, só ainda o uso por uma única razão: tenho um trabalho em andamento que comecei em película e agora tenho que seguir até o fim com ela. E por falar em equipamento, estou vendendo 03 SanDisk Extreme III 2 Gb e dois Lexar Ultra 1 Gb, se souber de alguém…
[…] Entrevista com Anderson Schneider (em outubrode 2008) na seção Entrevistando…, aqui. […]
Acabo de chegar de uma semana de viagem e perceber que algumas idéias que coloquei geraram desdobramentos. Que bom. Gostaria apenas de detalhar dois pontos para que nenhum mal-entendido seja perpetuado.
1. Onde escrevo fotografia, por favor, leia-se fotojornalismo. Apesar do contexto da entrevista deixar, na minha opinião, isso claro, em momento algum de minha exposição deixei essa apropriação do todo pela parte textualmente registrada. Falha minha. Faço-o agora.
2. Em momento algum disse que a fotografia norte-americana ou européia é brilhante. Apenas disse, e repito, que nossa fotografia é provinciana e perdida no tempo. Provinciana porque a produção nacional e sua veiculação são, via de regra, desconectadas do que se faz no resto do mundo. O tratamento que a fotografia tem dentro das redações brasileiras é, de maneira generalizada, claro, risível. E torna-se ultrajante quando comparado ao tratamento que a fotografia tem nos jornais e revistas europeus e norte-americanos. Claro que existem algumas boas exceções, mas a média nacional é muito ruim. Já quando digo que a fotografia brasileira é perdida no tempo, refiro-me ao fato da fórmula ainda em voga nas redações nacionais ser a mesma há mais de sei-lá-quantos anos, aquela que invariavelmente submete o conteúdo fotográfico ao conteúdo do texto, deixando assim pouco, pouquíssimo espaço para a fotografia se reinventar. A fotografia na grande maioria dos meios de comunicação de nosso país não é mais que um tapa-buraco, algo que apenas existe para tornar a feia página de jornal um pouco mais bonitinha. Como já bem disse a moçada da Cia de Foto, nesse país fotógrafo não é mesmo pago para pensar.
Então, quando somo todos os desmandos ao quais a fotografia brasileira se submete pacatamente todos os dias, do crédito ao salário, do respeito por seu conteúdo ao espaço para o desenvolvimento de sua linguagem, infelizmente, só me resta dizer que a fotografia brasileira não vale mesmo muita coisa.
Coragem !!!
É assim que consigo definir a entrevista do Anderson, muita coragem em dizer o que a maioria pensa mas não põe pra fora.
Sobre produção nacional, sobre a mediocridade das fotos em jornais, sobre equipamento e principalmente sobre profissionais que não cumprem o que se propoem.
Está de parabéns, Alexandre, por ter trazido isso a público e também parabéns ao Anderson, que tenha uma carreira sempre em ascenção.
[…] fotógrafo Anderson Schneider colocou um comentário na sua entrevista fazendo algumas considerações. Como postei o comentário […]
[…] Versiani, do PicturaPixel, fez um comentário na entrevista de Anderson Schneider que considero interessante e publico aqui como um post. Pedi para Versiani uma sugestão de foto […]
Mais uma vez eu discordo do Anderson. O trabalho dele fala por si só.
“ainda somos vistos lá fora como um país de produção fotográfica medíocre e nada mais. Claro que, em parte, isso tem a ver com a arrogância primeiro-mundista, mas acredito que não seja só isso. Nossa fotografia é, generalizando, claro, provinciana e perdida em algum lugar do começo da década de 80. E a pior parte é que nós não estamos nem aí pra isso, pelo contrário, achamos o máximo, temos certeza de que esse é o nosso jeito de fazer fotografia… ”
E aqui eu discordo profundamente. Poderia escrever um ensaio sobre a fotografia brasileira. Resumindo, não dá para comparar com os norte-americanos e nem com os europeus. Nem fotográficamente, nem cultural e muito menos econômicamente.
Morei 5 anos em NY e vi muita coisa ruim por lá. É o reverso da medalha, eles se obrigam a ser criativos e se perdem. Vale qualquer coisa, o criativo pelo criativo e a bobagem pela bobagem. E o que é pior, há gente que goste e gosta muto. Estou generalizando, como Anderson fez.
Aqui na Europa não sinto isso, pelo menos por enquanto. A cultura fala mais alto e a produção fotográfica não tem esse apelo da “criatividade”. Os europeus valorizam mais a história, o documento por assim dizer.
Finalizando, a fotografia brasileira não é melhor e nem pior do que a americana ou européia. Só é diferente. Agora… quem está disposto aí no Brasil a bancar 100 mil dólares anuais para um fotógrafo ficar um ano fotografando ?
http://www.picturapixel.com/blog/?p=9193
E não é só pq é o Nachtwey. Ele simplesmente inscreveu o melhor projeto.
Anderson ainda é um garoto e tem muito chão pela frente.
Eu sou fã dele.
Muito boa entrevista, Anderson falou do que é importante, o trabalho. Existe hoje uma celebração do que não é importante, envolvendo velhos nomes e trabalhos novos que não emocionam ninguém, muitos vazios na história e no presente precisando do fotográfico, da contestação e da revelação dessas histórias ao mundo.
Tenho admiração pelo trabalho do Anderson pelo simples fato de ele trabalhar sobre o que é relevante, o resto não interessa.
Parabéns ao Alexandre Belém pelo Blog também.
Abraço;
Opa! Que bom que foram ouvir o grande Schneider. Ganhamos muito em ouví-lo ou vê-lo. Sempre.
Aliás ele também é de um “clubinho”, todos somos. Ser indenpendente também forma um clube. O que é bom porque cria uma vida colaborativa.
Outro desse clube é André Vieira que vale muito a pena ser ouvido pelo Olha, vê..
Anderson é bom, maluco, inconformado e pai.
Só falta agora fotografar Anna. Essa fotografia toda sendo aplicada em coisas mais imediatas a vida dele vai ser foda! O pipoco.
Abraços aos do clube!
Que surpresa ver essa entrevista. Adoro o trabalho de Anderson. Sou uma fã declarada. Poxa, comecei bem o dia. Gracias, Belém.