Anderson Schneider

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A quarta participação na série “Processo de criação” é do fotógrafo Anderson Schneider. Anderson está com um projeto em andamento que foi aprovado pela Funarte. O título é Brasília Concreta, e trata da cidade que acolheu o fotógrafo. Anderson já nos presenteia com imagens de uma Brasília que está prestes a completar 50 anos e se revela não tão concreta assim.

Site de Anderson Schneider, aqui.

Entrevista com Anderson Schneider (em outubrode 2008) na seção Entrevistando…, aqui.

Cia de Foto, Rodrigo Braga e João Castilho na seção “Processo de criação”, aqui.


OLHA, VÊ Sobre o tema, “Brasília Concreta”, gostaria de saber sobre a escolha e as motivações para desenvolver o tema.

ANDERSON SCHNEIDER Bom, acredito que Brasília tenha a peculiar condição de ser famosa mundialmente e, ao mesmo tempo, desconhecida até mesmo de seus habitantes. É uma cidade cartão-postal. Isso é, em grande parte, fruto de seu desenho urbano e da utopia modernista da época de sua concepção. Acontece que o tempo passou e a cidade continua aí, ou melhor dizendo, aqui. Sempre tive a vontade de fazer um retrato da cidade real e contrapô-lo à idéia de cidade inventada – creio que a oportunidade surgiu agora com essa Bolsa.

Para resumir então, o projeto trata-se de um documentário. Um retrato da atmosfera, do imaginário de uma jovem cidade que não é mais o que fora desenhada para ser e que busca, obcecadamente, explicação para o espanto de sua própria criação. Vejo-o como um ensaio de sondagem psicológica do que vive não na Brasília sonhada, mas na Brasília insone, um retrato dos homens e de suas sombras, da imperfeita perfeição de uma cidade que, às vésperas de seu cinquentenário, vive às voltas com os prazeres e decepções do amadurecimento.

OLHA, VÊ Qual a relação entre esse novo projeto e o seu ensaio “Invented City”?

ANDERSON SCHNEIDER Antes de mais nada, Invented City é apenas o nome provisório de um ensaio postado na versão inglesa de meu website. Tudo bem, meu website não tem versão em português, mas isso já é outra conversa… Bom, voltando ao assunto: Cidade Inventada é um recorte da arquitetura de Brasília desenhada por Niemeyer. Só para contextualizar, ele foi feito em uma semana e sob encomenda para um jornal, por ocasião do centenário do arquiteto. É um projeto que ainda tem um pé no que Brasília fora planejada para ser. Porém, apesar de ser um trabalho restrito e focado primariamente em alguns edifícios da cidade, acho que nele já são visíveis alguns pontos que viriam a ser, mais tarde, o objeto de estudo do Brasília Concreta.

Já o Brasília Concreta expande e assume a linha de pesquisa iniciada no ensaio anterior, concentrando esforços na exploração dos atores e da atmosfera da cidade, ou seja, na busca de um desenho do inconsciente dela. Esse ensaio já está muito mais direcionado para o que o Brasília veio a se tornar.

Fica agora claro para mim, escrevendo esse texto, que um não existe um sem o outro; são duas metades de uma mesma coisa.

OLHA, VÊ O processo de criação será como? Uma criação linear ou que se desenvolve de acordo com os resultados?

ANDERSON SCHNEIDER Um pouco dos dois, eu acho. Não acredito em trabalhos que se desenvolvem apenas de acordo com os resultados, sem uma idéia inicial organizando a busca. Geralmente quando não tenho um bom motivo para segurar a câmera, prefiro ficar em casa brincando com a minha filha. Não sou do time que enxerga um lado lúdico na fotografia. Contudo, também não acredito em trabalhos que terminam no ponto onde foram desenhados para acabar. Quando isso acontece, não me sinto diante de fotografia, mas sim de um exercício estético (ou até mesmo artístico) que usa a fotografia apenas como uma (limitada) técnica.

Para que a fotografia exista, acredito que a interferência da realidade deva ser, fundamentalmente, o núcleo do trabalho. Fora disso, tudo é apenas arte eletrônica ruim.

OLHA, VÊ Qual a situação atual do projeto?

ANDERSON SCHNEIDER Está no meio do caminho. Quis tanto ir atrás dos becos de Brasília que agora estou preso em alguns deles.

OLHA, VÊ Os objetivos estão preestabelecidos ou não?

ANDERSON SCHNEIDER Complicado responder. Diria que os objetivos que tratam do que procurar, de maneira geral, já estão, sim, preestabelecidos. Já o que será encontrado, tomara que não…. Mostro aqui algumas das imagens já feitas, mas o faço muito mais a título de ilustração da entrevista do que de uma apresentação do trabalho. A narrativa ainda está muito incompleta.

 

OLHA, VÊ Sobre técnica fotográfica/produção/estética. Como você irá realizar as fotos? Você já pensa em algo para mostrar como resultado: exposição, catálogo, etc.

ANDERSON SCHNEIDER Com a câmera que tiver, com a luz que encontrar e com todos os detalhes que conseguir tirar de meu quadro. Detalhes complicam tudo…

Pretendo, sim, transformar o trabalho em uma exposição, mas por enquanto pretender é a palavra. Se virar exposição, vira também (tomara) catálogo e internet. Imagino também que parte do material terá algum uso no aniversário de 50 anos da cidade, a ser comemorado em 2010. Mas tudo, claro, vai depender de como o trabalho caminhará até lá. Torço pelo melhor.

OLHA, VÊ Sem dúvida, “Brasília Concreta” tem a ver com a sua relação com o lugar em que vive. Como isso influencia o trabalho fotográfico?

ANDERSON SCHNEIDER Na verdade, viver aqui me fez querer tocar esse trabalho – é o que devo à cidade que me acolhe. Mas, fora essa vontade inicial (e, claro, a disponibilidade de tempo para investir nessa exploração), não vejo muita diferença entre tocar essa história aqui ou em outra cidade. Eu sou outra pessoa quando fotografo, ou melhor, acho que não sou pessoa alguma.

OLHA, VÊ Como você irá abordar a temática humana em um tema que poderá (ou poderia) ser árido, tomando por base o nome “Brasília Concreta”?

ANDERSON SCHNEIDER Pois é, o termo concreto é legal porque pode tanto adquirir características de substantivo e se referir ao concreto-armado, tão árido e presente na cidade, quanto também pode adquirir características adjetivas e se referir à Brasília de verdade, à cidade viva e real que pulsa sob o edificado. Gosto muito dessa dialética de sangue e cimento e procuro nesse trabalho vislumbrar o equilíbrio desses opostos, de que maneira eles interagem e se influenciam para que a cidade possa realmente existir.

Lembra da imagem do cartão-postal? Pois então, o projeto tenta explorar o verso dele. É lá que estão todas as palavras de afeto e saudade escritas em letra apressada, os selos colados tortos e os carimbos apagados dos correios, enfim, as coisas que transformam um simples pedaço de papel pintado em um objeto quase vivo.

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  1. Olá Georgia,

    Gostaria somente de frisar a parte onde você coloca que “creio que algumas fotografias, mesmo que menos contundentes, tenham seu compasso dentro da narrativa proposta”.

    Na minha maneira de ver as coisas, ensaios são obras sinérgicas onde o produto final é maior que a soma das forças individuais de suas partes. Em uma comparação rasteira, num ensaio acontece algo semelhante ao que acontece exatamente aqui nessa discussão; temos algumas entradas geniais e algumas nem tanto, porém a força dessa conversa reside em algo mais profundo que somente o talento de seus colaboradores. Essa intensidade reside na maneira como essas diferentes idéias – mais ou menos cultas, mais ou menos apropriadas – se equacionam e se potencializam. Colocações, ainda que “equivocadas” e “já vistas”, muitas vezes são geniais exatamente por servirem de caminho para que outras muito mais “inteligentes” venham à discussão.

    Não pretendo, contudo, usar-me de conceitos de ensaio, de fotografia ou mesmo de realidade – idéias absolutamente caras, quase que sagradas para mim – como réles justificativas para minhas inexperiências e imaturidades. Já tenho um boa idéia de quais são as minhas deficiências, embora ainda não tenha uma idéia muito clara de o que fazer para resolvê-las. Mas, de qualquer maneira, lembranças são sempre bem-vindas, principalmente quando vem acompanhadas de algo que vai além de puro reducionismo. Coloco com toda franqueza e despreendimento as minhas idéias para que elas sejam debatidas exclusivamente como o que simplesmente são: idéias.

  2. Desculpem-me pela ausência, mas sigamos.

    Respondendo ao Clicio. Minha colocação anterior abarca o “conjunto da obra”. Não analisei os passarinhos pontualmente. Aí entraria na edição deste ensaio, o que para mim não era o caso. Mas foi ótimo este comentário do Clicio, Creio que algumas fotografias mesmo que menos contundentes tenham seu compasso dentro da narrativa proposta.

    O já visto que permeia a criação de tantos fotógrafos não me causa reticências. Pelo contrário, me faz analisar a imagem em questão pela sugestão retrabalhada. Nesse caso, os reflexos deste ensaio do Anderson são extremamente fronteiriços, limítrofes… Traz o reflexo – algo recorrente na fotografia – pelo viés da dualidade, do onírico. Aqui, retomo Pio, sim é extremamente surreal.

    Da mesma forma que Eugen Bavcar ao registrar uma menina correndo por um campo. Este, cego, segundo ele prórprio fotografou o som do sino que a menina levava para guiá-lo. Essas fotos são extraordinárias. Nos coloca a questão, novamente, da imaginação, do olho da mente. É, de certo, surreal, deslocado para alguns, mas é possível. O surrealismo na fotografia nos revelou algo tão inovador, de rompimento com determinados cânones que até hoje são fundamentais para entendermos o que pode-se fazer através do índice fotográfico e, mesmo com toda sua força indicial, subvertê-lo. A fotografia surrealista foi um divisor de águas sem dúvida para a nossa percepção.

    Deixo a dica: “Os Sonhos de Grete Stern”. Grande fotógrafa alemã que fez o que parecia impossível. Suas fotomontagens são pura criação, mas vejam não de sua total concepção/conceito. As imagens (atualmente em exposição no Museu Lasar Segall – SP) são interpretações de cartas de leitoras para uma seção de psicanálise de uma revista argentina (de 1948 a 1951). Puro exercício alegórico de alteridade. Simulacro e realidade amalgamados.

    Pio, seriamente, o blog de Alexandre não tem metade das ideias que ele vislumbra. Imagine full time.

    Abraços a todos.

  3. Tudo o que estão dizendo aqui é fantástico!

    Muito legal mesmo a entrevista do Alexandre com o Anderson ter gerado essa discussão. Esse conteúdo é muito educativo para um fotógrafo imaturo como eu, que muitas vezes se preocupa mais com a técnica do que com a idéia, o conceito.

    Valeu pessoal! continuem postando.

    abraço

  4. Puxa, que discussão lega! Na internet já é bom, imaginem todos discutindo uns com os outros ao vivo?

    To chegando atrasado à discussão, ontem tentei postar alguma coisa mas a rede me jogou fora! Como se diz em meu Ceará distante e querido: me rebolou no mato!

    Eu queria retomar um pouco aos primeiros posts, nos comentários sobre manipulações, realidade etc.

    As tecnologias criaram um ponto de convergência para todas as linguagens, todas se encontram e conversam sobre suas fronteiras e novos limites.

    Um dos limites é o ético. Estamos redimensionando o que se admite e o que não se adimite em uma fotografia. Isto está implicitamente ligado a sua função social.

    Mas o que mais me enquieta atualmente é uma certa intolerância com os fotógrafos que trabalham diferente de nós.

    Alterar e manipular não é pecado, nem crime, mas transitar com a imagem em territórios que não se admite esta conduta, este sim talvez seja um errro, e ainda vai render muita discussão.

    Há trabalhos belíssimos construidos via phtoshop, retomando a paciência dos pintores, como se comentou em um post da CIA da FOTO, e não são menores por isso. A criação neste caso segue outro caminho e o autor continua, assim como no fotojornalismo ou documental, agente criador de sua obra.

    A pintura deixa de ser pintura porque tem um jornal colado na tela?

    As fotos do Anderson, retomando a origem de tudo, trazem uma dramaticidade introspecta, nos obrigam a parar diante delas. A fulgacidade das imagens contemporâneas fica relativizada.

    Fico pensando que ainda há salvação!

  5. Alexandre, nem estou conseguindo acompanhar, porque não li nada no final de semana, e quando vi tinha esse montão de comentários! Quem mandou provocar, rssss… Agora virou material de estudo…

  6. Muito bem colocado Leo. Por isso é difícil construir um ensaio denso, onde as imagens estejam dialogando entre si. As pessoas tendem a pensar nas narrativas como um texto, sempre perguntam por legendas e querem a história mastigada. A história está nas imagens, em cada pedacinho, tem que olhar, ver…. (Olha o blog ai!) E o discurso, a maneira como será abordado, além de todos os elementos que compõem a linguagem fotográfica, vários na citaçao do Arlindo Machado no post da Cia, vem de tudo isso, a técnica utilizada para captar as imagens, a ediçao, a pos produçao…
    As vezes penso que as pessoas adoram ver imagens, mas têm preguiça de ler as mesmas. As pessoas gostam de dizer bonito ou feito. Já vi ou não vi. Mas poucas vezes pensam em qual o discurso, qual a proposta, qual a narrativa. Aí entra uma pergunta: Você mataria uma baita fotos pela seu discurso, proposta? E o que você faz com suas fotos “soltas” boas fotos que sobraram de ensaios?

  7. Só uma nota rápida sobre a tecnologia: escrevi, escrevi, cliquei no submit e nõa entrou. Vamos de novo!

    Peter Greenway, embora seja radical em muitos pontos, faz uma colocação interessante sobre uma afirmação do Godard sobre o cinema se contentar em ser “a verdade” em 24 quadros por segundo. Para Greenway o cinema está contaminado pelo texto. É como se toda produção cinematográfica fosse uma interpretação visual de algo que já foi texto, assim perdendo a possibilidade de ser imagem.
    Por um caminho quase virtualmente oposto ao nosso, Peter Greenway conduz o pensamento para um ponto bastante em comum.

    A textualidade que buscamos para que uma imagem deixe de ser adorno, é o analfabetismo que a mesma necessita para se desprender do que antes dela é escrita.

    Temos uma ligação muito forte do texto, especialmente o jornalístico, como a verdade, o real, o imparcial – e talvez dessa junção nasça o conceito da real imagem e não seu universo de pseudos.

    Gostei muito do exemplo da conversa de pescador, ilustra muito o papel do jornalista como repercussor de algo, da realidade montada.

    Nos primeiros 3 min dessa entrevista Greenway fala sobre essa questão do cinema.

  8. Incrível, na última vez que entrei aqui, li apenas a entrevista e os grilinhos da Usha. Muito interessante os desdobramentos, posso dizer que estou um pouco confuso agora e pensando no monte de coisas que li (tudo de uma só vez).
    Somente como uma primeira interferência e para contrapor a questão do Anderson vou relacionar uma outra citação que considero pertinente.

    “O inimigo da fotografia é a convenção. A sua salvação vem do experimentador que se atreve a chamar “fotografia” qualquer resultado com meios fotográficos, com uma câmara ou sem ela.”
    László Moholy-Nagy, 1947

    Muito difícil delimitar as formas de expressão. acho que tudo é válido desde que haja conteúdo e que através dele modifiquemos as coisas e as pessoas, como o próprio trabalho do Anderson faz.

  9. Caros amigos, conhecidos e desconhecidos,

    Fiquei completamente atordoado com a quantidade e a densidade dos desdobramentos de uma proposta inicial que nem de longe foi preparada para ter a autonomia que parece que tem. Retiro prontamente a afirmação de que ninguém lê, escreve ou se importa. Se bem que não retiro coisa nenhuma, alguns comentários devem ter vindo exatamente dessa provocação. Que continuem vindo então.

    Quanto à foto da poça d’água, Pio, devo concordar com o Ayrton também. A foto não vale o espaço que ocupa. De qualquer maneira, acho um pouco inapropriado contar formigas quando em meio a elefantes; voltemos à discussão inicial então.

    Agradeço por cada uma das idéias aqui deixadas e, sinceramente, espero que que essa discussão faça por cada um envolvido nela o mesmo que está fazendo por mim, que é me fazer entender um pouco melhor uma coisa que é seguramente maior do que a minha capacidade de entendimento.

  10. Oi Clício,

    fantástico o que vc colocou. Mas fico no que vc se refere a avaliação do trabalho pelo todo, pela plote, pelo que ele se propõe. No caso um ensaio.

    Concordo com a colocação do Airton e o sentimento dessa foto, especificamente, ser meio mandrake, trucagem, carta na manga, etc. Mas reintero a preocupaçõa com a narrativa.

    No limite, todas as fotos do mundo são dejà-vu.

    A colocaçõa de Dulce a respeito da Sight Unseen é uma ilustração para toda conversa e por demais pertinente.
    Aqui na Cia, um trabalho cativo é o do Eslovênio Evgen Bavcar. Somos muito fans dele.
    Há um bom tempo atrás, comentei com um amigo fotojornalista sobre o trabalho de Bavcar.
    E esse amigo reposndeu, impossível! Não existe fotógrafo sem visão..

    A gente sabe que um cego não ver, mas imagina.
    E isso abre mais um mar de questões, entre elas, o lapso colocado por Leo.
    Será que a nossa percepção se faz no que vemos ou em nossa imaginação?

    Talvez as únicas fotos que não sejam dejà-vu, sejam fotos feitas por cegos.

  11. Quando Georgia diz sobre o trabalho de Anderson:
    “É conciso, contundente e enxuto”,
    tenho que concordar com o Ayrton (e discordar do Pio); a foto dos passarinhos não se sustenta por si própria. Inserida no ensaio, fazendo parte de um todo, tem a sua poética que serve de contraponto a todas as outras imagens mostradas, povoadas por gente solitária; mas como imagem única, me traz a impressão de dejà-vu. Não é contundente o suficiente.

  12. Recentemente, foi inaugurada no Museu da Fotografia da California a exposição “Sight Unseen”, mostrando o trabalho de doze fotógrafos cegos de diferentes países.

    As imagens são de uma beleza perturbadora, difícil entender como pessoas que não enxergam são capazes de compor imagens de maneira tão competente. O curador da exposição, Douglas McCulloh, explica dizendo que a fotografia nasce antes do clique, antes do piscar, que o fotografo fotografa com a mente e não com os olhos.

    Assim, o movimento do dedo apertando o botão da máquina concretiza a imagem já criada, visualizada, na mente do fotografo. O que o público vê é uma reprodução – o original continua na cabeça de seu criador.

    Para mim, o interessante do trabalho desses fotografos e sua ‘visão’ do mundo é que eles mostram que a fotografia não é apenas a representação da realidade que nos cerca mas principalmente da complexidade e diversidade da natureza humana.

  13. Oi Georgia,

    que bom saber que vc acompanhou a discussão!

    É conciso, contundente e enxuto. E me permita avançar um pouquinho, surreal:

    “Acontece que o tempo passou e a cidade continua aí, ou melhor dizendo, aqui”

    Olha que frase linda no meio dessas fotos.

    “… e da utopia modernista da época de sua concepção” Isso! A cidade continua e o Modernismo, falhou?

    “Sempre tive a vontade de fazer um retrato da cidade real e contrapô-lo à idéia de cidade inventada”
    Esse exemplo é por demais rico, pois aqui, quem foi inventada é a cidade, e as fotos são retratos dessa invensão.
    Vixe, que tesouro…

    Uma vez estava fazendo uma reportagem no JC com um pescador e Robertinha(amiga repórter desse jornal) brincou com ele sobre “conversa de pescador”: – Ah! Mas pescador é cheio de histórias, né?(história aqui como fantasias), e o pescador respondeu: “ E jornalista não!?”
    Daí Roberta retrucou: – a gente escreve o que senhor conta. E ele disse: – “Pois é…”

    E por aí seguimos no trabalho de Anderson:

    “uma jovem cidade que não é mais o que fora desenhada para ser”
    “ não na Brasília sonhada, mas na Brasília insone”
    “da imperfeita perfeição de uma cidade”

    E vem uma fotos cheias de reflexos, vidros, bocarras abertas, mais preto que luz..

    O valor desse trabalho é o tanto que ele é surrealista. É como Brasília sai daqui.

    Mas Georgia, uma pergunta bem séria: Como a gente faz para que Belém viva somente de fazer esse Blog? Como torná-lo não amador, mas full time na feitura dele?

    Daqui eu lembro que as bolsas e incentivos para fotografia aqui no BR, não contemplam esse tipo de trabalho.
    E já que só contemplam um modelo convencional de produção fotográfica, aproveitemos esse espaço para destroçar e compartilhar os pedaços dos premiados(!)

    E mais um presente do surreal Anderson: “Com a câmera que tiver, com a luz que encontrar e com todos os detalhes que conseguir tirar de meu quadro. Detalhes complicam tudo…”

    Bj Grande!

  14. Quantas considerações interessantes a partir do “processo de criação” do Anderson Schneider.

    Acredito que Anderson transita sim ante a realidade deixando-nos advir uma atmosfera noir. A postura dele é irrefutavelmente condizente com o que nos permite olhar. A fotografia enquanto forma alicerça os sentidos. E assim, ponderado, consciente e pragmático, o trabalho de Anderson não recorre a subterfúgios.

    É conciso, contundente e enxuto.

    Tinha uma professora polonesa de artes que recorrentemente soltava: “Isso não funciona”, diante de qual fosse o suporte, a técnica, o tema, o artista… A imagem que percebíamos tinha sua força pela gramática sugerida, pelo teor do imaginário que nos guiava para a compreensão ou, simplesmente, a apreensão do que era visível. Entendo quando Anderson desmistifica a conceituação das coisas sensíveis. E isso é inexoravelmente próprio da natureza do fazer fotográfico: o ofício.

    Nesse sentido, me parece que sua criação é sintomática do que a realidade lhe dispõe e do que pode a partir dela interpretar – simples assim.

    Dentre os filósofos, recorro a Jean-Paul Sartre que no início de sua carreira acadêmica discorreu como poucos sobre a imaginação: (…) entre imagem e ideia há uma diferença que se reduz quase a uma matemática: a imagem tem a opacidade do infinito; a ideia, a clareza da quantidade finita e analisável. Ambas são expressivas”. Ponderemos que, atualmente, vemos muita fotografia inexpressiva por pura inércia em dispensar ao ofício da fotografia a seriedade que ela deva possuir.

    Talvez por isso o trabalho de Anderson Schneider seja tão significativo. E sendo assim, suas palavras nos indique que a maneira de pensar também é a maneira de ver.

  15. Salve seu Henrique!…

    Uma vez a gente estava fazendo um trabalho no sertão de PE, em companhia de um amigo comum, Luiz Herrisson e perguntamos a um senhor, benficiado por um projeto de irrigação, sobre o solo sertanejo:

    – E esse chão, presta?

    E o senhor olhou para gente com um certo espanto e disse:

    – Oxente, homem, o que não presta é o céu que não manda água para cá.

    Essa imagem, que esse senhor criou, desse céu peverso, me ensinou muito sobre o semiárido!

  16. Oi Queiroga,

    que massa a ilustração de seu devaneio e “torcida” pelo esgotamento das composições.
    Muito bom!
    O mundo é isso, poucas notas e muita música, poucas idéias e um mar de leituras e expressões delas.

    Leo falou do lapso e essa talvez seja a grande questão: Se escolhe no pisco o registro ou a lapso dele?

    E essa questão começa de longe, talvez em 1839.

    Opa, não me refiro a fraude de que a fotografia teria sido inventada em agosto deste ano.
    Pelo amor de deus!
    Mas ao texto de Edgar Alan Poe, A Filosofia da Composição.
    Ou depois disso, quando um menino de Recife, João Cabral, em a Psicologia da composição, reverbera essa questão.
    Isso foi em 1947, uns dez anos depois do MoMA ter criado um departamento de fotografia.
    Mais ou menos uma década depois do MoMA pautar para gente o que é o nosso principal entendimento da história da fotografia.

    Esse lapso, o entendimento dele, é o que pode levar a gente a um certo antídoto às versões dessa tal “história oficial da fotografia”.

    Confesso que até hoje não sei o que é Fotografia.
    Adoramos Luiz Braga, Breno Rotatori, pautamos nossas vidas por fotografar e ainda assim, temos uma baita dificuldade de entender o que de fato é, ou ainda para que serve…
    Mas qualquer versão fácil, qualquer dito formatado, eleito como historicamente aceito, tem que ser questionado. A história da fotografia é mentirosa.

    Esse lapso, que bem disse Leo, em Barthes e vinte anos depois de João Cabral(1967), antes por tanto da fotografia de Anderson existir, é dito assim: “… pela boa razão de que a escrita é destruição de toda a voz, de toda a origem. A escrita é esse neutro, esse compósito, esse obliquo para onde foge o nosso sujeito, o preto-e-branco aonde vem perder-se toda a identidade, a começar precisamente pela do corpo que escreve”.

    O nosso momento na história autoral vem sendo ilustrado como a cultura do remix. E é nessa junção, nesse caos de apropriação e referências que consiste o nosso papel. Não em tentar ser autor.
    O bacana é viver na eterna dimensão desse lapso,e mais se divertir nele.

    Qualquer foto desse trabalho aqui é, sobretudo um palimpsesto.
    Gostamos desse trabalho por que ele fala da capital de nosso país de uma forma bacana e original.
    E entendamos origininalidade como algo que é sempre sencundária.
    Algo é original em sua aplicação, mas esse algo já existe antes de ser aplicado.
    O trabalho de Anderson é um remix e aqui vale sim as poças de água, o preto e branco, por que ele nunca vai iventar nada.

  17. Meu caro Queiroga,
    Não sabia de Strand. Legal.
    Tem Walker Evans que escondia no casaco para fotografar no metrô, lembra?
    Fiquei confuso. O último parágrafo, de Strand, explica o resto? Vou ler novamente. Você está muito UFPEano…
    Engraçado isso, pessoalmente você não fala tanto né?
    Obrigado pela contribuição ao blog.

  18. Gosto da complexidade das coisas. Inclusive as complexidades das coisas simples. As várias possibilidades de caminhos a serem percorridos, a riqueza de significados. As construções que vão surgindo a partir das interpretações ou conquistas de cada um.

    A fotografia deveria (ou poderia) abrir mais questões do que dar respostas. Não é um reino da dúvida ou da incerteza, mas um mundo de possibilidades e boa diversão (refletir e estudar é uma boa diversão, também). A fotografia pode ser entendida como uma atualização de virtualidades (usando o Pierre Levy), quando, por uma boa definição de virtual, não devemos entendê-lo como oposto ao real, mas sim como possibilidade de vir a realizar-se (ou atualizar-se). Não se apeguem a um resumo simplificador de um pensamento com tantos desdobramentos. Não vamos discutiir isso.

    Um outro arrodeio pra tentar chegar nesse ponto (ou em algum outro, sei lá): quando eu era pequeno, bem pequeno mesmo, escolinha, tomei contato com a música, coisa das notas, cifras, partitura, bem elementar. Quando eu descobri isso, que os sons seguiam uma lógica, uma estrutura, sete notas musicais, que combinadas formavam as melodias, quando descobri isso tive a certeza que em poucos anos o homem esgotaria as possibilidades de composição de músicas. Era uma constatação matemática, análise combinatória, sei lá, não tinha aprendido essas coisas ainda. Depois eu descobri que essas combinações são quase infinitas e que dificilmente o homem (ou um supercomputador, por exemplo) seria capaz de esgotar essas possibilidades. E que o que conta mesmo, no final das contas, é um outro ingrediente emocional, poético etc e tal. Não bastaria fazer o diferente pelo diferente.

    Um arrodeio pra voltar para as virtualidades, realidades e – por que não? – programações de um dispositivo. Um dispositivo que é vendido como espelho do mundo exterior, um registrador objetivo da realidade. Um aparelho que já traz em si uma programação e depende do homem apenas para realizar (tornar real) um desses programas.

    Durante muito tempo a imagem dependia do sujeito. Ela era formada nele ou por ele. Com a câmara escura, houve uma perda da subjetividade, pois a imagem era projetada, formada, independentemente do homem. Assim como aquela minha descoberta em relação à música, pudemos perceber rapidamente que essa promessa de objetividade, de reflexo do real é apenas parte das possibilidades.

    A fotografia depende sim de um referente. Ela nunca perde sua característica indicial, de ligação direta com esse referente. Sim, precisamos de algo ou alguém para fotografar. Mas aquilo que vai ser impresso num papel ou projetado numa tela não é o referente em si, mas uma representação sua. É uma imagem, em preto e branco, bidimensional, sem cheiro, retangular ou quadrada, com grãos ou pixels, entre outras características muito fotográficas e nada reais (da vida real, como se fala dos atores de novela).

    Uma invenção do homem que assustou as pessoas na época por conta do extremo realismo: o cinema. Uma projeção com todas as características citadas acima, que se valia de um “defeito” humano: a persistência retiniana, onde duas imagens estáticas se confundem através da justaposição, dando uma sensação de movimento. Todos nós sabemos que o cinema é uma sequência de imagens paradas, mas nós o chamamos de “imagem em movimento”. Ou então a fotografia estereoscópica, onde duas fotos, vistas lado a lado, nos “devolvem” um efeito de tridimensionalidade.

    A gente engana nosso corpo para tornar a imagem mais real.

    Já falei demais…. mas acho que foi Paul Strand que colou uma lente falsa na lateral de sua câmera para poder fotografar as pessoas sem que elas percebessem.

  19. Fotografia é construção que começa nos alicerce que sustenta a ideia, pode seguir livre se desenvolvendo, mas pode se encaixotar por conceitos técnicos rígidos. Está sempre em evolução quando pensamos e procuramos respostas imagéticas. Se torna provocativa quando a mostramos gerando pesquisa que move a evolução. A estética pode ter base no passado, mas encontra caminho na evolução constante da tecnologia que permite que a criatividade floresça ao oferecer novas técnicas de captação. Não pensem só em digital e sim em todo o suporte que evolui permitindo novos ângulos, novas formas de iluminar, explorar os movimentos, etc. Para quem pensa há evolução sempre, sem o com manipulação há resultados que surpreendem e criam evolução buscando a superação. Esse é o caminho dos que pensam e seguem evoluindo dentro de suas próprias verdades.

    Obs.: A web gera cultura, mesmo que silenciosa há os que lêem e refletem.

  20. Seguindo o mesmo racioncínio acima, o julgamnto de uma manipulação, as vezes necessárias, outras vezes não, como sendo “cafona” já é por si só uma detonação do conceito da fotografia, pois o que pode ser cafona para ele, o Anderson Schneider, já com certeza não o é para milhões de outras pessoas.
    Eu por exemplo, me desculpe, mas posso achar extremamente, “BORING”, ou “cafona” (com o perdão do uso desta palavra que acho péssima) em ver MAIS UMA fotinha de reflexo de água suja no chão de uma rua com passarinhos dependurados num fio, exatamente como eu fazia nos anos 70 quando era um adolescente deslumbrado com uma camera Pentax Spotmatic 500 nas mãos, e um rolo de tri-x pan que iria revelar no banheiro da casa dos meus pais.
    Ou seja, a subjetividade é algo que faz parte do dia-a-dia da fotografia para todos nós. Então definir que uma foto só é uma foto se ela apenas for construída como realidade, se afoga num mar de questionamentos sobre a estética das mesmas.
    E Afastar-se do real é também aproximar-se do fantástico, do subjetivo, do imaginário, do sonho, da fantasia e assim poder comunicar coma fotografia todos os anseios e emoções que leam um artista, a se expressar através da fotografia.
    E nem por isso ela deixará de ser FOTOGRAFIA !!!
    Afinal, o que é a Realidade ??? A Verdade é a de cada um de nós.
    A minha por exemplo pode ser essa daqui, que as pessoas utilizem ASSIM : será que ela não é uma realidade, ou não é uma fotografia, o ainda será que é “cafona” ???
    abçs mil
    Ayrton

  21. Anderson diz:
    “…a maior, e talvez a única, virtude de nosso ofício: o que está impresso no papel realmente aconteceu. Mesmo quando a cena é encenada, foi encenada de verdade. Aquelas pessoas são reais, o chão é real, o céu e a gravidade, igualmente reais. Negar a realidade é negar a própria fotografia. Daí a minha opinião de que só a interferência do real é capaz de transformar uma imagem em fotografia.”
    O que é exatamente o que sempre acreditei, apesar de nunca ter tido o talento de colocar em palavras tão precisas.
    Anderson (apoiado pelo Versiani) também diz:
    “…Até porque muito pouca gente lê, ou escreve ou se importa mesmo…”
    O que me leva a pensar; sem a Internet, sem esta ferramenta em que se desvanecem as idéias em dias (por vezes verborrágica, mas sempre efêmera por definição), não veríamos tantas discussões fundamentais, que logo se multiplicam, se espalham e ganham vida própria, incontroláveis, avassaladoras em sua difusão.
    Como ninguém lê? Nunca se leu tanto, e se escreveu tanto, como agora!
    Defendo porém a fotografia em evolução, a pesquisa, as tentativas, as técnicas, quaisquer que se mostrem adequadas aos fins, e não a defesa de uma fotografia estanque, dogmática em seus princípios; e acrescento que a frase (citando o Anderson) “…uma manipulação muito da cafona de algumas imagens..” não configura nada mais que uma opinião pessoal, já que ser “cafona” ou não é uma questão de gosto, ou de ponto de vista.
    Ou a estética é uma só?

    Clic!o
    PS- Estou adorando isso aqui!

  22. Anderson: Não sei jorgar truco. Mas, agora que tem mais gente, podemos “jogar” conversa na mesa. Prepara um backup do Hd…

    Leo: o melhor dos blogs são os posts ou os comentários? Parece que os blogs estão quebrando uns sites por aí, não é? Comentários e debates comos estes vão quebrar cursos universitários de Filosofia. 🙂

  23. Coisa linda ler Emília depois de tanto tempo.
    Tu vê, o que é piscar senão escolher um fragmento. Onde, quando e por que se piscar?
    Se escolhe no pisco o registro ou a lapso dele?
    E isso sem nem querer discutir os entusiastas das rangefinder que veriam no pisco a ausência da foto, o clac do espelho.
    E espelho é um aparato tão bonito pra falar sobre tudo isso, não?

    Da visão de si próprio, que é mentira, até o falar, escrever e, porque não, compor sobre si mesmo. São tão lindas as mentiras que contam um monte sobre verdades.

    E daí a gente acha o ponto de encontro (e não de equilíbrio) sobre Anderson, Cia, Usha. Falamos sobre mentir e dizer verdades, realidade e ilusão… fotografia é coisa séria, se não fosse, talvez eu ainda preferisse ser músico.
    Quando citei o o Jumento ele fala da arte ligada a música e, em especial, ao canto. Canto esse que na tradição da cantiga é contra história. Histórias que contamos em ensaios, fotos, publicações.

    São elas nossas histórias, não são? Tanto no aspecto de escolha de tema, interação, ponto de vista – quanto no que espelhamos de nós mesmos no que registramos. Do espelho ao pisco, a seriedade de se assumir como algo além de fotosensível. Falamos sobre isso outro dia, sobre como a fotosensibilidade, usada para definr a fotografia (e sua própria etmologia) é dizer que fotografia é planta, braço, plástico inanimado de caneta que derrete se deixado ao sol.

    Somos mais do que sensíveis a luz, assim como a fotografia. O aparelho, ferramenta, não se reduz em sua tradução de 4 palavras, mas busca nelas a sua desconstrução, questionamento e, por isso, fotografamos – mesmo que exista no mundo espaço para levantar a câmera, fotografar e ponto. O debate não está na pessoa, no discurso, está no texto que se chama imagem e dela cada um lê o que o próprio espelho já dizia.

    Valeu Belém por esse espaço, Pio por me chamar a atenção para este post, Usha pelo questionamento e Anderson pela extrema sinceridade e retidão com que se diz.

  24. Oi Leo (em versão sem acento),

    Uma citação do universo de literatura infantil masi próxima de Benjamim, é a de Emília, que é uma boneca pentelhinha, que pede ao Visconde de Sabugosa para que escreva suas memórias.
    Ela quer contar, quer dizer, mentir as suas memórias. Segunda a boneca quem escreve sobre si próprio, mente.

    “ A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais.[…] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.- E depois que morre? – perguntou o Visconde.- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”

    É ou não é?

    E a fotografia, inclusive a de Anderson, da qual somos fans e acompanhamos a longa data, trata disso.
    Desse piscar.
    Trata de um espaço congelado, de um conhecimento pela imaginação. E sobretudo de uma existência que se dá por movimento.

    O assunto Fotografia é muito sério. Tão sério quanto os pensamentos de Emília.

  25. Pio já sabe que “criamos” o verbo piar, justamente para poder ouvir o comentário acima desprovido de sílabas tônicas, mas todo em sotaque agudo.

    Não sou bom em citações, mas me veio uma agora que deve ter o peso de Benjamin.
    “Pois é, onde é que eu estava mesmo? Ah! Eu estava indo pra cidade… e fazer o quê na cidade? Bem, eu pensava, quando alguém não sabe fazer mais nada, mais nada mesmo, hoje em dia pode virar artista”. ( Jumento em “um dia de cão”, saltimbancos, 1979).
    Como todos já sabem o Jumento não é o novo malandro da praça, mas seu comentário carrega um profundo questionamento, embora eu pense que o tenha assimilidado melhor ainda na infência.

    A arte, como vista por Anderson, é muitas vezes referenciada no “tudo vale” e, em um sistema não totalitário, tudo vale mesmo, até defender a fotografia como o climax da realidade. Com certeza existe um grupo e, não diminuto, que estabelece vínculos fortíssimos com essa afirmação. O estabelecimento de vínculos, força principal da formação de grupos, é o elemento que – muitas vezes – valida algo justamente por sua representatividade. E não discute-se aqui o caráter político de sistema, seja ele democrata ou não, mas sim o alicerce de sociedade, alienadora de individualidades, como discorrido por Rousseau em seu contrato social.

    Temos então, em uma cascata de comentários (prova viva de que a capacidade da internet é muito maior do que gerar posts e sim de incluir subtópicos em sua continuidade) a justaposição de pensamentos contrários.

    Anderson acredita que a fotografia é algo estanque, bem definida e calcada no conceito, ainda que subjetivo, de realidade. Usha questiona, Pio discorda. Eu, Leo, muito mais do que discordar sobre algo que não me trouxe a fotografia, essa tal realidade, deixo a minha discordância para um ponto inicial do debate, quando Anderson diz: “Até porque muito pouca gente lê, ou escreve ou se importa mesmo…” Mais do que quantidade, falamos aqui, nesses comentários, em qualidade. Seja essa de resposta, questionamento, debate, complementação ou discurso. Caso contrário não existiria motivo para termos comentários em um post.
    Se eles fossem apenas: “que bom”, “ótimo”, “me agrada”, “sou fã” – melhor não te-los. Mas dai chega-se ao ponto atual onde temos várias pessoas lendo, escrevendo e se importando. Dessa maneira estamos dando uso a uma ferramenta, compreendendo-a e discorrendo sobre uma plataforma e não apenas sobre seu conteúdo. Isso me parece muito maior do que o exercício de ego em procurar responder posts no qual se é citado, mas sim a concepção de uma nova forma de comunicação.

    Tendo isso claro, volto ao Jumento. Com ele por perto compreendo muito do que o Anderson coloca sobre arte e que, dentro daquele universo de representatividade, dialogo muito com algumas opiniões minhas. Sim, existe muita coisa ruim sendo produzida e veiculada simplesmente com o rótulo de arte. Mas também existe muita coisa péssima sendo disseminada como fotografia, da mais “clássica”, essa de instante decisivo, de concepção de realidade. No fim é absolutamente normal que se produza coisa ruim, inclusive quando a produção é própria, uma vez que – tão subjetivo quanto a realidade é o conceito de algo ser bom.

  26. Sobre a “profecia”: que coisa fantástica! Acho que pega as duas pontas da nossa discussão sobre realidade e dá um nó, ou melhor, pega as várias pontas desse assunto e faz uma trança…

    Também serve para outra coisa: vou imprimir, dobrar e guardar na carteira; quando alguém ameaçar discutir se fotografia é arte ou não (ainda tem gente que faz isso, juro; ai que saco, que falta de paciência), eu só entrego o papel. Cada um é que sabe se (e quando, e como) vai ser pedreiro ou arquiteto.

    Mas que o “gênio da arte” pegou o Anderson pelo colarinho, isso pegou… Ou talvez já tivesse pegado pelas fraldas mesmo. Não adianta negar, menino, rsssss…

    Sobre o Arlindo Machado: Arrá!!! Eu não tinha pensado nesse argumento, tão simples e tão literalmente na nossa cara. Nossa, muitos panos pra manga, muitos. Obrigada, Cia da Foto, sou fã de vocês, gostaria de saber onde faz a carteirinha.

    Beijos em todos também.

  27. Que bom isso!

    Uma bolsa de fomento para um trabalho de fotografia é para gerar isso, discussões. Que legal que o Olha, vê o está fazendo.

    Para dá cabo a conversa, uma passagem de Benjamim, citando um artigo de Wiertz:
    ….
    Uma profecia de 1855: “Nasceu para nós, há poucos anos, uma máquina, orgulhosa de nossa época, que a cada dia pasma nosso pensamento e espanta nossos olhos. / Essa máquina, em menos de um século, será o pincel, a paleta, as cores, a habilidade, a prática, a paciência, o golpe de vista, o toque, a mescla, o brilho, o truque, o modelado, o acabamento, a realização. / Em menos de um século, não haverá mais pedreiros na pintura: haverá apenas arquitetos, pintores na acepção plena da palavra. / Não pensemos que o daguerreótipo mata a arte. Não; ele mata o trabalho da paciência e homenageia a obra do pensamento. / Quando o daguerreótipo, esta criança gigante, tiver atingido a idade madura; quan do estiveres devolvidos toda a sua força e todo seu poder, então o gênio da arte o agarrará pelo colarinho e exclamará: ‘Tu és meu! és meu agora! Nós vamos trabalhar juntos!.'” A.J. Wiertz, Deuvres Littéraires, Paris, 1870, p. 309. Do artigo intitulado “La photographie” , publicado pela primeira vez em junho de 1855, em La Nation , e que termina com uma referência à nova descoberta da ampliação fotográfica, que possibilita a ampliação de fotos em um tamanho natural. Os pintores-pedreiros são, para Wiertz, aqueles “que se preocupam somente com a parte material”, que a realizam bem.
    ….
    Esse parte é para ilustrar a conversa sobre essa relação com arte.

    Um outro ponto da conversa muito bacana é quando Anderson coloca: “Mesmo quando a cena é encenada, foi encenada de verdade. Aquelas pessoas são reais, o chão é real, o céu e a gravidade, igualmente reais.”

    Aqui um pensamento de Arlindo Machado:

    ” Mas uma imensa quantidade de elementos encontráveis numa fotografia não existe no mundo. Por exemplo: a mancha deixada por um corpo em deslocamento rápido; o “tremido” da câmera; a decomposição em forma de arco-íris dos raios de luz que entram na lente diretamente da fonte; o afunilamento e diminuição do tamanho dos objetos que se distanciam da câmera (efeito de perspectiva renascentista); o ponto de fuga; o desfocado; o recorte ou moldura do quadro (retangular na maioria dos casos, circular no caso das lentes “olho-de-peixe”); a exclusão do que está fora do quadro; a alteração da escala; a granulação, saturação, homogeneidade e contraste da emulsão de registro; a inversão de tons e cores produzida pelo negativo; a deformação óptica produzida por certas lentes como a grande-angular e a teleobjetiva; o preto e branco; o ponto de vista da câmera; o movimento congelado; a bidimensionalidade do suporte de registro; o sistema de zonas (Ansel Adams); a deformação lateral (nas câmeras pinhole); a anamorfose das figuras planas; a anamorfose produzida por obturadores de plano focal; a filtragem dos reflexos por polarização; o brilho ou opacidade do papel de reprodução e assim por diante, para ficar apenas nos aspectos visuais do enunciado. Todos esses elementos icônicos e simbólicos introduzidos pelo aparato técnico não são apenas acréscimos que se sobrepõem ao índice, ao traço do objeto, mas também agentes de transfiguração, deformação e mesmo de apagamento do traço. A história da fotografia está repleta de exemplos de fotos cujo referente, pelas mais variadas razões técnicas ou expressivas, não pode ser identificado, nem sequer genericamente. Neste caso, perdeu-se o traço, embora tenha permanecido a fotografia com toda sua eloqüência icônica e simbólica.”

    Belém, o que você faz com essa coluna “Processo de Criação”, é tão importante quanto o trabalho que Anderson vem desenvolvendo e mais nobre que a bolsa da Funarte, pois faz com que todos participem e ajudem na construção de idéias, no fomento da fotografia. Ainda mais, nos fez conhecer o Blog de Usha!

    bjs em todos,

    Cia.

  28. lindo! passei meus últimos minutos lendo, pensando e pirando nesse papo!
    Anderson, além do excesso de noção, a franqueza em falar sobre seu trabalho ser referenciado em outros trabalhos é de uma humildade que faz falta entre os fotógrafos, principalmente os que nao se propoe ao minimo de reflexao. Parabens!

  29. Eu sou suspeito pra escrever qquer coisa, mas não poderia deixar de palpitar por aqui.
    Não vou entrar na conversa de vcs. Só quero deixar registrado que muito me alegra ver dois fotógrafos ( Usha, o mundo é machista) mostrando que “pensam”, qualidade cada dia mais rara, assim parece. A digital é um gde avanço na fotografia, mas tem muto joio no meio desse trigo atual. Fotografia é um ato intelectual por natureza. A tecnologia digital proporcionou o instrumento para muita gente sem cachola sair fotografando por aí e se achar fotógrafo.
    Acho q vcs são dois fotógrafos opostos que se atraem. Anderson transforma a dura realidade em uma realidade mais dura ainda que atravessa a retina do observador. Usha fotografava com uma delicadeza e uma simplicidade invejável, como se fosse a coisa mais simples do mundo. O resultado é igulamente arrebatador.
    Vcs dois fotografam de dentro para fora e isso é muito bacana.
    Já escrevi demais. Chega.
    Alexandre, parabéns pelo conjunto da obra.
    Bjo para a menina e abs para os marmanjos.

  30. Eu quis mandar somente um 🙂 , mas parece que o computador não me deixa fazer isso.

    Será que se eu tivesse feito esse 🙂 em RAW, aberto no Lightroom e depois exportado para o CS4 ele deixaria?

  31. Pois é, Alexandre, debate é uma coisa difícil. Ainda mais por escrito, e ainda mais na internet, onde a tendência das coisas é ficar no rasinho e no rapidinho. O Versiani que o diga (“ninguém responde mesmo!”). Gente, debate é essencial. Temos que exercitar os neurônios, senão…

    Um dos maiores objetivos, aliás o maior objetivo, do movimento que começamos em Brasília ano passado com o Por Que Eu Fotografo? (e com a posterior formação do grupo virtual Projeta Brasília e da entidade “real” e “concreta” AFOTO) é justamente promover debates. Fizemos dois até agora, dentro do PQEF, um em BsB e outro em Pirinópolis, este último com 75 participantes e discussões muito legais.

    Espero que em breve a AFOTO consiga se livrar das pendengas burocráticas (criação da entidade) e dedicar toda energia à criação de um evento fotográfico forte em Brasília, com um bom foco nos debates. E espero ver o Anderson como um dos primeiros convidados, acho que será extremamente proveitoso.

  32. Anderson,

    Concordo com Usha, você sofre de excesso de noção. Suas opiniões são importantes e a sua noção das coisas são bem “concretas” e “reais”. Por que não?

    Comentei com várias pessoas sobre o fato de posts maravilhosos não desenvolverem um debate mais rico, como este entre vocês dois, enquanto outras coisas, atrai um montão de gente. Tem tanta coisa bonita para se debater e falar sobre, não é?

    Abraços.

  33. Nossa, não acho que suas opiniões sejam petulantes, parciais e arbitrárias… Parece que você é muito crítico, isso sim, inclusive consigo mesmo! Você é o contrário de um sem-noção, você sofre de excesso de noção, rssssss…

    Porém, são opiniões radicais, isso são. E cada uma dela é tema pra um extenso debate. Seria interessante debater essas questões diante de exemplos, tipo projetando fotos. Por escrito fica abstrato e periga a gente se desentender.

    A fotografia é um derivativo da realidade. Concordo. Mas a frase seguinte, sobre afastar-se do real… Hum, já começo a achar questionável. “Real”, “verdade”, são conceitos que podem ser tão apelativos numa discussão quanto “autoral” ou “pessoal”.

    Agora, falar de “expressão pessoal” no caso da foto do furacão, se é essa que está postada aqui no Olha, Vê, é o cúmulo da apelação! Mas essa já é uma outra discussão.

  34. Imagine, não foi provocação alguma. Fiquei até chateado por ter dado a impressão de que, deliberadamente, ignorei a sua resposta.

    Bem, essa conversa dá – e se dá – muito pano para manga. Gostaria só de esclarecer algumas coisinhas então:

    1. O universo da arte é amplo demais e, sim, dificulta a fixação de parâmetros. Repare que em momento algum eu me referi à arte, mas sim a fotografia. E mesmo assim, operando apenas dentro de um limitado mundo dentro desse vasto universo, tenho plena consciência de que minhas opiniões são petulantes, parciais e arbitrárias. É a fotografia como a vejo e não necessariamente como ela é.

    2. Sim, eu realmente acho que a fotografia é um derivativo da realidade. Afastar-se do real é afastar-se também da única coisa que faz da fotografia, fotografia.

    3. Quanto ao termo “autoral”, bem, preciso confessar que abomino, em fotografia, os termos “autoral”, “arte” e “projeto pessoal”. E não o faço por não acreditar nesses valores, mas simplesmente por estar cansado de vê-los invariavelmente utilizados em situações e contextos errados, o que só faz depreciar a pureza dos mesmos. É muito chato, para não dizer enfurecedor, ver em um post com 70 entradas a grande maioria das pessoas levantando argumentos calcados em “expressão pessoal”, “valor artístico da fotografia” e “interpretação autoral” para validar uma manipulação muito da cafona de algumas imagens que deveriam falar da temporada de furacões no Haiti. Dezenas de “autores” se levantaram para defender um cara que exagerava alucinadamente nuvens de fumaça numa foto aérea só para realçar a intensidade da devastação. Devastação essa que de fato aconteceu, mas que o sujeito, por medo ou inexperiência, não fora capaz de encontrar. Quando vejo mentiras, manipulações e falcatruas, fotográficas ou não, feitas em nome da arte e da autoralidade, não me resta outra opção senão pular fora desse barco.

    4. Ainda que entendendo o seu conceito de postura autoral, honestamente, não me vejo enquadrado nele. Meu trabalho ainda é demasiadamente imaturo e referenciado em outros trabalhos para ser chamado de autoral. Claro que, assim como em tudo na vida, existe um caminho fácil, mas esse não é, definitivamente, o meu jeito de fazer as coisas.

  35. Anderson, obrigada pela sua resposta. Desculpe a provocação, mas não resisti, porque realmente estava afim da resposta e imaginava que ela seria densa, como realmente foi. As boas cabeças pensantes não estão dando mole por aí, infelizmente, e as cabeças pensantes que têm paciência pra escrever (escrever bem) são ainda mais raras.
    Muito interessante essa sua visão do uso oportunista da fotografia como técnica “fácil” para pretensos “artistas contemporâneos”, tudo entre muitas aspas. Essa discussão dá panos pra manga… Concordo com suas críticas a princípio, embora esse universo da arte seja amplo demais e dificulte fixar parâmetros.
    Mas também achei curioso o fato de você criticar o termo “autoral”, ou uma certa postura autoral, ao mesmo tempo em que faz uma fotografia extremamente autoral. Porque o seu trabalho é diferente, é original, tem a sua marca, o seu olhar não tem nada de lugar comum, e, se isso não é autoral, o que mais seria?
    Não é uma crítica. É só, literalmente, uma observação.

  36. Oi Usha,

    Milhões de desculpas por não responder antes à sua vontade de ver aquela frase desenvolvida. Não faz muito parte da minha rotina ficar checando posts onde eu apareço dando os meus pitacos. Até porque muito pouca gente lê, ou escreve ou se importa mesmo… Descobri as suas duas entradas agora, e ao mesmo tempo, enquanto procurava pelo link para enviar a um colega.

    Pois é, apesar de as vezes não parecer, não é a minha idéia ficar sentado dizendo como as coisas devem ou não ser feitas. Isso não cabe nem a mim nem a ninguém. Desnecessário até dizer, mas tudo aqui é apenas a minha opinião.

    Acredito que a essência da fotografia é, necessariamente, o fruto de uma relação entre fotógrafo e realidade fotografada. Acredito que para que a fotografia realmente aconteça tanto a interpretação humana quanto o fato (ou objeto ou emoção) real tem de ter lugar nessa equação. Quanto à face interpretativa da fotografia, bem, não pretendo me alongar visto que a fotografia de “expressão pessoal” está em alta nesses dias. Deus do céu, como tem autor nesse mundo…

    Contudo, dentro do meu limitado conhecimento de fotografia contemporânea, o que percebo hoje é justamente a negação da realidade, preconizando-se a invenção de um mundo particular recheado de sonhos e vontades de como gostaríamos que as coisas fossem, tudo isso para que se busque uma imagem original, diferente, particular e “autoral”. A fotografia está sendo tratada como uma ferramenta de ilustração apenas. Estamos customizando o mundo para que ele caiba em nossas vidinhas ordinárias. Estamos cada vez menos fotografando e cada vez mais pintando papel. Nada contra a pintura de papel, apenas acho que existam métodos menos limitados que a fotografia quando o assunto é a expressão individual e o retrato de mundos que habitam apenas os nossos sonhos. Por que não se tenta a pintura, o desenho, a própria arte eletrônica então? Talvez porque nessas áreas sejam necessários anos de treino para que se chegue a um nível básico para o estabelecimento de uma troca de idéias. Mas o mundo hoje não tem tempo a perder, certo? Vai de “fotografia” mesmo, pois ela é rapidinha de aprender e facinha de fazer.

    Acredito, porém, que é nessa dependência do real, esse defeito que a fotografia carrega quando vista como ilustração (como é difícil dirigir toda uma cena, como é difícil extrair do arquivo original as coisas que não estavam lá originalmente), que reside justamente a maior, e talvez a única, virtude de nosso ofício: o que está impresso no papel realmente aconteceu. Mesmo quando a cena é encenada, foi encenada de verdade. Aquelas pessoas são reais, o chão é real, o céu e a gravidade, igualmente reais. Negar a realidade é negar a própria fotografia. Daí a minha opinião de que só a interferência do real é capaz de transformar uma imagem em fotografia.

    E o que é a interferência do real? Bom, isso quem decide é a própria realidade. Ela é quem coloca as coisas na frente da câmera, cabendo a nós uma simples interpretação do que foi colocado.

  37. Ótima entrevista e belíssimas fotos!
    Gostaria de fazer uma pergunta. É sobre o seguinte trecho:
    “Para que a fotografia exista, acredito que a interferência da realidade deva ser, fundamentalmente, o núcleo do trabalho. Fora disso, tudo é apenas arte eletrônica ruim.”
    Que tipo de interferência é essa? Uma pessoa passando, por exemplo? Ou os pássaros refletidos na poça dágua? E quando não tem ninguém na foto, nem gente, nem animal, só um detalhe de uma paisagem urbana, por exemplo? Também há essa interferência da realidade?
    Na verdade essa não é bem uma dúvida, é mais uma vontade de ver essa frase ser desenvolvida.

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