O Recife que Getúlio viu

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Foto: Hart Preston/LIFE

Carregamento de açúcar sendo descarregado no Cais da Alfândega, Recife (1940)

Hoje, foi publicada, no Jornal do Commercio, uma matéria que escrevi sobre as fotografias do Recife que estão no acervo da revista Life no Google. Detalhes, aqui.

Para a página do jornal em PDF, clique no link ao lado: recife-na-life

Alexandre Belém

Da Editoria de Fotografia

Fotos inéditas do Recife dos anos 40 reveladas nos arquivos da revista Life

Em outubro de 1940, as manchetes do Jornal do Commercio eram sobre os duros bombardeios alemães em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, no dia dezoito de outubro, as notícias mudaram. O então presidente da República, Getúlio Vargas, iniciava uma visita de três dias ao Recife e o título da matéria do dia dezenove era o seguinte: “Homenagens excepcionaes foram prestadas ao presidente Getulio Vargas, á sua chegada, hontem, a esta capital. Congregaram-se, todas as classes, para saudar ao chefe da nação, num ambiente de enthusiasmo e vibração patriotica”. Infelizmente, os recifenses não puderam ver as fotos da visita nas páginas do Jornal do Commercio, pois, o uso de fotografia era bem limitado nos jornais da época. Agora, passados sessenta e oito anos, algumas fotos dessa visita são descobertas na internet.

As fotografias fazem parte do acervo da extinta revista norte-americana Life que está disponibilizando todo o seu arquivo no site do Google, desde o último dia dezoito. O fato poderia ser só mais um arquivo de pesquisa na rede se não fosse a importância histórica da revista Life, que se confunde com a história mundial ao ter sido uma das mais importantes testemunhas das mudanças nos últimos dois séculos.

Ao buscar entre tantas temáticas que marcaram a trajetória da publicação, encontramos oito fotos do fotógrafo Hart Preston, que estava acompanhando o presidente Vargas pelo Brasil. O correspondente da Life aproveitou a cobertura e registrou algumas cenas relevantes do Recife. O impacto em ver tais imagens é causado, sobretudo, por sua importância documental. Três imagens chamam bastante a atenção e, num primeiro momento, pode-se pensar que o fotógrafo estava apenas interessado em cartões postais, por se tratar de pontos como o Cais da Alfândega, Avenida Martins de Barros e Praça da República. No entanto, nessas imagens, Preston retrata trabalhadores, como um vendedor ambulante de bananas, estivadores e alguns homens descansando numa sombra em frente ao Teatro Santa Isabel. Sem dúvida, o olhar estrangeiro do fotógrafo foi determinante para a escolha de seus registros.

 O arquivo fotográfico da Life conta com mais de dez milhões de fotografias, muitas, nunca publicadas. O Google já colocou na internet cerca de 20% e está digitalizando o restante. Semanalmente, serão inseridas novas imagens e a previsão é que em fevereiro de 2009 todas as fotografias estarão online. Para facilitar a pesquisa, na página inicial existem algumas sugestões pelo ano e por assunto, como por exemplo: pessoas, eventos, lugares, etc.

Na página da Life no Google, a riqueza das fotografias é impressionante. Por ter sempre priorizado as grandes reportagens, a Life conta com um arquivo diverso que vai dos retratos de personalidades aos grandes acontecimentos políticos e sociais. Pesquisando mais profundamente, encontra-se coberturas fotográficas de históricos fotógrafos, como Henri Cartier-Bresson, Cornell Capa, Gordon Parks, W. Eugene Smith, Lee Miller, entre outros. O desembarque dos Aliados na Normandia, em 1944, foi feito para a Life por nada menos que Robert Capa, lendário fotógrafo de guerra.

As fotografias estão com uma resolução que permite ampliações em torno de 10×15 centímetros e um serviço interessante que está sendo oferecido é a possibilidade de comprar as imagens ampliadas em papel fotográfico de boa qualidade e emolduradas. Por enquanto, o Google não determinou nem criou regras para o uso das fotografias. Segundo o release divulgado pela empresa, o uso não comercial está liberado.

A revista Life foi fundada em 1883 como publicação de assuntos gerais e, a partir de 1936, virou uma revista especializada em grandes reportagens, tendo o fotojornalismo como sua marca registrada. Circulou como revista semanal até 1972, quando começou a ser publicada apenas em edições especiais até 1978. Virou mensal entre 1978 e 2000. Em 2004, como suplemento semanal, foi encartada em vários jornais nos Estados Unidos, saindo de circulação definitivamente em 2007.

FACILIDADE

Hoje em dia, um bom lugar para encontrar livros esgotados ou raros são os sebos na internet. Como também, blogs e sites de música são os lugares ideais para encontrar aquele disco fora de catálogo que só saiu em vinil. E um texto ou tese acadêmica para enriquecer a sua bibliografia? Bibliotecas on-line de centenas de universidades espalhadas pelo mundo. Tudo ao alcance de um clique.

A parceria Google-Life não é uma iniciativa pioneira. Em janeiro, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos disponibilizou parte do seu acervo no Flickr. A Divisão de Iconografia da biblioteca possui 14 milhões de imagens. No site da instituição, em torno de um milhão de fotografias estão disponíveis para pesquisa e download. Por trás da parceria com o Flickr, está a idéia de popularizar o acervo e criar ramificações mais profundas na web. Este mesmo motivo levou várias outras instituições, respeitáveis e históricas, a lançarem páginas no Flickr, como por exemplo, a Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), a Biblioteca de Tolouse (França) e a George Eastman House (Estados Unidos).

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