“Lampadinhas coloridas”

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Líderes do MST presos após saque no agreste pernambucano, 1998

Foto: Alexandre Belém

Este post precisa de uma introdução: Estou com ele pronto já faz uns dias, porém, ainda não havia montado (foto, links, pdf). Com a publicação dos posts Não tem lógica nenhuma e Segura aqui… Fica melhor assim…, finalizei correndo e coloco agora.

Algumas conexões…

Lendo os comentários de um post no blog da Cia de Foto, esbarrei em um texto do fotógrafo e crítico Eder Chiodetto, publicado no site da Arfoc-SP, que achei super pertinente. Na realidade, o texto “respondia” umas críticas que ele recebeu sobre um outro texto publicado na Folha de S. Paulo.

O texto na Folha de S. Paulo é fechado para assinante. Por isso, coloco o PDF aqui: exposicao-reflete-a-crise-que-o-fotojornalismo-enfrenta-hoje

Isso tudo foi no começo de 2007! Só li, agora!

Trecho do texto publicado no site da Arfoc-SP: […] recorrer sem critérios a lampadinhas coloridas e gelatinas no flash, fotografar pela enésima vez o político fazendo gracinha para a lente e outros cacoetes manjados, argh! Não dá mais! […]. Leia na íntegra o texto, aqui.

Beleza. Mais conexões.

Lembrei na hora da entrevista que li do fotógrafo Maurício Lima no site da ABI. Mauricio é repórter fotográfico da France Presse em São Paulo.

[…] Existem profissionais que deveriam dar e ser exemplos, […] Das fotos de atletas mordendo medalhas nos jogos Pan-Americanos, 95% foram feitas a pedido de fotógrafos. São expedientes que atingem de forma negativa uma profissão originalmente romântica e apaixonante […]. Leia na íntegra, aqui.

Tem uma pergunta que deve sair em entrevista futura por aqui. Engraçado é que elaborei esta pergunta bem antes de ler o texto de Eder. São os acasos da vida. Adianto e faço para vocês, leitores do blog:

Atos corriqueiros do dia a dia de um repórter fotográfico, como por exemplo: pedir para um político repetir tal gesto, tomar outro gole de um suco, um atleta “morder” uma medalha no pódio, isso tudo tange questões éticas? Ou não? Quais são as preocupações éticas que um repórter fotográfico deve ter na sua rotina diária?

Comentários 25

  1. Tenho acompanhado essa e as outras discussões aqui no Olha, Vê faz um tempo sem qualquer manifestação. Às vezes por falta de tempo, às vezes por acreditar que é melhor ler e aprender. Mas meus dedos estão coçando para entrar nas reflexões, nem que seja para só para colocar mais dúvidas.

    A questão: o que é um fotojornalista? Poderia render um livro do tipo Folha Explica: O Fotojornalista, mas não creio que iria chegar a uma explicação satisfatória. Já que talvez não chegue lá, continuamos tentando que a graça principal é essa! Tentar.

    Somos fotógrafos. Trabalhando para jornal ou não. Seja frela ou assalariado. Contamos histórias através de imagens. Jornalista com máquinas fotográficas.
    Seja o acidente de carro ou retrato da atriz que estréia sua nova peça. O real está lá, mas creio que total fidelidade do real só se o nosso olho fotografasse! E ainda sim teria interferência do direcionamento da nossa cabeça, miopia, etc.

    Pedir para um político repetir tal gesto, tomar outro gole de um suco, um atleta “morder” uma medalha no pódio não é um questão só ética é estética também. O que isso realmente informa o leitor? O que há de novo? Assinatura de um contrato só tem valor histórico, porque o ato de assinar um documento é mesmo seja em qualquer cidade! E quem me garante que aquele papel é mesmo o oficial que está liberando a verba? Nesse caso é tudo encenação. Acredito que a história por trás disso deve ser contada. Quem vai ser beneficiado? O bairro de palafitas? Ótimo! Vamos lá ver. As interferências posteriores, como filtros na frente da lente, lentes que distorcem faz parte de onde tua cabeça direciona o teu olho. Agora, pedir para a garotinha ir brincar no esgoto porque ela te disse que ela costuma brincar ali, isso está errado. Você está simulando um fato, está arriscando a vida de uma garota para ter uma boa foto! Não é questão do que é ou não real é uma questão moral (não gosto muito dessa palavra, soa meio reacionária). E aí mora o dilema ético. Sei que é batidinha, mas “a moral do jornalista deve ser a mesma do marceneiro” do Cláudio Abramo encaixa perfeito nesse exemplo.

    A foto da assinatura do papel não deveria nem ser feita (exceto algo de extrema relevância como tratado paz de verdade entre israelenses e palestinos), é chatice, diz no texto que eles assinaram pronto. Mas aparece no jornal sem essa foto que teu editor vai querer justamente essa.

    Criamos a estética da notícia quando fechamos o enquadramento na lente, no photoshop, laboratório PB, que seja. Mas criar a notícia não deve ser nosso dever. (bonita essa ultima frase ficou meio épica né? rs. mas acredito nela mesmo assim).

    Alexandre Obrigado! Teu blog tem me ajudado muito mesmo. Se desse te patrocinava! Mas só posso te pagar umas cervejas quando “tu vier” para Santos ou quando der uma passada no Recife.
    Abraços

  2. KKKKKKKKK alvirrubro coitado é pau né Pio 🙂 depois que teu Ex-port pegou a gripe suína ta cheio de neguinho contaminado por ai… Mas futebol né assunto pra esse blog não, é assunto pra quando tu vier aqui em Recife e for participar da velha e boa pelada do Canal Futebol Clube a gente conversar e eu botar tu pra dançar… já sabe né? se vier de vez corre o risco de levar no meio das pernas ou então tomar um banho.rsrsrsrs 😛
    Voltando ao assunto fotografia:
    Quando você diz que A VU, por exemplo, dizia em slogan “O texto conta a história, as fotos provam”, a grande maioria dos veículos de comunicação ainda comungam deste pensamento e de outras regras, utilizadas conforme a conveniência do momento. Os discursos da conveniência, isso sim é uma realidade.
    Acho que temos de não nos conformar com a situação e tentarmos dar outro sentido a fotografia em qualquer que seja o veículo. A internet por exemplo tem se mostrado uma ferramenta bastante eficaz, em aproveitamento, congregação, difusão. As redes sociais estão ai, nós estamos aqui. Acho que do novo sempre surge o novo, mas o velho também tem condições de se reinventar. Esse sim é o xis da questão dos jornais de hoje. Sempre falo em jornal pois é nele que trabalho atualmente.
    Acho que o vídeo que Auler fez por exemplo, serve até pra diferenciar e dizer que ele realmente é fotojornalista, pois se fosse um fotógrafo apenas, não teria a noção de que aquilo era notícia. Ele estava largado do trabalho, indo pra casa, com a sua maquinazinha na bolsa, viu a cena, fotografou (demos na capa do JC) e filmou também, o JC Online botou no ar na internet, olha ela a internet ai de novo, esse foi o meio pelo qual vocês viram o acontecimento. \O jornal impresso foi as ruas. Isso é comprometimento. Então vamos cunhar uma nova terminolgia que poderia ser webreporterfotojornalista, isso seria o novo, já existe o video-reproter.
    E por falar em novo, um mercado novo se anuncia, é o mercado de fotografia que estamos vivendo dentro ou fora do jornal. Novas relações trabalhistas entre fótógrafos e empresas já são uma realidade. A expressão fotojornalista foi cunhada dentro das redações, pelo povo (língua certa do povo, língua errada do povo), foi criada para designar os fotógrafos que estavam dentro dos jornais… nos velhos tempos, mais uma questão de semântica. Que pena não terem adotado o termo canetinhas para repórteres de texto.
    O fato de utilizar a fotografia como ferramenta de informação é ser fotojornalista, independente de estar dentro ou não do jornal. Eu posso comunicar e nada informar, mas posso comunicar informando sempre algo. Tudo se depende do contexto e não da coveniência. É o que acho.

  3. Oi Anderson,

    que bom seu comentário.
    Precisava para resgatar a discussão.
    Fui tão infeliz no meu útlimo, que findei por constrager Belém.
    Coisas da escrita rápida. Até Arnaldo achou que estava pegando no pé dele.
    Veja bem, o único motivo que teria na vida para implicar com Arnaldo, seria pelo fato dele ser Alvi-rubro, coitado…Fora isso, uma pessoa que conheço de tempos.

    A imagem do “choque de frente”, não gosto, pois parece que somos duas massas sólidas em sentido oposto, por um mesmo caminho.
    Não é o caso.
    Penso que quando nossas opniões se encontram elas reveberam, se fazem maiores.

    Uma coisa que me faz militante do Olha,vê, até quando falta fôlego para isso, é que precisamos trocar idéias. Simples.
    E nessa troca se aprende muito, inclusive as regras de trocas.

    É bobo a gente não valorizar essas discussões nem aprimorá-las.
    Temos que aprender a termos tempo para elas.
    Esse Blog aqui, é um dos melhores lugares de fotografia hoje no país. E só não é melhor pelas recusas em se participar dele.
    Quem achar que é pouco, está por fora.

    Voltando ao post.

    Começo dividindo um pensamento que a realidade existe sim, mas no campo das idéias. Um mundo em preto e branco é um mundo imaginado. E daí real pois depois de imaginado, pimba! Passa a ser real. É assim.

    Se colocássemos essa questão para um exemplo bem simples, chegaríamos na máxima, “Deus existe?”.
    Pensamos nessa questão de forma bem simples. Nossa reposta seria não, óbvio.

    Mas quantas mortes no mundo se baseam nessa virtual existência?
    As torres gêmeas são resultados dessa crença, na real existência de Deus.
    E isso determina nossas vidas. O nosssos acordos sociais, Anderson, todos eles, se baseam na existência de Deus. O nosso prazer e culpa, os nossos medos. Boa parte da miséria do mundo.
    E é mentira pois, Deus não existe?
    Parar para pensar o que é realidade é dizer que Deus não existe apesar de suas causas e efeitos.

    Em um mundo real, Deus existe.

    Mas daí em um papo terreno, volto para questão colocada sobre o que é fotojornalismo? Quando começou?

    Uma colocação sua é bem bacana: boa parte do que fazemos em jornal não é fotojornalismo. Poxa , aqui a gente anda.

    Esse Blog por exemplo, é de um repórter fotográfico.
    Como funciona isso? O trabalho de Belém aqui no Olha, vê é jornalismo(apesar de convecionalmente remunerado).
    Se sim, é fotojornalismo?
    Talvez não porque ele quando faz o blog nem sempre fotografa.
    Então hora seria, hora não.
    Mas daí tem uma função em fotojornalismo, que é de edição.
    Nos Jornais, a maioria do editores não fotografam. Então nesse caso eles não são fotojornalistas? Então Belém editar notícias em fotografia, sendo ele um fotojornalista faz disso aqui um trabalho de fotojornalismo?

    Se nossas estatíticas tiverem certas, e claro que aqui a gente permite especulações; Se 90% dos 85% de pautas diárias de um jornal não são fotojornalismo, o que é então?

    Quando a fotografia entrou em um veículo de comunicação, talvez tenha sido para noticiar a existência da própria fotografia. Depois vem o uso corriqueiro na imprensa com máquinas que não tinham mobilidade, era um peso danado fazer uma foto para um impresso.

    Nos jornais diários, diz-se que foi em 1904, no Daily Mirror, que uma foto deu o ar da graça. Décadas depois de revistas ilustradas, que publicavam fotos desde 1880.
    -quando fui para Editora Abril aprendi que ali faria “jornalismo em revista”eita, deixei de ser fotojornalista nessa época(?!).-

    Quando a fotografia entrou para o jornalismo diário, mudou a concepção, a relação com a notícia.
    O leitor passou a apreender diferente.
    Foi quando surgiu a necessidade de um editor de fotografia, um cara para dar sentido a essa relação de texto, imagem e notícia. Foi quando criaram um função para “prender” o leitor.
    A VU, por exemplo, dizia em slogan “O texto conta a história, as fotos provam”.

    Foi a demanda por imagens para os veículos impressos que se criou e se estabeleceu a profissão aqui em pauta. E até 1930 não se tinha o conceito de reportagem fotográfica. Não havia até aí, a narrativa fotojornalística.

    Nessa época, um pouco antes de 1930, surge Eric Salomom, e cria a tal da mobilidade e mais a idéia de testemunha ocular que fotografa sem ser notado. Foi dele também a idéia de agência de fotos, a primeira delas, a Delphot.
    Ele tinha por lá por essa agência, Kertesz e Brassai, só como exemplo de parceiros da empreitada.

    O Nazismo botou todo mundo para correr e Eric Salomon foi morto em Auschswitz.
    Um dos que correram foi Andrei Friemann que, com sua amada Gerda Taro, criou um coletivo chamado Robert Capa(!)
    Nessa época ele e sua amada criaram o personagem Robert Capa, que tinha o poder de fazer fotos sendo duas pessoas.
    – Tá vendo só? E a Cia de Foto ainda sofre em assinar coletivamente mesmo depois de Capa…-

    Depois de Capa, vem isso que a gente conhece um pouco mais, não é ? Magnum, Life, Time e a vida como ela (quase) é.

    E vem mais a utilização das fotos coloridas na Guerra do Vietnam. Tem quem diga que os fotógrafos passaram a fotografar a Guerra do Vietnam em cor como protesto, como arma de concientização da sociedade americana para acabar com o conflito.

    Mas hoje nossos jornais são coloridos. Por quê?

    E hoje, mais hoje ainda, a Guerra volta a ser fotografada em P&B por que Pellegrine prefere criar uma ficção, uma trama reflexiva em ambientes de conflitos.

    Paollo Pellegrine é fotojornalista?
    Quando trabalha no Iraque ou nas véspera do Oscar, fazendo retratos para Revista do NY Times e tendo sua fotos pós-poduzidas pela 10 b?

    Aliás, uma empresa de pós-produção para o mercado mundial de fotojornalismo com sede em Roma. Muito World Press passa por ali. Magnum, Noor, VII, passa pela 10B. Pelo bom photoshop dos amigos Italianos. Incluisve guerra, tráfico, imigrações clandestinas, África, mortes, posses de presidentes. Tudo ganha um estética forte e pós-produzida na 10B.

    E isso, é fotojornalismo?

    O slogan da 10b é: “You press the button, we do the rest” Já ouviu isso antes?..

    Seu P&B é seu mundo imaginado. E é fotojornalismo?

    O que é isso? O que é ser um fotojornalista?

    O lance é que tudo é ética, inclusive a lembrança.

    Eu não lembro de ter entendido, em mais de 15 anos pensando sobre, o que é fotojornalismo.
    Dia desses vi, no querido JC de Recife um vídeo de um acidente de carro onde um menino de 15 anos é socorrido, em vão, pelo avô. Quem fez, foi Alexandre Auler. Ele é fotógrafo do jornal.
    E esse vídeo, é um trabalho de fotojornalismo? A notícia me impressionou pois sempre morreu meninos dirigindo feito loucos(me desculpem os loucos) em Boa Viagem. E o vídeo, foi um acerto.

    A Time nas últimas vezes que nos pediu um assignment , nos pediu vídeo também.

    Mas o bacana é compartilhar dúvidas, não é verdade? Aqui estão algumas das minhas.

    bjs

  4. Oi Clício,

    Excelente você ter exemplificado, tornado real, a idéia já levantada aqui do poder associado a imagem. Perfeito o caso dos cordões de sapato. Gostaria só de acrescentar que acredito ser esse poder muito mais associado ao canal de publicação de massa do que à imagem em si. De qualquer maneira, em fotografia de publicação, essas duas coisas interagem e se misturam. E dessa interação vem um outro sinal de alerta: muitas vezes esse poder não é exercido pelo agente da imagem, mas pelo agente da publicação.

    Oi Pio,

    Mais um daqueles posts onde nossas idéias vão bater de frente, hein? 🙂 Mas antes do choque, gostaria de dizer públicamente o que já te disse pessoalmente outro dia: vocês sempre foram, e cada vez mais o são, referência no meu trabalho, pois mesmo pensando a fotografia de um jeito com o qual não me identifico, vocês chegam à resultados que eu muito admiro. Você não imagina o quanto isso me faz pensar.

    Voltando então ao seu post:

    1. morder medalhas é o mínimo do mínimo no que tange a ética jornalística. É um caso tão insignificante que só vale ser discutido se tomado como mero exemplo, eufemismo, de toda a capacidade de distorção de um raciocínio que a fotografia é capaz de fazer. O poder de reverberação pública de uma imagem de publicação é muito, mas muito maior que isso. E os seus estragos também.

    2. sobre quem dessa lista tem condições de estabelecer questões éticas, diria que todos e ninguém. Ninguém estabelece nada sozinho – somos animais sociais e a fotografia é um produto disso, da sociedade. Todos, contudo, tem o direito e o dever de contribuir para que essas questões sejam estabelecidas. Como? Exatamente assim, colocando em debate as verdades individuais, para que coletivamente as verdades sociais sejam estabelecidas.

    3. 85% das pautas da Folha são retratos. Esse dado, solto assim, não transforma todos esses retratos em fotojornalismo. Colocando em números, diria que 92% desses 85% de fato não o são. Fotojornalismo não é toda a foto que aparece no jornal e sei que você sabe disso. Mas é exatamente essa confusão que leva tantos de nós a dizer que existem dois tipos de fotojornalismo: o que dá pra mexer e o que não dá. Como nada é somente ou um ou outro, vira e mexe um fotografo mexe onde não deveria mexer e dá o maior bafafá. Bafafá que acaba sobrando para todo mundo. Quantas vezes já ouvimos que o personagem da notícia não vai falar porque o jornal distorce tudo?

    4. concordo que a realidade, a verdade, a ética, enfim, toda a série de valores imateriais que gravitam em torno do que chamamos fotografia são conceitos subjetivos e mereçam certa dose de reflexão, de questionamento e de relativização, Minha bronca vem, contudo, do excesso de relativização que às vezes tenta se dar a questões mais práticas e simples. Claro que o real é subjetivo, mas isso não quer dizer que ele simplesmente não exista, nos liberando para chamar qualquer coisa de real. É claro que ética é um assunto incrivelmente complexo, mas isso não pode impedir que ele seja discutido e, principalmente, exemplificado. Não são verdades, são opiniões. Não são teorias, são exemplos. Como já começamos a discutir em outra ocasião, eu sou um cara excessivamente prático e sei que minha prática me leva muitas vezes a reduções perigosas. Sei que o real é mais complexo que o que simplesmente acontece à minha volta, mas procuro olhar para isso como quem olha para a física newtoniana. Ela é simplificada, imperfeita e, portanto, errada. Mas, em nosso mundo, no mundo prático, ela funciona. E funciona muito melhor que a relatividade ou a quântica justamente por ser simplificada e ir direto ao ponto. Acho que a relatividade levada a realidades onde ela não é realmente necessária acaba por imobilizar o pensamento ao invés de expandi-lo, fazendo com que não entendamos porque a maçã cai, fazendo com que ela fique caindo em nossa cabeça o tempo todo.

    5. para concluir, tenho muito medo de que essa relativização exagerada acabe colocando a farinha do Patrick Farrell e a do Klavs Bo Christensen num mesmo saco.

    Patrick Farrell aqui: http://www.miamiherald.com/1401/story/1008735.html

    Klavs Bo Christensen aqui: http://olhave.com.br/?p=1875

  5. Não queria comentar (pois já o fiz no post anterior, “Não tem lógica nenhuma”), mas quando chamado não costumo refugar.
    Portanto…
    O meu olhar sobre o fotojornalismo é um olhar estrangeiro. Como todos, este olhar é romantizado, idealizado; e como todos, equivocado. Porém tem uma vantagem; como não está contaminado pelas mazelas do dia-a-dia dos que neste universo vivem, ele pode ser mais curioso, mais descompromissado, mais arguto e macro.
    Sou um flâneur das redações.
    E o que noto é o afogamento do pensamento frente as inúmeras pressões que o ofício impõe aos seus assalariados.
    A ética e os compromissos começam ao se escolher ser fotojornalista, e como bem disse o Ivan, passam pela reflexão de como seu trabalho altera a percepção de realidade do leitores; uma fotografia não se completa (não existe) sem o observador, sem o leitor; e é aí que a responsabilidade de quem produz esta imagem é enorme.
    Vou dar um exemplo prático, verdadeiro. Durante muitos anos trabalhei para a Editora Abril, nas revistas femininas, fotografando moda e beleza. Particularmente, mas com o endosso de autores como Claudio Marra (“Nas sombras de um sonho”), sempre considerei a fotografia de moda uma fotografia documental, que traz com ela aquela responsabilidade de que falei acima. Um dia, fotografando uma matéria para uma revista de adolescentes, em locação, a editora descobre que o cabeleireiro havia se esquecido de trazer os elásticos para prender os cabelos das meninas; em um momento de inspiração (misturado ao desespero), ela decidiu usar os cadarços dos vários pares de sapatos esportivos coloridos que estavam disponíveis na produção, substituindo assim os elásticos faltantes nos cabelos das modelos. em dois meses a revista foi para as bancas, e em duas semanas literalmente todas as meninas daquela faixa etária, leitoras da revista, usavam cadarços de tênis para prender os cabelos.
    Fiquei apavorado com o *poder* que aquelas imagens que eu produzi tiveram para mudar o comportamento de uma multidão de adolescentes.
    O mesmo aconteceu com a foto da camisinha com a Luana Piovani, que generosamente a Abril incluiu em sua exposição na FAAP, e que mais generosamente ainda o Versiani publicou no Pictura Pixel, mais precisamente em http://www.picturapixel.com/?p=6840. Influenciou toda uma geração em formação, para o bem (espero).
    Pois é nisso que temos que refletir. No poder das imagens em influenciar pessoas, para o bem e para o mal, e na responsabilidade que temos ao produzi-las. E se, enfim, devemos produzi-las a qualquer custo.

  6. Por favor, um esclarecimento.

    A pedido de Pio, algumas correções no comentário foram feitas (por ele) e re-postei o novo comentário, com as correções.

    Copiei + colei.

    Agora, o comentário da Cia está o ORIGINAL = o primeiro comentário.

    No blog, os comentários entram direto. Existem regras quando têm muitos links para filtrar spams.

    É comum o autor do comentário solicitar correções ortográficas e gramaticais, que são gentilmente feitas.

    Sigamos.

  7. Eu penso que há alguns certos momentos e há, também, outros certos momentos. Explico melhor, todos nós sabemos que existem horas de produzir e hora de não produzir, até porque muitas vezes seria impossível. Como Arnaldo falou, enfrentamos todo tipo de pautas, as factuais mas também fazemos gêneros foto-publicitários…. gastronomia, moda, retrato de personagens especiais produzidos para cadernos de cultura, etc, etc, etc….

    Acho que cabe a cada um de nós tentar agir eticamente nesses dois tipos de situação, lembrar que na rua, durante as fotos, os editores somos nós, e que no jornal tudo o que tiver disponível para ser publicado com seu nome só vai estar se você fotografar e depois deixar na pasta.

    Devemos também pensar em ética na hora de disputar aquelas pautas caóticas e acirradas. Não “derrubar” o outro, ter cuidado pra fazer o seu bem feito mas sem atrapalhar os outros. Evitar copiar ideias ou sacadas pessoais do “concorrente” desnecessariamente e descaradamente, entre outras coisitas mais.

  8. e só comentando o trecho “…de que nenhum ambiente jornalístico brasileiro é exemplo irretocável de ética.”, concordo plenamente. Como dizia Chateubriand, quer ter voz monte seu próprio jornal. Mas o fato de não sermos donos de jornais, mas sim funcionários, não deve fazer com que não enfrentemos a maré. É difícil, as vezes cansa, falta fôlego. Mas é só descansar e seguir em frente.

  9. Tranquilo galera, vamos em frente, faz parte da discussão. Outra questão que pode render um bom papo foi o que Belém me mostrou aqui e ele bem que poderia fazer um post (posta Belém, posta) é darmos uma olhada nas fotos da capa do Estadão e Folha de hoje. As fotos são as mesmas só que com cortes diferentes. Ai se levanta outra questão, os cortes indiscriminados em fotografia para atender ao diretor de arte, editor do caderno ou para suprimir elementos não desejáveis na foto pela ótica deles. Esse é outro calo diário.

  10. Oi Arnaldo,

    deculpe a grosseria de tê-lo citado. A intenção não era personificar essa discussão.

    É que o exemplo dos termos que se usa em redação são muito bons para exemplificarmos o quanto as questões éticas são complexas.
    E também para nivelarmos o que se está dizendo, partindo de uma autocrítica: de que nenhum ambiente jornalístico brasileiro é exemplo irretocável de ética.

    Por favor releve a parte do comentário que faz uma menção específica ao que vc disse. Não foi ético tê-lo citado.

  11. Esqueci no post anterior. Belos comentários Ivan, Anderson como sempre mandando muito bem e Clício, você que está só lendo e não quer opinar, faz as tuas coloações também ai. O fato de não estar dentro de um jornal num o exclui do debate, fala das tuas impressões enquanto fora das redações.
    Legal pra todo mundo que gosta de foto.

  12. Chama-se de boneco o boneco, de portrait o portrait ? existe diferença um do outro?
    Quando a a CIA, por exemplo é chamada pra fazer um personagem ou um ensaio para um cliente, não tendo nas costas o compromisso diário que os “profissionais da casa” tem de, as vezes fazer até seis pautas num dia para, fazer um jornal que todo dia parte do zero…resultado, a Cia faz um Portrait e o fotógrafo que num é da Cia faz um boneco, é isso? Não, o problema é que a palavra portrait (retrato) é mais bonita que boneco (termo pejorativo!!!). É apenas questão de semântica.
    Ao chegar para trabalhar dentro de um jornal (o colega Pio bem sabe disso, pois já fez parte de alguns diariamente) você assina um contrato para cumprir as pautas que receber. Às vezes são tantas pautas que o cara num tem tempo de fazer uma foto bem elaborada (Portrait?) e faz uma simples registro (Boneco?). É questão de escolha estar dentro de jornal ou não e respeito isso. As coisas estão mudando, lentamente, mas estão, e só com a batalha diária daqueles que realmente fazem um jornal vai se conseguir mudar isso. As Editorias de Fotografia já conseguem fazer suas equipes e se impor pelo trabalho, é não ficar calado sem dar um pio (eita, foi mal pelo trocadilho). Ainda se está bem longe, mas com a discussão a gente chega lá. Se Deus quiser.
    As pautas especiais, o nome já diz, são especiais. A questão é quando se faz uma pauta unica e exclusivamente para se ganhar um prêmio (coisa muito comum hoje em dia), e outra é quando o prêmio vira consequencia da pauta (cada vez mais raro)
    Queria que alguns canetinhas (alô pessoal da CIA, num queiram pegar no meu pé por causa do termo “canetinha” que usei, em tempo informo que isto é um termo usado para se designar o reporter de texto), entrassem aqui e lessem, dessem suas opiniões também, pois ainda são eles que comandam as redações.
    Isto posto, vamos em frente

  13. Oi Belém,

    o texto de Éder é muito bom, pricipalmente se contextualizarmos que foi feito na época em que ele ainda exorcisava a Folha de SP…

    Anderson, uma grande ideía seria tentarmos responder algumas perguntas: Como começou o fotojornalismo? Em que momento se colocou fotos em publicações e porque?

    Se conseguirmos responder isso bem, o que é difícil, talvez tenhamos parâmetros para um entendimento da questão.

    Não se define ética em fotojornalismo por retratar a vida com ela é.
    Se anseia por formarmos um profissional ético. E isso é mais complexo.

    Os fotojornalistas de nosso país são formados pelos Jornais. Que ética se faz daí. Que mundo ético se aprende numa escola chamada Jornal Diário?

    Hoje, 85% das pautas da Folha de SP, por exemplo, são retratos. Não são “bonecos”,são retratos! A gente sabe a complexidade de se fazer um retrato, ou será que não? Talvez não saibamos.
    Mas por que se faz retratos no fotojornalismo? E porque essa é a maior demanda? E sendo a maior demanda porque Arnaldo e um monte de colegas chamam de “boneco”?

    Quem dessa lista tem condições realmente de definir questões éticas?
    A questão é extamente a sua complexidade, e uma postura na gente de se colocar aprendendo e não determinando.
    O que pode ou não pode não se define por doutrina mas por reflexão.

    Morder medalhas é o mínimo. Mas o quase inexistente mínino dessa questão.

    ” A questão ética começa quando o fotojornalista toma consciência dos efeitos de seu trabalho na criação da mentalidade do público. Se ele não é consciente disso, sequer há uma questão”. Gol, Ivan!

    Ou como Belém destaca do texto de Eder: “sair da redação com a pressão de trazer um caderno vendável e que ganhe prêmios, é uma realidade.”

    Opa! Aqui sim algo que se define como realidade!!

    bjs.

  14. Anderson, Clicio e Ivan:

    Na minha opinião, Anderson tocou num aspecto bem atual das redações: o termo “fotojornalita” e “repórter fotográfico”. No dia a dia das redações, quantas pautas são foto-jornalismo? Quantas são editoriais de moda, culinária, portraits (bonecos), economia, etc?

    Seria o termo “fotojornalista”, generalizadamente usado, errado? O News Phographer tá fazendo buraco, engarrafamento, protesto de dez gatos pingados, etc. Pegar uma viagem de dez dias para fazer uma reportagem fotográfica é bem raro. Sair da redação com a pressão de trazer um caderno vendável e que ganhe prêmios, é uma realidade.

    Acho que o texto do Eder toca um pouco nisso.

    Tô pensando alto… Que não me escutem…

  15. Oi Clício,

    Pois é, eu achei que essa discussão estava começando e então comecei. Só agora vejo que ela já havia começado bem antes, lá no post do “não tem lógica nenhuma”. Minha postagem ficou bem repetitiva depois do que já havia sido discutido por lá. Bem, acho que você deveria opinar aqui sim, pois levo muito em conta as suas opiniões. Levamos todos, eu diria. E não ser do ramo talvez seja até uma vantagem aqui. Concordo com você quando toca na responsabilidade do fotógrafo em checar os fatos que vai noticiar. Não basta não alterar, é preciso checar se não foi alterado. Se serve para o Noblat no caso da brasileira agredida por neo-nazis na Suiça, não tem porque não valer para mim. Claro que falar é mais fácil que fazer e muitas vezes erramos. Até Noblat errou, puxando um efeito-cascata (nos dois sentidos desse termo) em toda a imprensa brasileira.

    Oi Ivan,

    Legal o seu ponto de mostrar que a discussão de ética jornalística vai muito além do comportamento do profissional em campo. Trabalhamos em uma indústria que luta para continuar existindo e, para tanto, parece estar disposta a vender fácil a sua própria razão de existir. Junto isso com o que o Arnaldo falou, onde ele nos dá uma imagem bem de dentro de como é feito um jornal: o Arnaldo, muito pertinentemente, faz questão de diferenciar o fotojornalismo hard-news do fotojornalismo de suplementos, aqueles de gastronomia, moda, informática, turismo. Talvez isso não faça tanto sentido para quem, como diria Clício, não é do ramo, mas essa diferenciação apontada pelo Arnaldo é hoje, arrisco dizer, o grande fiel de balança dentro da cabeça do fotógrafo de jornal. Tem fotos que a gente é demitido por mexer e tem fotos que a gente é demitido por não mexer. Nossa garantia de sobrevivência é saber diferenciar uma da outra.

    E pensando assim, lutando pelo nosso emprego, muitas vezes não percebemos o óbvio, que é o fato do problema todo começar justamente aí, nessa diferenciação. Olhando de fora, como o Ivan faz, fica claro que há muito tempo os jornais deixaram de trabalhar exclusivamente com fotojornalismo. O fotojornalismo de suplementos não é fotojornalismo, é fotografia editorial. E essa fotografia editorial e editorializada, aos poucos, está encontrando espaço e o ocupando nos outros cadernos todos. E digo que isso não porque não existam maneiras de se fazer jornalismo quando o assunto é culinária, mas sim porque os suplementos de jornal foram feitos para vender jornal e então, logicamente, a foto que se espera em um suplemento é uma foto de venda, ou seja, de propaganda.

    De vez em quando essa duplicidade de procedimento dá um tilt, os caminhos se cruzam, o fotógrafo arma o que não deveria ser armado e acaba levando toda a culpa pelo fracasso da credibilidade jornalística.

  16. Transcrição do Ex-Blog de hoje (trechos)
    ———————–

    28 de maio de 2009

    JORNALISMO COMO MÁQUINA DE PRODUZIR MANCHETES! E INTERNET!

    Artigo de José Luis Pardo, catedrático de Filosofia na Univ. Complutense de Madrid (Las garrafas y el vino del perodismo), publicado em 26/05 no El País. Trechos.

    1. O que costumamos chamar de sensacionalismo não é uma deformação perversa e tardia de uma imprensa reta e objetiva na origem, mas uma de suas tendências naturais. É muito mais provável que a retidão e a imparcialidade sejam um logro evolutivo. Deve estar na natureza do jornalismo lutar contra a principal característica dos tempos modernos, que é um flexível continente que admite em seu interior toda classe de conteúdos.

    2. A busca de manchetes sensacionais substitui a força da opinião pública. Obcecada por notícias e entretenimento, a imprensa abandona o que garante a sua autonomia. Esta indiferença sobre os acontecimentos em si, é a manchete do jornal, que tenta chamar a atenção do leitor potencial, de que ocorreu algo extraordinário, algo fora do comum, coisa verdadeiramente inaudita, numa época em que tudo parece rotina.

    ——–

    4. O jornalismo desempenha na história moderna a tarefa de articular a opinião pública, vale dizer, construir uma esfera civil de autonomia na qual os cidadãos deliberem sobre as decisões políticas, econômicas ou culturais que afetam as suas vidas e, na qual podem exercer a crítica sobre o comportamento dos diversos poderes, apoiando-se em informações confiáveis sobre os mesmos. Essa é a função da imprensa, que pode efetivamente se opor à indiferença e o amálgama da temporalidade moderna, pois é ela que produz imediatamente hierarquias e vínculos conceituais entre os conteúdos, que obrigam a distinguir-se da simples propaganda, do negócio ou do engenho publicitário, porque é a única que garante a sua autonomia com respeito a essas outras esferas de influencia dos poderes.

    5. Quando hoje se debate sobre o futuro do jornalismo e se trata quase exclusivamente da questão dos continentes (digital x analógico, tela x papel) e da dimensão empresarial do negócio informativo (e a busca frenética de publicidade) e poucas vezes dos conteúdos, a imprensa vai, paulatinamente, abandonando sua função sistematizadora da esfera pública, fugindo do juízo crítico, renunciando a hierarquia da informação e assumindo sua dependência com respeito aos poderes.

    6. É um sintoma que pode levar a se ver no final de sua profissão, que o jornalismo como máquina de produzir manchetes, devorou o jornalismo como articulação da opinião pública em uma sociedade democrática.

    7. Neste momento estamos ocupadíssimos com os continentes e com a publicidade, com os portáteis e os celulares. E não é por culpa destes, se não de algumas decisões políticas e profissionais, pelas quais, os jornais, que devem ser os lugares naturais daquelas discussões, estão se tornando insuportáveis, literalmente, inviáveis em qualquer suporte.

  17. Olha só, Belém. Não sou sequer fotógrafo profissional, mas sou, há bastante tempo, pensador das questões da produção da verdade midiática. Então, vou falar desse ponto de vista, e por favor, entenda assim, visto que não sei da prática do reporter fotográfico.

    Estritamente em um sentido da produção da verdade midiática, pedir para repetir o gesto ou para morder a medalha é criar uma verdade midiática distinta da verdade factual. Isso para mim é grave, explico porque abaixo.

    O conjunto da mídia opera teoricamente para informar, mas na prática ele passa ao ser humano normal um sistema de valores. Ele não informa, ele na verdade forma a idéia que o público tem da vida. Digamos o atleta medalhista. Ele tem, evidentemente, júbilo em obter uma medalha. Mas seu júbilo tem manifestação própria, referente à sua personalidade, etc. Mostrar esse júbilo próprio seria dar ao público uma dimensão da humanidade do atleta. Mas ao se mostrar o falso júbilo, da moeda mordida, está se oferecendo um clichê de júbilo, e assim “ensinando”, pois a mídia ensina, ao público como se espera que o júbilo seja demonstrado. Se está cultivando no público o gosto pelo exagero e pela mentira, pelo falso, pelo clichê. E esse culto chega a tal ponto que o júbilo verdadeiro não é mais suficiente, não é mais reconhecido como júbilo, parece “sem graça”.

    Além da presença da reportagem já alterar o contexto, a produção de imagens-clichês torna a fotografia-reportagem uma forma de propaganda de modos de vida, e o pior, vendida como verdade. Em outros termos, a saturação do público com clichês é alienante, ajuda a manter o homem preso a cadeias de imaginação sobre o que é o sucesso, o que é o afeto, o que é a felicidade (o que é o bem, o que é o mal) etc.

    A questão ética começa quando o foto jornalista toma consciência dos efeitos de seu trabalho na criação da mentalidade do público. Se ele não é consciente disso, sequer há uma questão. Mas se ele é consciente ele pode pensar se deseja propagar o mundo-clichê ou mostrar o mundo em sua peculiariedade, despindo-se da facilidade do clichè, e aí, perdoe-me a comparação, praticando um karma-yoga da perfeita atenção aos acontecimentos em seus aspectos sutis.

    Mas essa ética é uma ética pessoal, pois só quem procura se desanestesiar pode mostra aos demais um mundo desanestesiante. Não se pode condenar eticamente a busca por clichês, pois isso virou uma prática do mundo. Toda a escolha do indivíduo é em ajudar a propagar isso ou não. Podemos sim dizer que a prática do clichê sempre produzirá uma fotografia menor, vulgar, banal, porque é uma fotografia meramente confirmativa de mentiras sociais sobre a vida.

    No caso dos políticos e seus gestos, aí junta-se duas produções de falsidade, associadas por conveniências distintas. O fotógrafo quer poupar trabalho, fazer logo a foto da pauta, sem precisar ficar prestando atenção no político por longo tempo e sem depender do acaso. O político repete o gesto porque quer ser visto daquela maneira. Nenhum dos dois quer mostrar verdadeiramente algo acontecido, é uma encenação dupla.

    Na postagem seguinte vou reproduzir um trecho do Ex-Blog do César Maia de hoje, por acaso exatamente sobre a produção de manchetes.

  18. tenho duas opinioes: como jornalista axo um absurdo mexer na cena desse jeito. amo os fotojornalistas e axo um trabalho do cacete, mas manipular o melhor angulo soa um falsidade tremenda. mas rende capa, ne?

    como ex atleta, digo que eles gostam disso, porque quando estive no mundial de taekwondo eu mesma vi milhoes de atletas amando fazer essas poses, porque é midia! se nao, eles diziam na cara como diogo silva fez ao receber seu premio no pan.

    acredito que no dia a dia de jornal é importante ser fieil ao que se estpa vendo, um registro real do fato, se nao nao é jornalismo.

  19. Eita que este post serve pra cutucar feridas… Ótima provocação Anderson (O cabra não só fotografa pra cacete, como tem o dom da escrita).
    Tive a oportunidade de ir ao PAN e presenciar a cena que o Maurício Lima falou “beija a medalha”, “morde a medalha”, e depois virou piada, pois já gritavam “chupa a medalha”… Eu tava, lá e fiz uma cacetada dessas fotos, tava dentro de um chiqueirinho junto com outros trocentos fotógrafos, tinha de registrar esses falsos gestos, não tinha sido eu quem pediu para os atletas fazerem tais gestos, quanto vale uma imagem dessa? Nada.
    É, o maior inimigo da categoria é a própria categoria, por conta de uns acaba-se denegrindo a imagem de todos. Como comentei no post “não tem lógica nenhuma”, tem muito repórter fotográfico (eu disse repórter fotográfico) diretor de cena, que deveria fazer cinema mas insiste em fazer fotojornalismo.
    Logicamente, que temos de diferenciar o fotojornalismo hard news (porrada do dia a dia) do fotojornalismo para suplementos (cultura, gastronomia, informática, turismo…), não vamos generalizar. Quem trabalha em jornal se depara com pautas de tudo quanto é tipo.
    – No fotojornalismo de Suplementos acho válida a utilização de luzinhas coloridas, efeitos…caso você ache que a sua foto vai precisar. Tudo depende do autor. Se eu decido que minha foto final (seja prato, boneco, povo-fala) precisa de algo extra, me utilizarei de artifícios. (O fim acaba justificando o meio)
    – No hard news, sejamos o mais fiel ao momento possível, sem interferências e manipulações, quase não sendo notados no local, procurando não ser o diretor de cena… Seja apenas olhos e ouvidos. É melhor calar besteiras que falar bobagens já dizia um professor que tive.

  20. Belém,

    Como te disse, não vou opinar.
    Vou calar.
    E vou ler tudo o que postarem aqui, para ver se o meu ponto de vista inocente deixa de sê-lo.
    Hipocrisia, nesse caso, não a tenho, pois nunca trabalhei em jornal e muito menos em jornalismo.
    Então só me resta aprender com quem é do ramo!
    🙂

  21. Belém, estou super-corrido por aqui e fica difícil responder a todos os posts que acho interessantes. Acho que falo por todos quando digo isso.

    Contudo, acho também que a principal preocupação ética que um repórter fotográfico deve ter na sua rotina diária é, no mínimo, pensar sobre as questões éticas que estão envolvidas em seu ofício. Como desdobramento desse raciocínio, diria que participar desse exato post é, ainda que em meio à correria das redações, uma preocupação ética. Espero que nesse parágrafo também esteja falando por todos quando digo isso.

    Deixemos a inocência e a hipocrisia de lado: na rotina diária, mexemos bastante nas cenas que fotografamos. Mexemos por que, em primeiro lugar, não pertencemos à cena e, no entanto, lá estamos nela. Mexemos porque tiramos coisas do quadro, porque colocamos coisas no quadro, porque imobilizamos uma vida que é puro movimento. Mexemos porque enquadramos o que não é quadrado, porque desfocamos, porque alteramos a perspectiva das coisas, mexemos quando transformamos uma coisa de três dimensões e cinco sentidos em outra de duas e um. Mexemos inclusive quando, apesar de não pedirmos para mexer, nos escondemos atrás da câmera num gesto caracteristicamente fotográfico e esperamos as coisas aconteceram por si só, numa espécie de pedido mudo de “façam alguma coisa para eu fotografar”. Mexemos também quando pedimos para não mexer, alterando a ordem natural das coisas e a própria vontade do homem de colocar um tijolo em cima da televisão.

    Bem, como disse, a inocência e a hipocrisia a essa altura já devem ter ido totalmente para o brejo. Ótimo. Somos todos agora seres conscientes de que a realidade deixa de ser real quando é fotografada e, então, estamos livres, leves e soltos para exercitarmos a nossa arte fotográfica da maneira mais expressivamente pessoal possível, certo?

    Eu acho errado. Se somos ou não artistas, isso é subjetivo; mas somos fotógrafos, e isso é totalmente objetivo. Essa desculpa de que podemos mexer em tudo já que invariavelmente mexemos em algumas coisas simplesmente não cola. Mexer deliberadamente em uma cena é mexer no que a imagem tem de mais sagrado, o seu vínculo com o real. Por mais insignificante, inofensiva e até “didática” que a mexida possa parecer, ela sempre arranha a credibilidade de seu autor. E credibilidade, no jornalismo, é a única coisa que temos.

    Deixando novamente a hipocrisia, agora já sem inocência, de lado, todos sabemos que um fotógrafo de jornal é um profissional empregado e, portanto, sujeito não só a pressões éticas, mas também a pressões hierárquicas, editoriais e empresariais. Não pretendo aqui promover a revolução à custa de empregos alheios, pretendo com essa entrada somente pensar e fazer pensar em situações onde se possa mudar de rotina sem mudar de profissão. E talvez essa mudança possa começar justamente aqui, respondendo a esse post.

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