O fotógrafo Toni Pires está em Madri (Espanha) para acompanhar o PhotoEspaña e, com exclusividade, estará enviando material para o Olha, vê.
O PhotoEspaña é um dos mais conceituados e badalados festivais de fotografia do mundo.


Toni Pires – Madri
Nem chegou o verão e Madri já está pegando fogo, sim o calor bate recordes, e a cidade recebe ao mesmo tempo uma grande Feira de Livros e a XII edição do PhotoEspaña.
O evento vai até o dia 26 de julho. São 72 exposições, com obras de 248 artistas de 40 nacionalidades. 31 das exposições fazem parte do circuito oficial, no entanto, a cidade baila ao ritmo do “cotidiano”, tema do festival de fotografia deste ano. Que pelo segundo ano consecutivo é coordenado por Sérgio Mah. A realidade como tema central, nada melhor do que poder mostrar o dia-a-dia, nossos pequenos personagens, nossas pequenas histórias e por que não nossas grandes causas. Que o mundo é um cenário e somos todos atores já dizia Schkespeare.
O PhotoEspaña deste ano tem a ousadia de criar o seu “Theatrum mundi” onde converte a fotografia em uma metáfora social.
A visão de mundo como um cenário teatral implica em duas vertentes. A primeira, a exigência de um olhar adestrado, de especial sensibilidade, capaz de destacar o extraordinário em um cotidiano normalmente plano. A segunda é uma introdução de uma ordem, visual, social, de significados, no caos do mundo. Para escrever neste teatro da vida de humildes e poderosos, primeiro ha que se saber contemplar ao redor de um mesmo. Mas também há que saber dotá-lo de uma certa ordem, cênica, visual e moral.
Não parece difícil transportar esta ideia de mundo como um grande cenário teatral para o campo da imagem. A fotografia do cotidiano surge de um paradoxo, o primeiro é pretender construir-se em um reflexo quando o que faz é reproduzir uma ordem social pré-estabelecida, o cenário agora é o meio da rua e o “meio” é a câmera fotográfica. A segunda é apresentar um discurso visual sobre o que se vê, o que ocorre, quando, na realidade é o que não ocorre, ou ocorre poucas vezes. A função do fotografo não é captar imagens do ordinário, do trivial, e sim ser capaz de captar o extraordinário neste contínuo banal, e capturar o instante ou a situação capaz de dar sentido a uma cena.
A tentativa de compreender o mundo como um grande teatro nos abre espaço no intento de buscar e compreender novas formas de ver.
E foi com este intuito de ver o mundo de formas tão diferentes que ontem, dia 03 de junho, com a presença da presidenta de Madri, os Príncipes de Astúrias, ministros e diversos fotógrafos que oficialmente foi aberto o PHE no Jardim Botânico, em Madri.
Alguns dos destaques da mostra oficial e da paralela são:
Ugo Mulas (1928- 1973) – Na sala de exposições de AZCA do BBVA, mais de 100 imagens do artista autodidata que investigou, levado pela curiosidade, as possibilidades criativas das fotografias. Passei pela sala hoje pela manhã e a montagem estava um primor, belíssimas ampliações. Durante mais de 20 anos de carreira, Ugo passou pela reportagem, pelos retratos de famosos e pessoas comuns, imprimiu um toque singular na publicidade fugindo da objetividade e orquestrando o conceitual, como na série Verifiche (1968-1972) em que trabalhou em seus últimos anos de vida.
Sua passagem por Nova York, em uma época de explosão artística, lhe renderam fama de extraordinário retratista e critico de arte que afronta a natureza da obra artística com todas suas implicações, sem limitar-se a função documental do disparo.
Dorothea Lange (1895-1965) – Uma das mais esperadas no festival, teve uma curadoria exemplar feita por Olivia Maria Rubio, que conseguiu trazer as principais obras da fotografa, mas “temperou” a exposição com imagens pouco conhecidas de requinte visual que nos faz, como dizem os Madrileños: “flipar”, ficamos boquiabertos.
Passei a tarde no “Museu de Coleções ICO” e pude perceber o grande capricho e cuidado técnico ao afinarem as luzes para a abertura da exposição que conta com 138 imagens que passam pelo clássico trabalho realizado nos anos 30-40 como o retrato da “mãe imigrante” que deu a volta ao mundo, fotografia tão atual em tempos de crise e globalização.
E amanhã abre a mostra “Dias de Glória” de Sergey Bratkov, na sala Canal Isabel II, no espaço Comunidade de Madri.
Também passei pelas salas de exposição e para meu espanto, tudo, literalmente tudo estava pronto para a abertura que só ocorre amanhã. O trabalho de Sergey está influenciado e marcado por um realismo referente a obra do artista Ucraniano Boris Mikhailov. A miséria em sua cidade, Charkov, aparece refletida em um trabalho de realismo radical. Com a ironia que lhe é pertinente. A exposição inclui 140 fotografias e vídeos que mostram o trabalho do fotógrafo desde 1990. A curadoria de Thomas Seelig foi muito bem feita, mas sem ousadia, encontramos na exposição os clássicos das séries Kids, Soldiers, Secretaries, entre outras. As série de panorâmicas de My Moscow é um agradável tempero nesta curadoria.





Óla Toni.
Seus textos são como suas fotos: nos levam ao que os olhos não conseguem ver. Vão além do mundo real mostrando os desafios, as consquistas, as sutilezas que nem todos podem enxergar.
Imagino como está o seu cotidiano, no cotidiano desse festival: uma tempestade de idéias.
Madri deve estar pegando fogo não só pela temperatuda ambiente, mas por sua imaginação, voando longe!!!
Aguardo você para saber mais …
Obrigada por permitir te acompanhar, ainda que de longe, nos seus vôos.
Abraços.
Pitty
Parabéns Alexandre, é bom ser seu blog sempre renovado.
Um abraço
Luiz Aureliano
Maravilha Belém, poder acompanhar as impressões do Toni Pires sobre a PhotoEspanã.
Estarei dando uma passada por lá e vou ter que priorizar algumas exposições, mas, não vou perder o chinês Zhao Liang, que trás a realidade da China utilizando as intermídias: fotografia, video-arte e cine documental.Como também o circuito Off que apresenta a diversidade nos fotógrafos :Gilbert Garcin , Jeff Cowen e Cristina Middel.
VIVA a Fotografia e os festivais!!!
Abs, e obrigada por compartilhar
Roberta
Toni e Alexandre,
Obrigado por nos oferecer um canal de informações tão útil e ao mesmo tempo agradável de se acompanhar.
Agora me permita discordar do Toni quando ele diz em seu texto que “não é função do fotógrafo captar o ordinário, trivial”.Acredito que tanto o trivial quanto o extraordinário tem um papel fundamental na fotografia. O instante e sua captura, o olhar sobre esses momentos, e mesmo o corpo de um determinado trabalho é que irão determinar a sua importância e utilização.
Aí podemos estender a discussão… ;-))
Grande abraço!
sempre bom passar por aqui e se informar do que há de melhor no mundo da fotografia, hein! adoro esse blog!
bjos