Por Miguel Chikaoka.
Oi Alexandre,
Juro que, durante esse tempo que passou, lembrei-me de muitas fotos que aprecio, mas curiosamente não se deu o “insight”…
De repente, O Vento!
Portanto, se possível enquadrá-lo na seção, O Vento, do Manoel de Barros, é uma foto que eu queria ter feito.
O VENTO
Queria transformar o vento.
Dar ao vento uma forma concreta e apta a foto.
Eu precisava pelo menos de enxergar uma parte física
do vento: uma costela, o olho…
Mas a forma do vento me fugia que nem as formas
de uma voz.
Quando se disse que o vento empurrava a canoa do
índio para o barranco
Imaginei um vento pintado de urucum a empurrar a
canoa do índio para o barranco.
Mas essa imagem me pareceu imprecisa ainda.
Estava quase a desistir quando me lembrei do menino
montado no cavalo do vento – que lera em
Shakespeare.
Imaginei as crinas soltas do vento a disparar pelos
prados com o menino.
Fotografei aquele vento de crinas soltas.
Por Manoel de Barros, in Ensaios Fotográficos, Editora Record (2000)
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