Marco A. F.

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Fotos: Marco A. F. – Ensaio “Esse não sou eu” (2010-2011)

Um arquivo de fotografias familiar passa por distintos procedimentos, tradições e percepções. Atendem a desejos, objetivos e funções. Descrevem certezas por um momento, mas instauram a dúvida em outros tempos. Pensar sobre si mesmo, através dos retratos de infância, pode traduzir-se dramaticamente em sentimento de ausência por uma vida narrada em imagens que não circulam em nossa memória.

Então, uma fissura sem sentido surge no imaginário dos seus próprios retratos. Logo que vi estas doze fotografias, colocadas na mesa por Marco A. F., de uma maneira que parecia buscar certa aritmética, pensei: “É como se ele tentasse lembrar um sonho…”. E em poucos segundos, estava diante de um mosaico litúrgico, repleto de buscas e caminhos. Com voz pausada, o autor disse: “São fotos da minha infância”. O título? Esse não sou eu.

Compreensivelmente, por um lado, há os que se apropriam do álbum de família como documento (em ato de atestação), do outro, há os que escavam essas imagens pelo ímpeto da subjetividade (da dicotomia de pertencer, mas de não lembrar). Para estes últimos, pesquisar, pensar e refotografar é compreender a fragilidade da imagem em nossa identidade.

Justamente assim, em Esse não sou eu, a escrita da história do protagonista é suavemente redefinida, ou melhor, reconduzida. A vivência em pensar sobre tais imagens é aproximada nos enquadramentos, editada cuidadosamente, como se tentasse enxergar o mistério de ter sido entre uma e outra fotografia.

O trabalho de Marco é lindo, não só pela plasticidade, pelo tom magenta que nos desloca para um outro espaço, mas por nos fazer acreditar que algo guardado com amor nos ajuda a compreender quem somos. Lewis Carrol, numa missiva para certa menina, escreveu: “Se você acredita em tudo, começa a fatigar os seus músculos-do-acreditar, e depois fica tão cansada que não é capaz de acreditar nas verdades mais simples”. “Esse não sou eu” faz parte dessas verdades mais simples.

Por Georgia Quintas, março de 2011.

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BIOGRAFIA

Lajeado (RS), 1984

É fotógrafo e estudante de jornalismo.

Começou a fotografar em 2002 durante uma crise existencial adolescente. Na época, sonhava em desvelar as misérias e alegrias do mundo para a revista National Geographic. Atualmente, prefere pensar a fotografia como uma forma de investigar e expressar questões internas, trabalhando principalmente temas autobiográficos.

Fez parte do grupo de fotografia Khaos, tutoriado pela professora e fotógrafa Jacqueline Joner. Realizou as exposições individuais “Infiltrações: o desenho da água” (T Cultural Tereza Franco, Porto Alegre) e “Só” (Unisinos, São Leopoldo). Participou das coletivas “Graziela, brasileira, viúva, RG 1023330102” (Galeria dos Arcos, Porto Alegre), “África em nós” (Museu Afro Brasil, São Paulo), “Fotograma Livre” (3° FestFotoPoa, Porto Alegre), entre outras.

Atualmente vive e trabalha em Porto Alegre.

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