Foto: Priscilla Buhr – AutoDesconstrução
Às vezes, acordo com sede.
Uma sede diferente.
Do tipo que imaginamos que os outros nos supra.
Talvez, o cansaço, o ritmo da vida e das imagens me faça esperar que o outro me atinja, me toque de alguma maneira.
Tenho absolutamente certeza disso: é sede.
Ultimamente, padeço por ter vontade, desejo, esperar.
Esperar que alguém abra as cortinas e diga: – Veja, fiz isso.
E eu, no silêncio, reconheço, que foi um belo e encantador meio de seguir respirando.
– Consegui que você abrisse seus olhos, disse meu interlocutor.
Nem sempre sou assim, ou melhor, sinto tanta sede.
É que a minha vida bebe na fonte das imagens. Fotografias são a minha alegria.
Viver a fotografia nesse tempo elástico e líquido é uma batalha diária. Informações, referências, bombas que caem todo segundo inundando os olhos.
Minha rotina mudou, converteram os hábitos, a dinâmica do fazer.
Começo a pensar que dormi demais, perdi o tempo.
E quando acordei… Bem, quando acordei, só sentia sede.
Usaram tudo que eu tinha, tudo de criativo que podia oferecer.
Reconheço que os processos passaram a ser um bem valioso, uma verdadeira obra.
Alguns trabalhos revelam uma imensidão de vontade que extrapola o processo e sai do próprio desejo de produção.
Mas, porque criamos? Por que sou tão vital para os outros?
A sede responde isso.
– Onde está o ímpeto cirativo?, me pergunta certas pessoas todos os dias.
Nem sempre me escutam. Mas sigo respondendo.
– Em algum lugar, quem sabe, na razão do sentido que você atribui às suas imagens.
Quando percebem que sou a criação, volto a sentir sede. Como de um simples copo d´água.
Criar é predizer com imagens o que sonhamos.
* Texto publicado na revista S/N edição 15 com tema “Sede”. Ilustramos o texto com fotos de Priscilla Buhr. Detalhes, aqui.